O governo federal é inovador. Chama de nova aquela política que havia sucumbido décadas atrás e que volta na forma de cala-bocas, imposições e extermínio de vozes contrárias. Inova também ao abrir frente de batalha contra o vice-presidente, eleito conjuntamente e, supostamente, partícipe do programa de governo. E, por fim, atualiza os valores de compra de deputados. Antes eram os 200 mil reais da emenda da eleição, e o suposto mensalão, de 30 mil reais. Agora, o pacote é fechado em 40 milhões e não se fala mais no assunto.
Nem no pior dos mundos se imaginava que a ideologia seria o alicerce das distensões no governo atual. E uma ideologia sem fundamentos, quase infantil, baseada em mentiras e teses anacrônicas. Saudades dos tempos em que progressistas e liberais travavam verdadeiras disputas ideológicas que contribuíram para a construção do País, não para sua destruição. O homem lá no Palácio não é apenas mau: é mal assessorado, mal intencionado, mal formado. Um malandro, portanto. Na mescla de milícias com palácios, sobram os males e os piores para o povo.
No tocante à educação, aumentou a frequência de violência contra professores. A política de inclusão dos governos anteriores trouxe, junto com o aluno, o mundo em que o ele vive para dentro da sala de aula. Escolas como os Institutos Federais se preocuparam em manter um corpo técnico de pedagogos, psicólogos e assistentes sociais para lidar com a vulnerabilidade dos estudantes. Cabe verificar separadamente como é o índice de violência nessas escolas. Nada adianta discutir a injustificada agressão ao professor se suas causas não podem ser estudadas e mitigadas. Mas não é essa a postura governamental para lidar com o assunto, podendo até piorar o que já foi realizado de positivo até aqui.
Ainda que pouco efeito surtirá em um governo que se consulta com astrólogo, é de suma importância a afirmação de que se faz de que as universidades públicas fazem pesquisa. Para não sucumbir à crítica leviana, é bom dizer que são vários os índices e avaliações internacionais que atestam a primazia da pesquisa científica realizada nas universidades públicas brasileiras. E se a dúvida é sobre a qualidade do trabalho realizado, basta ver, por exemplo, que a Unicamp depositou mais patentes do que as empresas sediadas no país, Petrobras aí incluída. Mas, como educação se voltou às práticas olavetes e ciência e tecnologia foram para o espaço, o desmonte do sistema construído é evidente.
Nesse sentido, são interessantes os argumentos de parte do empresariado nacional no tocante a uma educação de qualidade, vista como investimento no futuro. No entanto, a educação não pode ter o viés exclusivamente utilitarista, pois o aprender de forma robusta e ampla dá base para lidar com várias situações da vida, incluindo a profissional. As profissões do futuro mais relevantes são aqueles que ainda nem existem e, portanto, para as quais não há formação específica.
O autor é pesquisador da Unesp em Rio Claro - [email protected]