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13/11/18 07:00 - Opini�o

Sergio Moro - trabalho e autorrealiza��o

Pedro Grava Zanotelli

Um dos princípios que fundamentam os objetivos do Rotary é o reconhecimento de valor de toda ocupação útil. O sentido de útil, aqui, é o de trabalho, que tanto pode ser o remunerado, como o voluntário. Em ambos os casos o que motiva a pessoa a dedicar-se a ele são as suas necessidades, assunto que os administradores encontram bem apresentado numa escala hierárquica feita por Abraham Maslow. Para esse psicólogo judeu americano, a motivação acompanha o nível das necessidades das pessoas em sua mobilidade social. No nível mais baixo estão as necessidades básicas de moradia, alimentação, roupas, saúde, educação etc.

Na medida em que estas são satisfeitas surge a necessidade de garanti-las de forma permanente, é a necessidade de segurança. Uma vez garantida a satisfação dessas necessidades, passam a ser desejados passeios, diversão, participar de um clube etc., é a necessidade social, que, por sua vez desperta a necessidade de amizade, respeito, prestígio - é a necessidade de estima. Por último, no topo, a autorrealização pessoal, a necessidade de aproveitar o seu potencial e realizar algo maior, que dê um sentido de completude em sua vida.

A subida nessa hierarquia varia entre as pessoas, há os que nem chegam a sair das necessidades básicas, lutando a vida inteira para sobreviver; os que sobem até a participação social; alguns que já começam no nível da estima e os que queimam etapas e chegam ao ápice da pirâmide. Este é o caso do juiz Sérgio Moro, cuja atuação na Operação Lava Jato revelou o seu potencial de crescimento para almejar a algo maior que a nobre missão de juiz. E aqui há um detalhe, nem sempre considerado na hierarquia de Maslow, que podemos chamar de predestinação, o surgimento de oportunidade inesperada, que no caso foi a eleição de Bolsonaro.

Se o eleito fosse o Haddad, hoje o juiz Sérgio Moro estaria amargando o desapontamento de ver o pessoal do PT preparando a transição para acabar com a Lava Jato, soltar o Lula e reiniciar o aparelhamento do Estado. Sob a ardilosa promessa de garantir três refeições diárias aos pobres, estariam escolhendo as ratazanas que colocariam, de novo, nos celeiros públicos.

Felizmente o novo presidente acertou na mosca, como disse alguém, e o juiz viu abrir a porta para continuar a sua missão com maior abrangência da luta contra a impunidade, atingindo, além da corrupção, outros focos de práticas criminosas que vêm se alastrando pelo país. Com tantas riquezas naturais e com economia robusta, que garante uma respeitável arrecadação tributária, a maioria da população vive em situação semelhante à dos países mais pobres do mundo. A sua riqueza está nas mãos das gangues do crime organizado, tanto dos grupos armados como dos camuflados nos serviços públicos e em poderosas organizações. O dinheiro que falta para saúde, educação, segurança, transporte, habitação e saneamento básico está com eles. Esse é o legado dos últimos governos e reverter essa situação é a desafiante missão do novo governo.

As informações sobre a carreira de Moro dizem que ele se inspirou em Giovanni Falcone, que nos anos 80/90 combateu o crime organizado na Itália, na operação 'Mãos limpas', levando para a cadeia mais de 200 mafiosos. Falcone era do fórum de Palermo, na Sicilia e pediu transferência para um posto secundário no Ministério de Justiça em Roma, sob a alegação de que as investigações precisariam ser mais abrangentes. Isso lhe custou sacrifícios e mais esforço, porque além de caçar e julgar os criminosos tinha que lutar contra seus defensores. Na Suprema Corte de Roma precisou enfrentar um juiz famoso por libertar dezenas de condenados, o que lhe valeu o epíteto de 'juiz mata sentença'. As semelhanças com a situação da Lava Jato não são mera coincidência.

As opiniões sobre a decisão de Sérgio Moro são desencontradas. Há os que dizem que ele fez besteira em interromper uma carreira sólida por uma posição política sem segurança. Há os que dizem que poderá ser o fim da Operação Lava Jato, mas também há um bom número dos que têm esperança que ele venha a prestar um grande serviço para o Brasil, dando ao novo presidente o suporte jurídico que vai precisar.

Abraham Maslow diz gostar de uma frase dele mesmo: "O que não vale a pena fazer, não vale a pena fazer bem feito". O contrário é o que leva à autorrealização e é por isso que o juiz Sérgio Moro chegará à autorrealização continuando a fazer bem feito o que vale a pena fazer, agora de forma mais abrangente.

O autor é ex-presidente da Ordem dos Velhos Jornalistas de Bauru.





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