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30/06/13 03:00 - Opini�o

A tirania da maioria

Zarcillo Barbosa
A aprova��o da presidente Dilma despencou de 57% para 37% em tr�s semanas, segundo a manchete. O PT paga um pre�o alto pelo abismo aberto nas rela��es entre estado e sociedade, depois de ter conseguido reduzir a pobreza no pa�s, nestes dez anos no poder. A gram�tica das ruas nos permite entender que o pragmatismo pol�tico tem seus limites. Abra�ar Maluf porque os fins sempre justificariam os meios foi um erro pequeno no gesto, mas grande o suficiente para come�ar a abalar a credibilidade do instituto da representa��o. Todos os partidos se utilizam da mesma l�gica eleitoral perversa que no momento leva o povo �s ruas para pedir a reinven��o da representa��o pol�tica. A� � que mora o perigo. O de cair no vazio que o fil�sofo pol�tico espanhol Ortega y Gasset (1883-1955) chamou de �hiperdemocracia�, em �A Rebeli�o das Massas�. As massas atuam diretamente, sem a intermedia��o dos poderes p�blicos. J� aconteceu antes e ocorre agora no Brasil e no Oriente. As massas passam a intervir em raz�o das suas convic��es, interesses e expectativas - que j� n�o est�o em linha com os interesses dos pol�ticos que elegeram para represent�-las. Da� esse v�cuo oce�nico aberto entre eleitos e eleitores, governantes e governados. Os homens especiais mencionados por Arist�teles (A Rep�blica), que deveriam ser os escolhidos para governar em prol do bem comum; por entenderem mais e melhor de gest�o da coisa p�blica, estes fracassaram ao colocar seus interesses e vaidades em primeiro lugar. Os resultados desastrosos foram gerados pela corrup��o e a desqualifica��o. O mal a ser evitado, agora, � o da �tirania da maioria�, observada tamb�m por Tocqueville. A massa resolve fazer justi�a sem o reconhecimento de leis que garantam a paz. Quem n�o for como todo mundo correr� o risco de ser eliminado. A minoria � ignorada, quando n�o esmagada.

O Movimento pelo Passe Livre declarou � na��o que o rei est� nu, proclamou em pra�a p�blica que a representa��o parlamentar ruiu. A pol�tica partid�ria foi capturada pelo mercado de votos, resignou-se a reproduzir mandatos em s�rie, com obscena mediocridade, sem qualquer compromisso com o interesse coletivo. Exibe desprezo pela opini�o p�blica. O colapso da representa��o vem ocorrendo sem que as lideran�as deem mostras de compreender a magnitude do abismo que se abriu - e aprofunda-se, celeremente - entre a institucionalidade pol�tica e o sentimento da maioria. As den�ncias de corrup��o se sucedem, endossando a vis�o negativa que, injustamente, mas compreensivelmente, generaliza-se.

Chegar� o momento - e que seja logo - de juntar os cacos. Esse movimento �omnibus� (para todos) tem diante de si os mais variados cen�rios, e outros a inventar. Em primeiro lugar vamos precisar de uma rebeli�o individual. O homem dentro da massa, mas consciente da sua singularidade, preocupado com a pol�tica, com o humanismo e a cultura; que sabe o que � bom para si e a sua comunidade; que saiba associar o eu individual com o eu comunit�rio. O homem-massa � aquele que pensa e constr�i e sabe que � a partir do seu voto que as coisas podem melhorar. O destino deste homem depender� de sua capacidade de diferenciar a cr�tica pol�tica da cr�tica � pol�tica, e de n�o confundir a rejei��o do atual sistema pol�tico-eleitoral, e partid�rio, com uma recusa da pr�pria democracia, em qualquer formato. N�o se pode permitir que a indigna��o encontre tradu��es autorit�rias e ultraconservadoras. Ortega y Gasset tinha raz�o ao pretender estabelecer as bases de uma �pedagogia pol�tica�. Essa pedagogia seria o modo para regular os conflitos de interesse e os valores. � uma quest�o mais de ordem moral. O instrumento que conta cada homem para se orientar em sua vida n�o � outro que a raz�o. A vida � maior que a raz�o, mas s� se fortalece na raz�o.

Para ser mais direto: pedir a ren�ncia de Renan Calheiros � uma coisa; outra, muito diferente seria questionar a pr�pria exist�ncia do Congresso. Manter a mobiliza��o popular � importante, mas nenhuma pessoa sensata deseja transtorno, vandalismo e hostilidade contra as institui��es. A melhor maneira de conciliar esses objetivos � o exerc�cio da responsabilidade no n�vel das ideias, para promover uma agenda de respeito � democracia. O bom senso � a chave que estimular� a manuten��o desse exerc�cio saud�vel de cidadania.


O autor, Zarcillo Barbosa, � jornalista e articulista do JC




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