Viagem

Hoje l� pelas tantas da madrugada, mais uma vez perdi o sono. Deitado, ouvia o insistente apito de uma locomotiva que, imagino, deveria estar manobrando algum trem de carga, j� que trem de passageiros n�o existem mais, no que sobrou das nossas maravilhosas ferrovias de um passado n�o muito distante, onde vivi boa parte de minha vida, e, de onde meu pai, ferrovi�rio como muitos aqui na �grande Bela Vista�� tamb�m eram, trabalhou e criou seus 8 filhos.

S� quem tem ins�nia sabe como � grande cada hora de uma noite. Ent�o, fui mais longe. Viajei novamente na majestosa ferrovia, com sua imponente esta��o, onde embarc�vamos no meio de tanta gente nos trens abarrotados que iam e vinham trazendo e levando hist�rias. N�s, crian�as, vibrando com a chegada da composi��o que nos levaria para casa de nossos av�s, f�rias de escolas, aproxima��o das festas de final de ano, tudo era alegria.

Com o dia quase amanhecendo, fui voltando da minha viagem. Deparei-me ent�o da realidade. Lembrei da sucateada ferrovia, que hoje apenas nos deixa frustrados. Um corredor que contamina toda cidade com mato, sujeira, favelas, gente miser�vel nos trilhos, viajando no v�cio das drogas. Onde est�o os respons�veis por isso?

Foi ent�o que lembrei do dia de ontem, quando fui buscar um amigo no aeroporto Bauru-Arealva, que voltava de Curitiba a trabalho. Enquanto o voo n�o chegava, pensei em muitas coisas, na meia d�zia de pessoas bem vestidas que esperavam para embarcar, num meio de transporte que ainda � para a elite. E, depois, no desembarca, de onde veio meu amigo, mais meia d�zia de pessoas privilegiadas. Ser� que tudo isso faz sentido?

No banheiro do aeroporto, vi nas paredes delicados protestos feitos a l�pis, onde se criticavam comportadamente dois ou tr�s pol�ticos. E a viagem da classe popular, acho que mesmo ficou nas telas de LCD compradas nos carn�s a perder de vista. Plim, plim...

Demerval Assis da Silva