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14/07/13 05:00 - Opini�o

Em busca da felicidade

Zarcillo Barbosa
O movimento de quinta-feira, batizado de Dia Nacional de Luta, foi uma tentativa das centrais sindicais de assumir o leme da insatisfa��o popular. O resultado foi bem menor que o esperado. Se dependesse apenas da capacidade de mobiliza��o dos trabalhadores organizados, o movimento n�o teria ocorrido. As pessoas est�o cobrando para carregar cartazes e berrar durante horas na rua. Cach� de 70 reais foi pago em dinheiro na av. Paulista, para custear o lanche e a tarifa do �nibus que ainda est� longe de ser zerada. Os sindicalistas profissionais foram apanhados de surpresa pela extens�o do descontentamento espontaneamente manifestado nas semanas anteriores. Nem foram chamados. Pagam o pre�o do atrelamento aos pol�ticos no poder. � o chamado neopeleguismo em refer�ncia aos tempos de Get�lio Vargas, quando os sindicalistas levavam uma vida boa com os subs�dios do governo. Ainda hoje � assim, gra�as ao imposto sindical.

�O povo desunido jamais ser� vencido�. A frase que soa her�tica foi dita por Ruth Cardoso, em 2002. Estava ao seu lado o soci�logo espanhol Manuel Castells que previu a �multiplica��o de fontes de mudan�a social e sua n�o articula��o em aparelhos pol�ticos instrumentais que vai solapando as ra�zes de domina��o�. A sociedade em rede j� traz em si o poder da identidade. N�o precisa de partidos pol�ticos e nem de sindicatos. A sociedade em rede mostrou criatividade, capacidade de mobiliza��o e de negocia��o. Ouvi a estudante da Unesp dizer para � rep�rter que procurava �o l�der� da ocupa��o da Prefeitura de Bauru que ali eram todos iguais. A manifesta��o teve participa��o dos Sem Terra, com sindicatos e partidos em ades�o perif�rica, mas sem manda-chuva. O prefeito Rodrigo Agostinho fez a �nica coisa poss�vel, naquele momento: ouviu as pessoas. Teve coragem, ou n�o havia outro jeito. Ganhou um beijo escrito a batom no vidro da porta e promessas de um reencontro em breve. Mais que a maioria dos homens p�blicos, os prefeitos precisam estar atentos aos recados das ruas, pois partem de pessoas que, por serem da comunidade, est�o pr�ximas dos problemas para os quais cobram solu��es. N�o � s� pelos por um peda�o de asfalto. A extensa pauta de reivindica��es depende de dinheiro, mas tamb�m de sensibilidade e uso adequado dos recursos dispon�veis, com transpar�ncia (al�, Batra). Vem a prop�sito uma frase de Albert Hirschman numa li��o acad�mica � A pol�tica �n�o � a arte do poss�vel e sim a arte de ampliar os limites conhecidos do poss�vel�. Depois da massifica��o dos movimentos de rua, � poss�vel que as prioridades da popula��o tenham se alterado de forma significativa. Compreender as mudan�as e procurar contempl�-las, sem se descuidar das demandas tradicionais, precisa ser uma preocupa��o de todo prefeito.

As vaias dos prefeitos reunidos em Bras�lia � presidente Dilma Rousseff, pelo segundo ano consecutivo demonstram a falta de sintonia entre o governo federal e os governos municipais. O jab� de tr�s bilh�es de reais da presidente foi insuficiente para aplacar a ansiedade dos prefeitos. Os brasileiros que foram �s ruas e os que n�o foram est�o dizendo que uma coisa � priorit�ria: querem melhores servi�os p�blicos. Vaia faz parte da democracia. O importante � ouvi-la, entend�-la e agir para que sejam silenciadas pela efici�ncia do setor p�blico. Executivo e Legislativo t�m culpa na eclos�o da revolta. Hirschman defendia a Teoria da Disson�ncia Cognitiva, atribu�da a Leon Festinger. Ela argumenta que as pessoas procuram manter a coer�ncia entre suas v�rias cren�as e opini�es, em conson�ncia com o seu comportamento. Quando a realidade destoa daquilo que se tem arraigado na cabe�a, a partir de um determinado limite o comportamento muda, e pode atingir propor��es impens�veis - para o bem ou para o mal. No Brasil � comum os pol�ticos defenderem posturas �ticas e, quando chegam ao poder sucumbem �s tenta��es que v�m com ele. A partir da� esse comportamento causa disson�ncias na cabe�a de quem esperava dos seus representantes atitudes �ticas e em benef�cio do coletivo. Chega o dia em que ocorrem mudan�as nas convic��es anteriores e novos fatores se juntam para formar uma nova identidade, �s vezes defendida em bases absurdas ou at� violentas. � autom�tico. N�o h� um grande orientador intelectual da atual mobiliza��o (nem Bakunin, do anarquismo). Os manifestantes n�o sustentam seus atos em partidos ou ideologias e nem mesmo no consumo de qualquer literatura mais complexa. � a cabe�a que n�o aguenta mais tanta safadeza. Da�, nascem utopias muito al�m do socialismo: a busca da descoberta de um mecanismo que, finalmente nos leve � felicidade.

O autor, Zarcillo Barbosa, � jornalista e articulista do JC




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