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23/09/18 07:00 - Opini�o

Algoritmos que nos perseguem

Zarcillo Barbosa

Os algoritmos estão cada vez mais presentes no nosso dia a dia, são cada vez mais centrais, mais indispensáveis à nossa vida. Você precisa ter noção do que essa palavra significa. Sem confundir com um tal de logaritmo, que o professor no ensino médio, dizia facilitar cálculos relacionados com a trigonometria. Serviu para me complicar com a Matemática. Deficiência minha.

O algoritmo existe há 1.300 anos, criado por um árabe cujo nome pronunciado tem o mesmo som desse rótulo. Fui ler sobre esse tipo de operação, de raiva. Sem mistificações, Charles Leiserson ensina - "Nada mais é que uma receita para atingir um dado resultado". Qualquer pessoa pode somar dois números, por maiores que eles sejam, usando a sequência de passos ensinada a todas as crianças na escola. No caderno, a gente ia somando os algarismos da direita para a esquerda, juntando a cada uma dessas somas o valor do transporte da soma anterior (o famoso "e vai um", "e vão dois"). Isso é algoritmo.

Existem, literalmente, milhões de algoritmos diferentes, que resolvem os mais variados problemas. Algoritmos fazem carro andar sem motorista. Dão conta de milhares de outras questões. Para cada problema do mundo físico que possa ser descrito de forma clara, bem definida e estruturada é, em princípio, possível projetar um algoritmo que o resolva. Com o advento de computadores cada vez mais rápidos, os algoritmos resolvem problemas que afetam diretamente e de forma mais complexa a vida de todos nós.

Os profissionais de marketing, há muito se utilizam da informação obtida no Facebook para vender automóveis, roupa, pacotes turísticos e qualquer outra coisa, bombardeando o internauta com anúncios específicos. Se você curtiu a foto da sua amiga com a torre Eiffel no fundo, vai começar a receber oferta de passagens da Air France. A ferramenta foi usada para montar perfis psicológicos dos eleitores americanos, criando uma base de dados poderosa que ajudou Trump a sair vitorioso das urnas, na corrida pela Casa Branca em 2016. Conhecida a personalidade das pessoas que quer atingir, você pode adequar sua mensagem para ressoar de forma mais efetiva nesse público-alvo. O algoritmo permite que sejam feitos estudos de personalidade de usuários (perfil psicométrico), com base na informação que cada um posta nas redes sociais. Depois, é só mostrar na propaganda, que o candidato fulano é capaz de resolver todos os problemas que o aflige, uma vez eleito com o seu voto. A assessoria de comunicação de Donald Trump, acumulou uma base de dados de 50 milhões de pessoas. Esta seria a coluna vertebral da campanha de Trump nas mídias sociais.

Os computadores superam os humanos em juízos de personalidade. Apresentam oportunidades crescentes e desafios significativos nas áreas de avaliação psicológica, para se traçar estratégias de marketing, ou de escolha de candidato a emprego. Uma importante questão, analisada no último livro de Hannah Fry (Alô, Mundo), é se estamos delegando aos algoritmos decisões que não deveriam ser tomadas autonomamente por máquinas. Vimos em filmes de ficção científica, cenas de máquinas que se viram contra os humanos. Na vida real, robôs já mataram pessoas. Outro dia procurei uma receita de lula à dorê e, horas depois, começaram a aparecer propaganda do candidato do PT em todos os sites que abri. Se a receita para meus exercícios culinários fosse suflê de chuchu, provavelmente seria perseguido por mensagens do candidato do PSDB. Computador idiota... Escrevo "o Lula" e ele corrige para "a lula".

A nova legislação eleitoral não permite o impulsionamento de conteúdo, serviço oferecido pelas plataformas digitais, como o Facebook. É vedado aumentar e qualificar a visibilidade da postagem. O TSE já multou, pela primeira vez, um eleitor que declarou seu apoio a um candidato à presidência da República e pagou para que esse conteúdo fosse compartilhado pela internet. A propaganda é permitida, mas não se pode pagar para impulsioná-la. Até onde isso cerceia a liberdade de expressão, terá que ser discutido no Supremo.

O uso do algoritmo é um desafio tecnológico, mas também político e social. A utilização dessa ferramenta será cada vez mais intensa. Precisamos aprender a nos defender dos seus excessos, principalmente quando incompatíveis com os valores éticos e morais, essenciais ao bom funcionamento da sociedade.





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