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04/08/13 05:00 - Tribuna do Leitor

O pecado

Descobri que eu estava velho h� muitos anos, num �nibus circular de minha cidade.

Foi assim: o �nibus estava lotado e n�o havia assento vago. N�o liguei. Considerava-me forte, pernas e bra�os, e podia, perfeitamente, fazer a viagem de p�, segurando no suporte do �nibus.

De repente meus olhos encontraram uma mo�a que tamb�m olhava para mim com um discreto sorriso nos l�bios. Foi um momento de suspens�o autom�tica, eu olhando para ela, ela olhando para mim. Aquele poderia ser o in�cio de uma est�ria de amor por acontecer.

Pensei: muitas est�rias de amor se iniciam em �nibus! Mas ent�o, naquele momento rom�ntico, ela fez um gesto delicado e sorrindo levantou-se e me ofereceu o lugar... entendi ent�o o sentido de seu sorriso, e olhando para mim, ela lembrava de seu av� velhinho t�o querido...

Compreendi que estava velho. Foi o momento da revela��o. Desde ent�o, o meu pensamento volta sempre para a velhice.

H� uma coisa que n�o se perdoa nos velhos: que eles possam amar com o mesmo amor dos jovens. Aos velhos est� reservado outro tipo de amor, amor pelos netos, pois quando o velho ressuscita e no seu corpo surge de novo o amor adormecido, os filhos se horrorizam e dizem, com explica��o: ficou caduco.

Amor de mocidade � bonito, mas n�o � de espantar. Jovens t�m mesmo que se apaixonar. Romeu e Julieta s�o aquilo que todo mundo considera normal. Mas o amor na velhice � um espanto, pois nos revela que o cora��o n�o envelhece jamais.

O amor tem este poder m�gico de fazer o tempo correr ao contr�rio. O que, realmente, envelhece n�o � o tempo. � a rotina, o enfado, a incapacidade de se comover ante o sorriso de uma mulher.

Nessa idade, quando acontece, o idoso n�o mexe muito com as coisas do sexo. A gente vive de ternura. �O homem s� come�a a envelhecer quando as lamenta��es come�arem a tomar o lugar dos sonhos.�

Azis Neme




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