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05/11/13 05:00 - Opini�o

A entropia negativa e o homo-stupidus

Paulo Cesar Razuk
Le�es nascem com condi��es de crescer nas plan�cies africanas e lagostas na �gua salgada. As pessoas nascem para interagir com outras pessoas. Uma pessoa se apequena quando se esquiva da responsabilidade de interagir com outras pessoas, fixando sua aten��o apenas em seus objetivos. Portanto, n�o � a altura, nem o peso e nem os m�sculos que tornam uma pessoa grande. Uma pessoa se agiganta quando, al�m de buscar alternativas para o seu crescimento, tamb�m se preocupa e participa dos sonhos das pessoas ao seu redor. Uma pessoa � grande quando perdoa, quando compreende, quando se coloca no lugar do outro, quando age n�o de acordo com o que esperam dela, mas de acordo com o que espera de si mesma.

Hoje n�s n�o ca�amos para obter comida como as lagostas ou os le�es; n�s a compramos de pessoas que, por sua vez, adquirem os alimentos de outras pessoas. N�s �nadamos� num �mar de pessoas�. Assim como le�es e lagostas t�m o necess�rio para sobreviverem em seu meio, para viver nesse �mar de gente� precisamos de ordem. O que � ordem? � uma estrutura n�o gerada ao acaso, com regras, a��es e rea��es. O ser humano precisa da estabilidade, de direitos e deveres, quer previsibilidade. Ningu�m deseja viver na desordem, onde a lei e a propriedade n�o s�o respeitadas e onde a vida � amea�ada a todo momento. A ordem preserva a vida, a posse e os contratos. Se n�o for assim, quais seriam os motivos de estudarmos, trabalharmos, casarmos, termos filhos, enfim, vivermos?

A sociedade existe hoje da forma como est�, plena de gente, gra�as � estabilidade clim�tica e a interfer�ncia maci�a na natureza. Sem a agricultura, o uso intenso da tecnologia e o avan�o da medicina, popula��es humanas teriam permanecido min�sculas e a maioria de nossos ancestrais jamais teria nascido.

Ao longo da maior parte da exist�ncia humana, a escassez foi uma realidade que, talvez, justifique a avareza, o comer demais ou o consumo exacerbado dos dias de hoje. A escassez, atualmente, n�o pode ser definida como uma falta, mas como desejo de consumo. O jovem executivo que compra um carr�o potente por status e pelo prazer de correr, al�m de ter �fetiche por mercadoria�, se apresenta como a vers�o moderna da necessidade de fugir de predadores ou de ir ao encal�o de alguma presa. Tem o mesmo fetiche o adolescente que gasta seu primeiro sal�rio com eletr�nicos, roupas e t�nis de grife que valem juntos o dobro do que recebeu. N�o compramos por utilidade, mas para garantir algum sentido a nossa exist�ncia. Nosso apetite n�o � por bens de consumo, mas por prest�gio e poder que, em �ltima an�lise, est�o camuflados por tr�s desses objetos.

A explos�o populacional aumentou o impacto dos seres humanos sobre as demais esp�cies, sobre a atmosfera, os mares e a superf�cie da Terra. Isso requer novos padr�es de adapta��o e novos tipos de percep��o, pois o rumo natural de uma esp�cie que destr�i seu ambiente � a extin��o. Precisamos inventar novas formas de conviv�ncia e aprender a ter limites, modera��o, menor prole e a aceitar nossa pr�pria morte que aparenta ser a fronteira final, uma barreira intranspon�vel, mas tamb�m ela �, apenas, uma etapa na constru��o do relacionamento do homem com seu Criador, em um longo processo de matura��o.

O autor, Paulo Cesar Razuk, � professor titular aposentado do Departamento de Engenharia Mec�nica da Faculdade de Engenharia da Unesp - c�mpus de Bauru




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