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20/09/18 07:00 - Opini�o

A filosofia no pensamento de curto prazo

Gabriela Mazeto Manzan

O interesse pela filosofia costumava ser secundário em ambientes não acadêmicos, mais focados em resultado e não no pensamento. Há tempos vejo um movimento contrário, notadamente em veículos de comunicação, em eventos corporativos e destinados ao público em geral, onde a participação de profissionais acadêmicos é crescente, especialmente de estudiosos da filosofia.

Em reflexão sobre o assunto, vejo esse movimento como consequência do pensamento de curto prazo, já instituído em todas - ou quase todas - as relações humanas. No âmbito profissional, metas agressivas e constante cobrança por inovação, resultam no comprometimento de iniciativas que buscam resultado no longo prazo (embora nunca na história tenha se falado tanto em desenvolvimento sustentável). Nas relações pessoais, há uma resistência no aprofundamento das discussões e, ainda, um caráter maniqueísta nos discursos.

A reiteração da prática de divulgação de notícias falsas, dada a magnitude do poder de difusão de tais notícias, assim como a preferência por mídias digitais, o grande impacto da robotização no direito e medicina, por exemplo, em razão do avanço no processamento de dados, e a existência de plataformas, como a cbinsights.com, que utilizam inteligência artificial para filtrar dados e mostrar resultados que auxiliam na predição de oportunidades de negócio, são apenas situações que evidenciam o incontroverso domínio do pensamento de curto prazo nas relações humanas contemporâneas.

Qual a razão, então, para a popularização do interesse pela filosofia? O significado da palavra consiste no amor ao conhecimento, e a sua ciência busca compreender a realidade por meio de reflexões críticas teóricas.

Yuval Noah Harari, no livro Sapiens, aponta a "revolução cognitiva" como a principal prerrogativa do homo sapiens sobre as demais espécies, pois tornou possível sua conexão a uma espécie de organização ou rede única.

Dostoiévski, em sua obra Os Demônios, já apontava o aspecto dialético presente em todos os acontecimentos históricos, porém a humanidade aparenta estar em um estágio de desenvolvimento em que o banco de dados, tanto de perguntas como de respostas, é tão vasto que se faz necessária a evolução do pensamento como ciência, de modo que esses dados sejam processados pelo cérebro humano, para que então seja traçada uma nova meta de onde se busca chegar.

A autora é advogada com graduação e pós-graduação pela PUC/SP.





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