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21/07/13 03:00 - Opini�o

As li��es de Francisco

Zarcillo Babosa
O papa Francisco desembarca amanh� no Rio e quer que o seu primeiro contato se d� com o povo, antes das autoridades. Vai desfilar em carro aberto seguindo um roteiro que passa por ruas que foram palco de atos de protestos e quebra-quebra. Francisco acredita que as manifesta��es populares se enquadram no evangelho porque ningu�m deve aceitar a indiferen�a, embora tenhamos que ser realistas a ponto de n�o esperar varinhas m�gicas e solu��es �timas para todos, na velocidade da luz.

Nada faz supor que Francisco seja tratado com desrespeito no Brasil. No Leblon, o artista de praia Ubiratan dos Santos, que h� vinte anos esculpe na areia mulheres de �corpo ideal� decidiu destruir seis figuras semi-nuas e deixou somente duas, providencialmente cobertas com saiotes para disfar�ar o grande fetiche carioca: a bunda feminina. Por outro lado, a Associa��o Brasileira de Ateus e Agn�sticos prepara um inusitado protesto pelos gastos do encontro do Sumo Pont�fice com dois milh�es de pessoas. Tamb�m anuncia promover o �desbatismo�. Os manifestantes v�o empunhar secadores de cabelos para �evaporar as �guas do batismo com os ventos do secularismo�. O bom da democracia � que ela tolera a diversifica��o e � ruidosa a ponto de acordar o Sr. Rid�culo, aquele personagem pirandeliano que, de vez em quando desperta para aprontar o grotesco. Segundo o Censo h� no Brasil 615 mil ateus e 124 mil agn�sticos, aqueles que acham que tudo o que ultrapassa o m�todo emp�rico de comprova��o n�o pode ser aceito � a exist�ncia de Deus, o sentido da vida, do universo...

Para os dogm�ticos incautos e ateus furiosos recomendaria o livro �Entre o c�u e a terra� (Mondadori, 2010), resumo do di�logo entre o ent�o arcebispo de Buenos Aires Jorge Maria Bergoglio e seu compatriota Abraham Skorda � rabino argentino de tend�ncia contempor�nea. Talvez possa interessar mais a agn�sticos que a religiosos. O arcebispo Bergoglio j� revela muita cultura. Sua escolha a papa nada tem aleat�ria. Demonstra interesse pela literatura hisp�nica profana, cita Borges, quadrinhos e tem obsess�o pela antropologia. Do outro lado, o rabino que acha que n�o s� a Tor� explica o mundo: Freud tem algo a explicar tamb�m. No cap�tulo ci�ncia versus religi�o Bergoglio utiliza-se de Frankenstein para chegar a conceitos sobre a coisifica��o do humano. Condena o �liberalismo selvagem� e o �imp�rio do dinheiro�. O homem contempor�neo � um ser por demais apegado ao aqui e agora que n�o alimenta o futuro e, por fim, n�o evolui em �tica e valores. Uma vez papa mandou retirar da Catedral Metropolitana de Buenos Aires a est�tua esculpida em sua homenagem. Trocou os sapatos vermelhos da grife Prada pelo cal�ado r�stico de jesu�ta. Abdicou da coroa do Bispo de Roma. A sa�da, segundo o ent�o futuro papa estaria num salto nas rela��es socioecon�micas. � �A verdadeira globaliza��o � como a figura de um poliedro; as faces se integram, mas individualmente mant�m sua peculiaridade. A globaliza��o que uniformiza � uma maneira de escravizar os povos�.

Bergoglio surfa com eloqu�ncia nos temas mais espinhosos e mostra surpreendente empatia pelo ateu, cuja honestidade ele n�o se v� em posi��o de julgar. �Caso esse ateu tenha baixezas, como eu tamb�m as tenho, podemos compartilh�-las para podermos juntos, super�-las. O rabino aquiesce, e tempera a franqueza com o mesmo desprendimento: - �Dizer que Deus existe como se fosse uma certeza seria uma arrog�ncia�. Bergoglio cr� no dem�nio, e v� em sua capacidade de fazer-nos acreditar na sua exist�ncia, o seu plano mais genial. Por�m, uma coisa � o dem�nio. A outra � �demonizar as pessoas�. Pontua que a religi�o tem o direito de opinar sobre quest�es como a homoafetividade, o papel da mulher, o concubinato. A igreja est� a servi�o das pessoas, mas n�o tem o direito de for�ar nada na vida privada de algu�m. - �Se Deus na cria��o correu o risco de nos fazer livres, quem sou eu para me meter.�

Francisco pode n�o ser �o cara�, para muita gente, mas merece ser ouvido. Sua presen�a e ensinamentos servir�o para unir as pessoas e melhorar o padr�o �tico das representa��es institucionais. Neste momento elas passam por situa��o delicada diante dos representados impacientes.



O autor, Zarcillo Babosa, � jornalista e articulista do JC




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