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29/03/13 03:00 - Opini�o

O �perd�o� est� na moda e na m�dia: ser�?

Alberto Consolaro
Todos ficaram com os pensamentos embaralhados e as l�nguas paralisadas quando foram indagados: o que � perd�o? Muitas pessoas, inclusive eu, j� disseram como o ex-presidente Lula: a m�goa s� faz mal ao hospedeiro! � verdade, mas tirar a m�goa pode ser apenas uma das etapas desta dif�cil atitude chamada perd�o. O perd�o est� na m�dia! Virou moda o rep�rter perguntar �s vitimas dos crimes: voc� o perdoa? O Judici�rio alivia as penas de quem confessa e pede perd�o publicamente. O cidad�o embriagado que arrancou o bra�o do ciclista em S�o Paulo e o jogou no rio, inviabilizando o reimplante, foi perdoado, e parece que sinceramente, pela v�tima. O �cidad�o� que cometeu os v�rios crimes monstruosos de estuprar e matar, identificado e preso esta semana em Bauru foi �v�tima� da pergunta do rep�rter: voc� pede desculpas ou perd�o? Ele responde: eu j� fiz, ent�o para que pedir perd�o? Se ele pedisse, ningu�m acreditaria mesmo, nem o rep�rter que fez a pergunta!

Perd�o tem validade se for sincero interiormente, consigo mesmo, se n�o vier acompanhado de qualquer retalia��o e especialmente se for primariamente para o bem do outro, ou seja do agressor, e n�o esperando o al�vio para si mesmo. O perd�o me parece verdadeiro quando � para o pr�ximo e apenas secundariamente para si mesmo. Perdoar � n�o se vingar, n�o retaliar, n�o tripudiar ainda quando isto for totalmente poss�vel. Perdoar n�o significa necessariamente abra�ar o agressor, conviver com ele e partilhar a vida cotidiana com aquele que lhe fez mal, e nem mesmo, perdoar significa abrir m�o de seus direitos civis e indenizat�rios.

Perdoar passa por sublimar e n�o se mortificar pelo sentimento da m�goa, tristeza e solid�o. Perdoar sinaliza ao agressor que na vida ele n�o ganhou um inimigo, apenas indica que ele encontrou algu�m com um grau muito maior de compreens�o do mundo e suas leis naturais. Se o agressor perceber isto se sentir� perdoado e dir�: fui mal! A� se arrependeu mesmo. Caso ele n�o tenha esta sensibilidade para tanto, o tempo o conduzir� necessariamente para este caminho: apenas o tempo e nada mais! E pode demorar anos. O marido da v�tima gr�vida, estuprada e assassinada que deixou duas crian�as pequenas �rf�s respondeu ao rep�rter: sim, eu o perdoo pelo que fez! Por sua vez, o profundamente sincero e experiente taxista, do alto de seus 72 anos de vida, esfaqueado no peito pelo mesmo frio agressor, respondeu: este cara tem que ser morto! N�o o perdoou.

Perdoar n�o � indeniza��o do tipo: �perdoo porque sen�o vai fazer mal para mim; fica prejudicando a gente mesmo.� Isto n�o � perd�o no sentido maior do cristianismo e ou do humanismo, pois est� perdoando para obter-se benef�cios pr�prios. Perdoar de verdade n�o � f�cil, � muito dif�cil por que � para o pr�ximo e n�o para si mesmo. Estes pensamentos refletem minha singela opini�o, apenas isto, mas eu sei que alguns reagir�o e por isto j� pe�o seus perd�es verdadeiros antecipadamente! Se colocar no lugar destas v�timas e de seus parentes mais pr�ximos que ainda assim perdoam seus agressores pode representar um exerc�cio de humildade e reflex�o sobre nosso autoconhecimento. Ali�s, feliz P�scoa!

Alberto Consolaro, articulista e colunista do JC Ci�ncias - Professor Titular da USP em Bauru




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