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17/03/13 00:00 - Ser

Entrevista - Maria Adelaide Amaral e Vincent Villari

Ado��o � o foco de �Sangue Bom�

Consci�ncia individualista versus consci�ncia coletiva: ter ou n�o ter no��o do espa�o � sua volta. � esse mote que norteia Sangue Bom, novela das 7 que estreia em 29 de abril, na Globo. A autoria � de Maria Adelaide Amaral e Vincent Villari, escritor que estreou na TV aos 18 anos e agora assina sua primeira novela como coautor.

A dupla recebeu a reportagem no apartamento da escritora, no bairro de Higien�polis, zona oeste de S�o Paulo, para apresentar personagens, causas e efeitos de um enredo que embala ado��o e valores �ticos num bom romance, como conv�m a um folhetim.

Um pouco a contragosto, a inquieta dona da casa posa para fotos. �Detesto formalidades�, diz Adelaide, que uma vez se recusou a ter o nome indicado para a Academia Paulista de Letras. �N�o ia dar certo, eu falo muito palavr�o e tenho muitas coisas que gosto de fazer, para ter de fazer qualquer outra coisa por obriga��o.� A seguir, um resumo da conversa.

Qual ser� a trama central?

Maria Adelaide Amaral -
Temos quatro jovens de classes sociais diferentes. Tr�s deles t�m uma liga��o muito forte porque se encontraram na mesma casa de ado��o. O Bento (Marcos Pigossi) mora l� at� hoje, construiu uma ed�cula ali, tem uma floricultura, dirige uma cooperativa de flores, negocia com a Ceasa e envolveu todo mundo da rua na cultura de flores. A Amora (Sophie Charlotte), aos 10 anos foi adotada por uma estrela, uma fulana que sempre foi uma grande canastrona, que faz e acontece pra jamais sair da m�dia. Isso pode variar de barracos a ado��o de crian�as, e Amora � uma delas. Quando a novela come�a, temos Amora, uma It girl, uma senhora criada � sombra da B�rbara Ellen (Giulia Gam), em quem projetou todos os seus desejos e aspira��es.


A menina � proje��o da m�e?

Maria Adelaide Amaral -
Amora � uma estrela da m�dia. N�o s� estampa capas de revistas como tem um programa na TV fechada, Luxury, dirigido � classe A-A-A. Gostou, n�o gostou? Voc� vai gostar de muita coisa, vai reconhecer muita gente (risos). Mas n�o nos inspiramos em algu�m espec�fico, n�o.

Vincent Villari - O foco � muito direto: s�o as pessoas que optam por transformar sua vida pessoal num espet�culo, em material de consumo, versus quem opta por levar uma vida mais genu�na e prezar as amizades, as rela��es com seus vizinhos, familiares. Existe essa consci�ncia coletiva versus a consci�ncia individualista, do n�cleo da B�rbara Ellen, a Amora, o Natan Vasquez (publicit�rio interpretado por Bruno Garcia), S�o dois universos distintos, que v�o se cruzar atrav�s da rela��o entre Bento e Amora, que se amam, a despeito de todas essas diferen�as, desde a inf�ncia, desde o lar de ado��o. Quando os dois se reencontram, o conflito principal acontece no movimento de um tentar trazer o outro para o seu mundo.


A dire��o da Globo sugere temas?

Maria Adelaide Amaral -
Eles sabem que eu n�o escrevo novela das 9, n�o tenho mais sa�de pra produzir 40 p�ginas por dia. Eu fa�o novela das 11, novela das 7, novela das 6, onde ali�s eu comecei, fazendo Anjo Mau, que foi onde ele (aponta para Vincent) veio trabalhar comigo. Era uma novela das 6, hoje em dia n�o passaria nem �s 9.


Por qu�?

Maria Adelaide Amaral -
� uma novela muito forte, que mexe, sem cerim�nia, com temas como corrup��o, Bras�lia, o vil�o era eleito deputado federal, havia crimes. Hoje, o controle � outro, tem a classifica��o indicativa. Voc� n�o pode fazer mais nada. O personagem pega um copo, mas n�o pode beber. Imagina, uma novela (Anjo Mau) em que se pegava u�sque � vontade?


Mas na novela das 9 sempre bebem.

Vincent -
Das 9 pode.

Maria Adelaide Amaral - Arma tamb�m n�o pode.

Vincent - Brindar, eles deixam. Agora, personagem consumir �lcool, n�o. A personagem da Cl�udia Raia em Ti-ti-ti vivia recebendo as clientes do Jacques Leclair com uma ta�a de champagne, e a� eles pediram pra dar uma cortada nesse champagne.


Mas �eles� s�o quem? A pr�pria emissora faz um autocontrole ou essas recomenda��es v�m de fora?

Maria Adelaide Amaral -
N�o sei, mas isso � um problema. Ti-ti-ti era de classifica��o livre e foi reclassificada por eles, l� em Bras�lia, n�o por n�s, para 10 anos. Vai saber o que se passa pela cabe�a deles. E eu que achei que fosse me libertar disso quando acabou a ditadura...


O Silvio de Abreu disse que �s 19h n�o pode botar arma na m�o de personagem nem para amea�ar, o que � um contraste aos crimes dos notici�rios do hor�rio: pode no notici�rio, n�o na fic��o.

