A popularidade do juiz Sérgio Moro está despencando - de 55% para 37%. É menor que a de Lula, o ex-presidente condenado - 54% para 45%. O levantamento é do Instituto Ipsos. Aconteceu, também, na Operação Mãos Limpas, na Itália. Inicialmente o apoio às operações era unânime. "Somos todos contra a corrupção". Depois a aprovação foi caindo. Os acusados de corrupção criaram a narrativa de que se tratava de uma operação política, não jurídica. Tudo não passava de perseguição à inocentes por questões políticas. Os investigadores e juízes eram ideológicos.
Ao que parece, no Brasil o caminho é o mesmo. Esse contexto de desaprovação a Sérgio Moro pode ter confortado a 2ª Turma do STF para impor uma série de derrotas à Lava Jato, há algumas semanas. Gleisi Hoffmann e Paulo Bernardo tiveram denúncias arquivadas. Quem acabou se enroscando, criminalmente, foi o ex-procurador Marcelo Miller. O ex-ministro Henrique Alves também foi para a rua. A decisão de primeira instância foi confortada pelo exemplo de Marco Aurélio Mello, do STF, que autorizou relaxar a prisão de Eduardo Cunha. O ex-deputado carioca permanece preso porque tem outra penca de condenações.
Essa inversão dos efeitos iniciais da Lava Jato deve ter encorajado o desembargador Rogério Favreto na sua tentativa de soltar Lula. Outros 143 habeas corpus "padronizados" foram impetrados em favor do ex-presidente. Todos rejeitados no Superior Tribunal de Justiça (STJ), pela presidente da Corte, Laurita Vaz. Houve até um esdrúxulo pedido, indeferido, para Lula fazer campanha dentro da cela. A ousadia cresce. De repente encontra-se um aloprado de plantão.
A campanha eleitoral deste ano terá diversos presidenciáveis e políticos disputando cargos no legislativo com discursos contrários à Lava Jato, e isso vai influenciar ainda mais o debate político. Há uma camada do eleitorado que, mesmo sem militar pelo PT, acredita que Lula está preso tão somente em virtude de liderar pesquisas e estar próximo às eleições. Uma parte do eleitorado pergunta o porquê de nomes de outros partidos, como Aécio Neves, não estarem presos também.
Na Itália, os políticos conseguiram a aprovação de legislações que enfraqueceram o poder de investigação do Ministério Público, o que permitiu a ascensão de Berlusconi. Minaram a autoridade dos juízes. Aqui, tramita no Congresso projeto de lei contra o Abuso de Autoridade. Enquanto não sai, a estratégia dos políticos insatisfeitos é de concentração de esforços na sequência de pautas-bomba. Uma espécie de terra arrasada para não permitir que o futuro presidente da República possa administrar, a menos que faça concessões generosas a deputados e senadores. As isenções fiscais aprovadas na semana, mais a permissão de aumentos salariais para o funcionalismo, oneram o Orçamento da União em mais R$ 100 bilhões. O déficit previsto na LDO já é de R$132 bilhões. Emenda introduzida no projeto de venda de ativos da Eletrobras, permitem às concessionárias de distribuição de energia a cobrar todas as perdas com furtos de luz, rateadas entre os que pagam suas contas em dia. Já existe gratuidade de conta de luz familiar de até 70 quilowatts-hora que custa mais de R$ 3 bilhões por ano ao governo. Voltaram as indicações políticas para postos de mando nas empresas estatais. O ministro Ricardo Lewandowsky proibiu a alienação de empresas públicas sem autorização do Congresso. Isto impede a Petrobras de vender ativos, mais rapidamente, para reduzir seu endividamento que custa US$ 7,5 bilhões de dólares anuais, somente em juros.
Há muitas teratologias (monstruosidades), geradas por malformações congênitas da nossa política. As empresas de transportes terão cancelados R$ 750 milhões de multas por interrupções das rodovias. Começam a ser conhecidos os números dos prejuízos durante o período de paralisação: a indústria teve uma queda de quase 11% na sua produção; comércio, 0,6% e serviços, 3,8%. O crescimento do PIB, previsto para 3%, não vai passar de 1,6%. O equilíbrio fiscal fica para o ano 2028.
Há os que estão dispostos a sacrificar o país com a aplicação da velha regra de que "os fins justificam os meios". A campanha difamatória contra a operação Lava Jato começa a dar certo. Outro dia, Juan Arias, observador do jornal espanhol El País, preocupava-se com a perda de medida da sociedade brasileira de distinguir o bem do mal. "A Justiça, aqui, tem muitas caras e a ética aparece doente e desprezada". Pela experiência do profissional, quando isso ocorre, a democracia padece e abrem-se as portas dos fantasmas autoritários.