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01/10/13 05:00 - Opini�o

Um papa provocador

Carlos Alberto Di Franco
O papa Francisco � um comunicador de primeira. Simples. Direto. Desimpedido. Seu estilo � surpreendentemente solto e provocador. Seu discurso � coloquial e sincero. � um papa falante, alegre, com jeit�o laico. Um papa diferente. Mas � o papa. E tem plena consci�ncia do seu minist�rio e de sua autoridade. N�o pode ser interpretado pela metade. Ele demanda contexto. Francisco d� boas manchetes. Mas � preciso ir ao cerne do seu pensamento. Cria-se, caso contr�rio, a s�ndrome da esquizofrenia informativa: um papa fala na manchete, mas outro discursa no conjunto da mat�ria.

Recentemente, a �ltima edi��o da revista italiana La Civilt� Cattolica, editada pelos jesu�stas, publicou uma longa entrevista com o papa Francisco. O rebuli�o foi imenso. Sobrou vers�o. Faltou fazer a li��o de casa b�sica: ler a �ntegra da entrevista. Francisco, com bem salientou a jornalista Adriana Dias Lopes, editora da revista Veja, �n�o mexer� nas doutrinas da Igreja Cat�lica.� Mas, sem d�vida, apontou uma mudan�a de tom.

O papa, creio, quer provocar uma ruptura com uma agenda negativa e reativa. �N�o podemos insistir somente sobre quest�es ligadas ao aborto, ao casamento homossexual e ao uso de m�todos contraceptivos. Isso n�o � poss�vel. Eu n�o falei muito dessas coisas, e censuraram-me por isso. Mas, quando se fala disso, � necess�rio falar num contexto. De resto, o parecer da Igreja � conhecido, e eu sou filho da Igreja, mas n�o � necess�rio falar disso continuamente. A proposta evang�lica deve ser simples, profunda, irradiante. � dessa proposta que v�m as consequ�ncias morais�, sublinhou o papa.

Francisco, por �bvio, n�o minimiza a gravidade dos equ�vocos morais. Sua defesa da vida, por exemplo, desde o momento da concep��o, � clara, forte, sem qualquer ambiguidade. A doutrina � transparente. O papa est� preocupado n�o apenas com a atua��o p�blica da Igreja, mas com o cuidado pastoral das pessoas concretas. Que erram. Que sofrem. Que se arrependem. Seu foco n�o s�o os processos, mas as pessoas. Quer uma Igreja mais compassiva. E isso � cativante.

A perspectiva do olhar de um Deus compassivo, acolhedor, est� metida na alma de Francisco e ganha corpo no seu projeto pastoral. �A coisa que a Igreja mais necessita agora � a capacidade de curar feridas e de aquecer o cora��o dos fi�is, aproximar-se. Vejo a Igreja como um hospital de campanha depois de uma batalha. � in�til perguntar a um ferido grave se o seu colesterol ou sua glicose est�o altos. Deve-e curar as feridas. Depois podemos falar do resto.� Francisco insiste muito na ess�ncia da mensagem crist�: a miseric�rdia de Deus. A �plataforma moral� da Igreja n�o pode ser erguida sobre os alicerces do legalismo, mas em cima dos s�lidos pilares de um projeto de salva��o. Sem isso, e sem o exerc�cio da liberdade humana, o edif�cio da Igreja �corre o risco de cair como um castelo de cartas, de perder a frescura e o perfume do Evangelho.

Impressiona, e muito, o tom positivo que permeia todos os discursos do papa. Impressiona, tamb�m, a transpar�ncia de Francisco em suas entrevistas aos jornalistas. � uma papa sem tabus. Ele tirou a Igreja do c�rner. Francisco rasga um horizonte valente e generoso. Deixa claro que os cat�licos n�o s�o antinada. O cristianismo n�o � uma alternativa negativa, encolhimento medroso ou mera resigna��o. � uma proposta afirmativa, alegre, revolucion�ria. Os discursos do papa n�o desembocam num comp�ndio moralizador, mas num desafio empolgante proposto por uma pessoa: Jesus Cristo. Os jovens entendem o recado e motram not�vel sintonia com Francisco.

Os que apostam na descontinuidade v�o perder o jogo. Jo�o Paulo II, Bento XVI e Francisco tocam a mesma m�sica, embora com gingado diferente. A formid�vel cobertura pela imprensa da elei��o de Francisco revela alguns sinais importantes. O primeiro deles, sem d�vida, � a not�vel unidade dos cardeais. A surpreendente rapidez do processo eleitoral foi um testemunho inequ�voco de que Jo�o Paulo II e Bento XVI, ao longo dos seus pontificados, investiram generosamente na constru��o da unidade da Igreja. A elei��o mete�rica do Bergoglio foi, no fundo, um forte chamado � unidade e � continuidade.

O autor, Carlos Alberto Di Franco, � diretor do Departamento de Comunica��o do Instituto Internacional de Ci�ncia Sociais � IICS (www.iics.edu.br) e doutor em Comunica��o pela Universidade de Navarra, � diretor da Di Franco � Consultoria em Estrat�gia de M�dia (www.consultoradifranco.com). E-mail: [email protected]




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