Bauru e grande região - Sexta-feira, 18 de outubro de 2024
máx. 31° / min. 12°
29/08/13 05:00 - Tribuna do Leitor

Eu tenho um sonho

No dia vinte e oito de agosto de mil novecentos e sessenta e tr�s, Martin Luther King come�ava seu mais famoso discurso acertando em cheio em sua previs�o �Eu estou contente em unir-me com voc�s no dia que entrar� para a hist�ria como a maior demonstra��o pela liberdade na hist�ria de nossa na��o�. Claro que n�o foi por essa frase que o discurso � lembrado, mas pela c�lebre �Eu tenho um sonho...�. Repetido cinco vezes no discurso completo. E durante cinco d�cadas muitas pessoas t�m sonhado com ele. Hoje, h� exatos cinquenta anos, leio neste jornal o nobre vereador Lima Junior sugerir ironicamente que o programa �Mais m�dicos� reativou a escravid�o no Pa�s ao trazer m�dicos cubanos. Infelizmente, vereador, n�o acredito que voc� compartilhe do sonho de liberdade que Luther King sonhou. N�o consigo acreditar que voc� esteja de fato preocupado com a situa��o de trabalho a que ser�o submetidos os profissionais cubanos. Ou se est�, voc� deveria procurar entender melhor o acordo firmado para a vinda dos mesmos. Ler, estudar e pesquisar deveriam fazer parte do cotidiano do legislador, assim como o compromisso com a verdade acima da ideologia e do partidarismo.

O acordo dos governos brasileiro e cubano � intermediado pela Opas (a mais antiga ag�ncia internacional de sa�de, ligada � ONU, funciona como um escrit�rio regional da OMS e � sediada em Washington DC). O Brasil pagar� o valor integral do projeto por indiv�duo, R$ 10.000,00 ao governo cubano, que repassar� parte disso � fam�lia do m�dico na ilha, e estima-se que o profissional receber� cerca de R$ 4.000,00. Claro que este sal�rio n�o permite que o m�dico cubano torne-se um grande fazendeiro, ou possua uma dezena de im�veis de aluguel (ou simplesmente para explora��o imobili�ria) como alguns m�dicos bauruenses. Eu mesmo j� aluguei uma casa de um deles. Mas est� bem longe de trabalho escravo.

Lembrando que estes m�dicos trabalhar�o naqueles lugares onde nenhum m�dico, formado muitas vezes em faculdades p�blicas, quer trabalhar. Na maioria, cidades pequenas, distantes. Lugares onde um m�dico far� toda diferen�a. Vejo tamanha nobreza que me lembra mission�rios levanto alento a lugares in�spitos. � �bvio que esse discurso est� ombreado n�o com o sonho de liberdade de Luther King, mas com discursos pol�ticos que tentam de qualquer maneira desestabilizar um governo. Mas este discurso se esquece de que medida semelhante j� foi tomada em 1999 por um governo do seu partido. Existem outros discursos, e espero que a estes o vereador n�o se alie, preconceituosos e xenof�bicos, que criaram cenas vergonhosas para n�s, brasileiros, onde m�dicos cubanos foram recebidos com vaias e xingamentos por m�dicos brasileiros, supostamente a elite cultural do Brasil.

Por fim, vale lembrar que a situa��o decadente da sa�de p�blica n�o � exatamente falta de verba, estrutura ou algo assim. Vale lembrar o caso da AHB. Dia desses faltava gaze no HB, e por acaso o que foi roubado, est� bem, roubado n�o, vamos falar de um jeito mais civilizado, desviado da AHB, n�o era suficiente para comprar gaze? Ent�o o problema n�o era a falta de material, mas a inger�ncia. E os dirigentes da AHB n�o eram na maioria m�dicos?

Jorge Carlos Rodrigues de Freitas




publicidade
As Mais Compartilhadas no Face
(SF) © Copyright 2024 Jornal da Cidade - Todos os direitos reservados - Atendimento (14) 3104-3104 - Bauru/SP