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25/12/13 05:00 - Opini�o

Natal e uma tatuagem na alma!

Alberto Consolaro
As ruas de terra vermelha eram separadas das cal�adas pelo sulco mantido pelas �guas da chuva. Nas cal�adas tinha grama e trilhas de p�s; nas ruas, areia e marcas de rodas! A capela em frente de casa era torre com sino e bangal�: hoje sei que pequenos, mas eram monstruosos para minha pequeneza de 6 anos. A garrafa era verde, o r�tulo branco e o escrito dizia �guaran� paulistinha�. Pela tampa de lata furada por um prego, pouco sa�a e o guaran� de ma�a durava o dia inteiro de Natal numa mistura de saliva e algo doce.

O �nico presente de Natal de crian�a foi de madeira, suas rodinhas tamb�m. Um caminh�o com um palmo de comprimento era o presente de Noel. E durou anos ... pena que n�o tenho mais! � noite, passava um �tren� iluminado com sinos tocando a musica t�pica: um Noel dirigia o trator. Panetone n�o conheci t�o cedo, p�o doce sim! Um saquinho de passas, figos secos e prensados, algumas nozes e um pacote de macarr�o comprido em papel azul compunham a compra do Natal. Acabou o almo�o e a rua esperava-me para exibir o presente! Triciclos, carrinhos de lata e bonecas falantes: os mais sortudos tinham seus triunfos e trunfos. Admirava-se sem a inveja, mas inevit�vel era pensar: um dia vou ter um desse! Reclamar jamais!

Assusta-me, hoje, a firmeza das metas: quando crescer ter�s o que quiser, para isto basta estudar! Estude e conseguir�s o que quiser pelo seu trabalho. Oh meu pai, por que dissestes estas palavras: n�o consigo me livrar delas! O presente que me deste foi uma verdadeira tatuagem em meu cora��o e no c�rebro: dignidade a qualquer custo, honestidade sempre, o valor do nome e o vencer pelos seus esfor�os.

N�o tinha como ficar triste, ao lado estavam outras crian�as sem qualquer presente. Nos natais anteriores eu fiquei assim, sem nenhum carrinho, sem uma bola fina de pl�stico ou que fosse um cata-vento qualquer. Sem conhecer o mar, aprendi cedo a surfar nas ondas das emo��es amigas e aliadas. S� bem mais tarde aprendi que � muito mais f�cil congratular-se das tristezas alheias do que das alegrias. Talvez porque deve ser mais f�cil dividir a compaix�o ou o d�! Deve ser dif�cil, n�o sei ao certo pois nunca tive esta dificuldade, mas reconhe�o que deve ser dif�cil, dividir a alegria e o prazer do outro, a inveja mora ao lado e te amea�a o tempo todo a lhe tomar o comando d�alma.

Me lembro, estava feliz! Pensava que era pelo carrinho de madeira: n�o era! De mar�o a novembro de meus 6 anos frequentei a escolinha da primeira s�rie, ao lado da oficina do aeroclube. Nada me tira a lembran�a da escolinha quando minhas narinas s�o invadidas pelo cheiro de tinta fresca usada nas funilarias dos pequenos avi�es!

A professora no �ltimo dia me presenteou com uma paisagem muito simples em papel comum, sem moldura. Na frente da turma, entregava-me em nome de todos, pois tive um desempenho muito bom durante o ano. No verso dizia: Recorda��o da sua professora: estude sempre para ser no futuro um homem de valor. Que Deus o proteja. Prof� Cleusa Sanches.

Meu �nico presente de Natal foi no ano que fui agraciado pela minha professorinha. O que meu pai e m�e diziam em sua simplicidade era verdade: a professora escreveu o mesmo no verso de minha paisagem! N�o sei quanto custou, se foi muito ou pouco, mas exigiu muito esfor�o. O carrinho que ganhei e a recorda��o da professora cravou em minha alma a mensagem: seja um homem de valor! Neste dia 24, meu pensamento durante a virada para o dia 25, estar� voltado para a gratid�o aos que me deram um Natal que posso chamar de inesquec�vel e tal qual se fez tatuagem em minha alma!

O autor, Alberto Consolaro, � professor titular da USP e articulista do JC




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