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26/11/13 05:00 - Tribuna do Leitor

Sobre o 'dignidade saqueada'

Jo�o Jabbour tem v�rias responsabilidades e miss�es dentro do JC. Uma delas, diria ser a mais nobre, al�m at� da de ser o Gerente de Produtos Editoriais, � a de acolher e ver como possam ser publicadas as cartas dos leitores, temas variados, proposituras com diversas abordagens. Tenta direcionar tudo com uma limita��o de toques e dificilmente rejeita temas. Percebo que n�o permite que as discuss�es se prolonguem ad eternum, enfadonhas e briguinhas pessoais. No mais, o pau come, pois tudo hoje na imprensa deve mesmo ser regido por um lema explicitado certa vez por Vicente Matheus, um fil�sofo que foi presidente do Corinthians Paulista: �Quem entra na chuva � para se queimar�. Escreveu e publicou, da� por diante, tudo pode vir na sequ�ncia, desde elogios, concord�ncias, discord�ncias, admoesta��es e at� algo mais �cido. Tudo dentro da mais absoluta normalidade.

De uns tempos para c�, esse sempre atento jornalista (iria escrever vetusto, mas achei que ele poderia ficar magoado) deu de escrever cr�nicas na p�gina principal do jornal Segunda-Feira. Confesso residir ali, pelo menos para mim, a parte mais saborosa daquele suplemento. Tem inovado, buscado algo, que vejo como uma esp�cie de continuidade do que os leitores fazem na Tribuna do Leitor. Ontem, 25/11, publicou sua cr�nica semanal e fiquei com vontade de apunhal�-lo pelas costas, e por um simples motivo. Jabbour resumiu no seu texto o que estava escrevinhando (�roubou� minha pauta), mais ou menos com a mesma abordagem, pouca coisa diferente. Ele foi na mosca e soube retratar algo, tanto de nossas pequenas cidades, como do mundo atual num todo, o deliberado saque ocorrido em todo e qualquer acidente com cargas espalhadas pelas rodovias, culminando com esse na vizinha Esp�rito Santo do Turvo, quando o derrame de dinheiro pela rua foi rapidamente recolhido por populares. A tocaia que havia lhe preparado ser� desmontada se ele estiver predisposto a publicar mais essa minha missiva no JC. Ent�o vamos a ela.

A vertente pela qual enxergo a quest�o foge da dele num s� ponto. O que vemos nesses momentos, raras oportunidades onde o homem comum pode se apropriar de um algo mais � bem o tipo de consci�ncia estabelecida pela sociedade onde vivemos. No mundo do capital, onde uns poucos podem ter tudo e a maioria, mesmo vendo tudo diante dos seus olhos, tudo sendo lhe oferecido, mas pouco podendo consumir, fica endoidecida diante de tanta oferta. A consci�ncia meramente consumista do mundo moderno (sic) leva tudo e todos para um s� caminho: o dinheiro. Os livros de autoajuda, o pregado pelos religiosos indica que a salva��o � feita pelo ter, o possuir. A felicidade lhe sorri quando com dinheiro no bolso. Todas as demonstra��es convergem para isso. Tudo � consumismo, a maioria dos pedidos aos deuses do al�m hoje s�o por algo envolvendo grana. O bem-estar est� mais do que associado a ter, ter e ter. De vez em quando me pergunto: por que n�o pedimos por sexo? Isso mesmo.

Ao inv�s de grana poder�amos pedir por eliminarmos a ejacula��o precoce, pelo orgasmo em conjunto, pelo fim da frigidez humana, sa�de e bonan�a sexual, etc. N�o, pedimos sempre pela condi��o material, buscando o ter mais e mais. Ningu�m se contenta em ter uma TV com meros dez canais, sendo necess�rio uma de cem, mesmo que a maioria nunca sequer sejam vistos. Tudo � condicionado. Esse per�odo do ano � �timo para compreendermos isso. O com�rcio aberto at� as 22 horas � uma verdadeira loucura, todos malucos por comprar. Essa a mentalidade.

A sa�da eu s� enxergo numa caminho: conter essas ideias. Parar de discutir banalidades, de dar import�ncia desmedida para o dinheiro e mais para o ser humano. At� hoje vejo gente dizendo n�o entender como os m�dicos cubanos podem trabalhar por t�o pouco, enquanto os daqui brigam sempre por mais e mais e tudo fazem por isso. N�o existe caso de corrup��o que n�o seja pelo dinheiro e para o dinheiro. Quando um vereador diz em alto e bom som que �m�dico n�o trabalha por mixaria�, ele vive nessa sintonia. Todos os golpes s�o com a finalidade de amealhar mais e mais. Num mundo onde o ser humano pudesse ser mais valorizado, isso iria se dissipando naturalmente. L�o Jaime cantarola algo singular no refr�o de uma de suas letras, �o problema � o regime/ que n�o d� satisfa��o�. N�o o alimentar, mas o pol�tico. � quase um insulto voc� querer viver hoje sem dar import�ncia ao dinheiro.

O correr atr�s do seu, do que � do outro, junto com o outro, disputando o mesmo espa�o que o outro, gera loucuras na cabe�a das pessoas. Por causa disso tudo, noto que o correto mesmo e o mais acertado � ser politicamente incorreto. Precisamos desendinheirar nossas vidas e Jabbour pegou o esp�rito da coisa. Que isso possa contaminar a todos (as), pois da� depende a salva��o do homo sapiens. Ou n�o � nada disso?

Henrique Perazzi de Aquino, jornalista e professor de Hist�ria
(www.mafuadohpa.blogspot.com)




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