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14/04/13 01:00 - Opini�o

Muito al�m do mensal�o

Zarcillo Barbosa
O que mais chama a aten��o nas hist�rias escabrosas do chamado �mensal�o� n�o � tanto o que veio � tona no julgamento do Supremo Tribunal, mas o que permanece oculto. De como s�o custeadas as campanhas pol�ticas, a sociedade brasileira est� cansada de saber. Os cidad�os deste pa�s s�o como aqueles personagens do teatro de Pirandello, a procura de um autor. De vez em quando reflui alguma coisa, como no recente desabafo do condenado ex-ministro-chefe Jos� Dirceu. Considera-se tra�do pelo ministro Luiz Fux que o �assediou durante seis meses� por seu apoio para ingressar na Suprema Corte. Uma vez sentado na cadeira de espaldar alto, realizado o sonho curricular e garantido pela vitaliciedade do cargo, Luiz Fux deu uma banana para Dirceu. Esqueceu-se da promessa de absolv�-lo. Ali�s, quando foi visit�-lo nem se lembrava de que o padrinho era r�u no processo do mensal�o. Ainda ontem, num lampejo moral decidiu suspender o jantar para comemorar seu anivers�rio, oferecido por uma conhecida banca de advocacia do Rio. Haviam sido convidados todos os desembargadores cariocas e, com certeza os ministros do STF. Justamente no momento em que o presidente da Corte Joaquim Barbosa acabava de espinafrar representantes da magistratura, pelo conluio entre ju�zes de advogados.

As express�es �organiza��o criminosa�, �peculato�, �lavagem de dinheiro� e outras do vocabul�rio delitivo aparecem por todos os lados definindo o crime dos r�us. Por enquanto ningu�m foi preso. Espera-se o �tr�nsito em julgado� da senten�a. Enquanto isso Jos� Dirceu tenta �embolar o meio de campo�, como se diz no futebol. A suspei��o de Fux permitiria embargos � execu��o da senten�a. Mas, e a g�nese de tudo? Quem engravidou a honesta donzela republicana, provavelmente, jamais saberemos. O operador do mensal�o Marcos Val�rio conta a hist�ria de Lula no exerc�cio do tr�fico de influ�ncia para levantar 100 milh�es de reais do grupo Portugal Telecom, para salvar as finan�as do seu partido. Quem pode confiar nas hist�ria de um r�u condenado a mais de 40 anos de pris�o e que s� agora resolveu abrir o bico? Ele s� fez o parto. O Don Juan sedutor ter� sempre a sua identidade preservada. Sabia-se da fr�gil reputa��o da donzela. Mas saber que ela vivia num prost�bulo, como se fosse numa catedral, choca at� mesmo aos insens�veis. Tento explicar: na organiza��o pol�tica do estado, o parlamento � a sacra catedral que faz as leis. No cotidiano da sociedade de consumo, as grandes catedrais s�o os bancos. Neles, recebemos dinheiro e pagamos contas. Nossa vida est� ali, em seus computadores. Por isto, a legisla��o banc�ria � estrita, para evitar fraudes, peneirar clientes e impedir que o sistema financeiro sirva ao delito como porta de entrada ou sa�da. Como foi poss�vel, assim, que fraudes milion�rias para corromper parlamentares tenham tido origem em dois bancos, um deles, inclusive, que leva o nome do pa�s, e est� sob o controle do governo?

A r�gida legisla��o banc�ria, inchada por dezenas de controles internos ou cobran�as de taxas por qualquer servi�o, foi incapaz de descobrir as fraudulentas extravag�ncias cometidas pelo Banco do Brasil e pelo Banco Rural para financiar a compra de parlamentares. O Banco Central controlou o qu�? T�o exigente conosco, os pequenos correntistas, e t�o permissivo, cego e mudo com centenas de milh�es de reais desviados � ag�ncia de publicidade de Marcos Val�rio, para alimentar o propinoduto. O diretor de marketing do Banco do Brasil desviou R$ 73,8 milh�es do fundo de cart�es de cr�dito, como �pagamento antecipado� por servi�os fict�cios a tal ag�ncia de publicidade. Na fraude grosseira o Banco do Brasil aceitou 41.650 notas fiscais �frias�, falsificadas pelo publicit�rio que alimentava a corrup��o. Notas frias, mas por certo, garantidas quanto o pagamento por alguma autoridade de p� quente. Quem autorizou? Milhares de brasileiros, e o pr�prio Tesouro Nacional s�o clientes do nosso maior banco p�blico. O BB teria virado uma absurda bagun�a? O povo jamais saber� a verdade subjacente neste que � o mais pol�mico epis�dio da pol�tica brasileira. De chibata em punho o negro Joaquim Barbosa tenta conter a fome agressiva de um bando de tigres albinos. O conluio precisa acabar em nome dos m�nimos padr�es exigidos pela moral republicana. De p� e sem economizar adjetivos pode at� parecer malcriado, mas funciona.

O autor, Zarcillo Barbosa, � jornalista e articulista do JC




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