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16/07/13 05:00 - Opini�o

Sobre a importa��o de m�dicos cubanos

Juan L�pez Linares
A proposta da importa��o de m�dicos cubanos parece n�o ser de contratos individuais com eles e sim um �pacote� em que um dos contratantes seria o governo cubano. Isso significa, na pr�tica, que mais de 50% do sal�rio pago pelas autoridades brasileiras aos galenos iria n�o para o bolso deles, e sim para alimentar a ditadura cubana. Essa situa��o j� acontece em menor escala no Brasil e em maior escala em outros pa�ses, como a Venezuela.

Nesse tipo de contrato do governo cubano, os m�dicos n�o t�m as liberdades usuais dos profissionais do Brasil. Eles n�o s�o autorizados a viajar, participar de congressos ou fazer manifesta��es pol�ticas contra o sistema de sa�de do Brasil e muito menos de Cuba. Qualquer desvio no cumprimento desse �pacto de bom comportamento� implica o retorno imediato do m�dico a Cuba e outras repres�lias posteriores.

A experi�ncia mostra que uma parte n�o desprez�vel dos m�dicos termina �fugindo� dessa situa��o mediante o casamento com um cidad�o local ou a emigra��o para um terceiro pa�s. Para a grande maioria dos m�dicos cubanos, viajar para trabalhar em outro pa�s (mesmo nos pa�ses mais pobres da �frica) � um sacrif�cio desej�vel. O sal�rio mensal de um profissional da sa�de em Cuba n�o supera os R$ 100,00. Mais de seis vezes abaixo do sal�rio-m�nimo brasileiro. Mesmo no caso em que o governo brasileiro pagasse um d�cimo do que paga a um an�logo local, ainda assim haveria uma infinidade de galenos cubanos interessados.

Quanto � qualidade, existem em Cuba, como em quase todos os pa�ses, m�dicos excelentes e m�dicos ruins. Talvez o diferencial seja quanto ao n�mero. Quando eu fiz as provas do vestibular para entrar na universidade em Havana, a carreira menos concorrida era a de medicina. Os candidatos que queriam garantir n�o ficar fora da universidade colocavam medicina como �ltima op��o (ao contr�rio do que acontece no Brasil e em boa parte do mundo). Isso foi resultado de uma pol�tica populista da ditadura, a forma��o de m�dicos em grandes quantidades.

Todo professor sabe que n�o � a mesma coisa ministrar uma aula para 20 estudantes e para 50. Considerando os custos da educa��o m�dica e o n�vel de vida paup�rrimo em Cuba, n�o � de estranhar que a qualidade, em m�dia, tenha sido comprometida pela quantidade dos mesmos.

Entendo que os Conselhos de Medicina brasileiros possam se sentir amea�ados diante do poss�vel aumento da concorr�ncia. Dou raz�o a eles quando exigem que os m�dicos cubanos n�o sejam tratados como exce��o e passem pelas mesmas provas por que passa todo profissional formado no estrangeiro. Segundo as estat�sticas do Revalida, exame atual, somente 20% dos m�dicos formados em Cuba (inclu�dos os brasileiros) passam nas provas.

Devo dizer tamb�m que a �escola latino-americana� de medicina em Cuba somente aceita, sem pagar os custos do curso, candidatos indicados pelos partidos pol�ticos favor�veis ao regime dos Castros.

Sou a favor, sim, da vinda de m�dicos cubanos ou de qualquer outra parte do mundo para cuidar da sa�de dos brasileiros, mas n�o na forma de �pacote� firmado entre governos com interesses esp�rios e que restringem expl�cita ou implicitamente as liberdades individuais.

O autor, Juan L�pez Linares, � cubano naturalizado brasileiro, professor da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos (FZEA) da USP. Artigo publicado originalmente no Jornal da USP




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