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21/04/18 07:00 - Opini�o

Legado do Lula, mas que legado?

Pedro Grava Zanotelli

Os 'politicamente corretos', para evitar constrangimentos com lulistas, costumam acautelar seus comentários dizendo respeitar o legado do Lula. Já os lulistas não economizam palavras para dizer que foi o maior legado de um ex-presidente. Mas, que legado é esse? No seu discurso de despedida, antes de se entregar para ser preso, Lula disse que "Lula não é mais só o Lula, é uma ideia." Talvez se considere um Mandela, um Martin Luther King ou um Gandhi. O legado é o que se deixa em benefício de alguém ou de uma sociedade e que sobrevive ao doador. É o que acontece na África do Sul, nos Estados Unidos e na Índia, onde as bandeiras pacificadoras desses heróis continuam mantendo viva a defesa de milhões de seres humanos contra a odiosa discriminação racista.

O legado deve ser uma coisa boa, deve trazer um benefício duradouro ao legatário, que pode ser uma pessoa, uma instituição, um povo ou toda a sociedade. Até hoje a sociedade ocidental se beneficia do legado greco-romano nas línguas, costumes, filosofia e artes. A Fundação Rotária, a maior ONG humanitária do mundo, erradicou a poliomielite no plano mundial graças a legados e doações de fundações e milionários como Bill Gates, da Microsoft. E os incentiva recomendando: "garanta sua visão para o futuro estabelecendo um compromisso de doação à Fundação em seu plano de espólio". Em meados do século passado, as Irmãs Cintra (Valeriana, Jacinta e Delfina), sobrinhas do Barão de Campinas, legaram Cr$1.989.560,00 à Sociedade São Vicente de Paulo, de São Manuel, que por várias décadas sustentaram o Hospital da Santa Casa e o Abrigo dos Desamparados.

Tomado no sentido lato, não jurídico, legado abrange uma infinidade de espécies, mas a finalidade é sempre a mesma: trazer um benefício a alguém. Pode ser o exemplo do pai na boa formação dos filhos; pode ser um arcabouço legal como a Constituição Americana, que permitiu o período democrático mais longo do mundo moderno; pode ser o exemplo de cientistas cuja obstinação resultou em drogas ou aparelhos que têm salvado milhões de seres humanos. Nesse sentido estão as lutas de Gandhi, Mandela e Martin Luther King. Separado do período das lutas sindicalistas, o governo de Lula, incluindo o período de Dilma, que é indissociável, merece ser considerado um legado? Legado não é igual a herança, que até pode ser chamada de maldita, legado é sempre uma coisa boa, uma dádiva.

Como candidato Lula empunhou a bandeira de defesa dos trabalhadores e dos mais pobres, do combate à corrupção, brandindo palavras duras contra os políticos (como os trezentos picaretas do Congresso) e à elite empresarial. Combatia a privatização, em defesa das empresas estatais. Eleito, chorou ao receber o diploma de presidente e prometeu que os pobres teriam direito a três refeições diárias. Assumindo o poder, aproveitou a boa fase vivida pelo País, que vinha desde a criação do Plano Real, e começou a distribuição da riqueza herdada - uniu os benefícios bolsa-escola, bolsa-alimentação, auxílio-gás e outros benefícios criados pelo governo anterior, criando o bolsa-família. E foi distribuindo os recursos até chegar aos seus amigos ditadores da América Latina e da África com financiamentos do BNDES. Criou fama e quis se perpetuar no poder, como seus amigos ditadores. Elegeu a sua sucessora e monitorou seu governo para montar o esquema criminoso com as empreiteiras, que garantiria recursos para seu plano.

No bom sentido, Lula não criou nada que pudesse vir a ser um legado. Dissipou a riqueza herdada dando o peixe aos pobres sem lhes dar os meios de pescar. A elevação da classe C se esfumaçou com o desemprego de milhões, que hoje não têm como pagar o Minha Casa Minha Vida. O combate às privatizações, em defesa das empresas estatais, se transformou no saque à 'joia da coroa' - mais seis meses no governo Dilma e a Petrobras teria desaparecido. Renegando os seus amigos mais próximos, companheiros de longa data, que estão presos por serem seus cúmplices, e se tornando amigo de grandes empresários, que antes combatia, não é exemplo que possa ser um legado.

Dizendo-se democrata, seguidor da Constituição e confiante na Justiça, suas reações a essas instituições são próprias de ditadores, o que bem justifica as relações com seus amigos ditadores da América Latina e da África.

Não vemos nada, portanto, que se possa considerar um legado. Contudo, não se deve tripudiar sobre o homem preso, mas nada justifica incensá-lo.

O autor é ex-presidente da Ordem dos Velhos Jornalistas de Bauru.





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