Vincent -
� uma quest�o muito delicada. Em Cobras & Lagartos, que fiz com o Jo�o Emanuel Carneiro, o personagem teve que ser assassinado com uma tesoura. N�o podia arma, n�o podia faca, matamos com tesoura.


Voc�s t�m preocupa��o em inserir merchandising social na novela ou recebem alguma recomenda��o?

Maria Adelaide Amaral -
N�s temos, por nossa conta. Na sinopse, tem essa cooperativa, e a Malu (Fernanda Vasconcelos) tem a Toca do Saci, de educa��o art�stica para menores carentes.

Vincent - Mas n�o � algo que a gente pare a hist�ria para divulgar...

Maria Adelaide Amaral - E o Bento vai dar aula de horticultura, isso vai crescer. � inten��o transformar isso num projeto como o Meninos do Morumbi.

Vincent - O que nos interessa � desenvolver com contund�ncia as rela��es humanas da hist�ria.

Maria Adelaide Amaral - E fazer esse contraponto entre personagens midi�ticos, cuja vida � uma performance, e os que buscam uma integridade e t�m um prazer enorme nas coisas que fazem, ao inv�s de ficarem preenchendo vazios interiores que ser�o sempre buracos enormes e impreench�veis, enquanto voc� botar as fichas naquilo que est� fora de voc�. Essa insist�ncia, que decorre da pr�pria hist�ria de conflitos amorosos, � uma forma de dar um toque.


E tem a quest�o da ado��o.

Maria Adelaide Amaral -
Que � um processo dific�limo no Brasil.

Vincent - A B�rbara tem certeza de que a Angelina Jolie se inspirou nela. Porque tudo come�ou quando ela adotou a Amora e mostrou a Amora ao mundo. Isso foi muito antes de a Angelina Jolie e do Brad sa�rem por a� adotando. Na cabe�a dela, a hist�ria dela teve repercuss�o internacional. Ela constr�i um mundo de fantasia e acredita nisso.

Maria Adelaide Amaral - Como um monte de gente que a gente conhece.

Vincent - E quando a Malu (filha biol�gica de B�rbara) tenta trazer a m�e para o mundo real, ela rejeita, repele, n�o quer saber.


� uma doen�a.

Maria Adelaide Amaral -
Sem d�vida, isso se chama aliena��o, mas isso � o que mais tem. Na verdade, pessoas como a Malu e o Bento s�o exce��es. As pessoas querem ser famosas, ponto, sem ter um trabalho que justifique a fama, � o sucesso sem trabalho e a fama sem m�rito.

Vincent - O pior n�o � a exist�ncia desses valores, mas o fato de que eles se tornaram t�o banais, que ningu�m mais reflete a respeito.

Maria Adelaide Amaral - N�o tenho nada contra o sucesso e a fama, mas �cad� o teu trabalho?�, pergunto.

Vincent - Essas pessoas tinham menos espa�o e mais pudor, um tempo atr�s. N�o s� tinham menos espa�o, como lhes concediam menos espa�o, as pessoas n�o ficavam babando. E � um movimento mundial, n�o � caracter�stico do Brasil. Antes, quando as pessoas queriam se valer da fama pela fama, havia um senso comum de que isso era o errado. Na �ltima d�cada, principalmente, isso passou a ser o correto, passou a ser o esperado. Hoje em dia, as m�es querem que as filhas sejam capa de revista, participem de reality shows, as m�es hoje em dia aspiram isso.


Bairros como cen�rio

Ap�s tantas esquinas dos Jardins, Morumbi e Vila Madalena, para n�o citar Masp e outros cart�es-postais �bvios da S�o Paulo vistos nas novelas, � chegada a vez da Casa Verde. O bairro da zona norte de S�o Paulo abrigar� o n�cleo principal de Sangue Bom, novela que substituir� Guerra dos Sexos no fim de abril.

�� um bairro de classe m�dia, em que moram Bento e Giane (Isabelle Drummond) e no qual fica o Canta�, um bar de m�sica ao vivo frequentado por grande parte dos personagens�, conta Maria Adelaide Amaral. Ali est� tamb�m a ideia de comunidade, de coletividade, em que vizinhos se ajudam mutuamente.

Outros pontos da cidade a ganhar flashes na trama s�o Pacaembu, Alto de Pinheiros e Jardim Am�rica, al�m de loca��es como MAM, Museu da L�ngua Portuguesa, na Luz (que mal d� as caras em novela), Parque do Povo e Parque da Juventude.

Pela primeira vez na fun��o de coautor, Vincent Villari participou da elabora��o da sinopse e abra�a a miss�o de fazer as escaletas que determinar�o qual fatia caber� a cada um dos seis roteiristas que acompanham a dupla de autores de Sangue Bom.

Cada um cuida de um n�cleo, e aqui teremos nada menos que 62 personagens. Adelaide n�o abre m�o do texto final. Com ela, Villari fez A Muralha, Os Maias, A Casa das Sete Mulheres e Ti-Ti-Ti, al�m de Anjo Mau, sua estreia na TV. Com Jo�o Emanuel Carneiro, colaborou em Cobras & Lagartos, Da Cor do Pecado e A Favorita. Na dire��o de n�cleo, Sangue Bom tem Dennis Carvalho.




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