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09/02/13 01:30 - Opini�o

Di�logo carnavalesco

Jos� Fernando da Silva Lopes
H� anos a cena se repete em quase todas as manh�s. Ele fica na cal�ada oposta observando o movimento do caf� do outro lado da rua, principalmente da mesa que recebe os mesmos freq�entadores desde a inaugura��o do estabelecimento. Quando percebe que a maioria daqueles habituais companheiros de mesa j� tomou assento, ele atravessa a rua aproxima-se sem dizer bom dia e sem olhar especificamente para qualquer deles e com certo ar de espanto e cerim�nia faz refer�ncia a assunto que foi manchete do dia numa de nossas r�dios e que lhe despertou preocupa��o. Depois de algum coment�rio aleatoriamente enfrentado diante da not�cia-tema que o impressionou, ele recebe convite para um caf�, d� a conversa por encerrada e, solit�rio, vai tomar seu caf� no balc�o. Pouco depois deixa o local sem olhar para o pessoal da mesa, sem agradecer a gentileza pelo cafezinho e sem despedida.

Dia desses - e aqui se mistura em licen�a carnavalesca o real com imagin�rio - a cena ritual�stica repetiu-se. Na hora certa ele atravessou a rua e, como sempre, tascou o tema do dia: - O programa do Net�o falou que a sa�de vai distribuir cinco mil camisinhas no carnaval. O di�logo seq�encial saiu - estamos no carnaval reino do imagin�rio - mais ou menos assim: - Puxa e voc� vai buscar? - N�o, carnaval traz recorda��es que entristecem. - Mas como? Carnaval � alegria, descontra��o e tristeza nesses dias n�o tem sentido. - Tem sim! Onde foram parar os carnavalescos que lotavam os clubes? O que aconteceu com a turma do BTC, da Luso, do BAC, dos Banc�rios? Onde foi parar a patota da Panela de Press�o? Eram milhares e n�o sei para onde foram, que rumo tomaram na vida. Esse sumi�o machuca e a saudade daqueles tempos n�o pode trazer alegria. - Mas, tamb�m n�o � motivo para tristeza. A H�pica do nosso Clovis Sim�o, que sempre saboreia seu cafezinho na mesa aqui ao lado, mant�m com muito sucesso a tradi��o daqueles tempos.

- N�o � a mesma coisa! Carnaval tem que ser no carnaval. Pr�via � pr�via e carnaval � carnaval. Uma coisa � uma coisa e outra coisa � outra coisa. E distribuir camisinha de gra�a n�o � carnaval! - Pois �, mas os tempos mudaram. - Mudaram para pior e isso � tristeza e n�o alegria. - Voc� est� amargo. Camisinha tornou-se quest�o de sa�de p�blica. E afinal vamos ter desfiles no Samb�dromo e pelas not�cias teremos festa de arromba com escola de samba e blocos, tudo muito bem preparado. E consta que nesse ano com sistema de som perfeito.

- Isso � bonito. Mas � imita��o modesta dos ricos desfiles cariocas preparado para tur�sticas e patrocinados pelos bicheiros. Aqui o pessoal vai na ra�a, na base do amor e da boa vontade. No fundo, nosso desfile por melhor que seja tem um lado triste porque � fruto de muito sacrif�cio e da dedica��o de uns poucos. - Hum... - E tem mais. Para Bauru prefiro o corso da Batista como antigamente, com serpentina, confete e lan�a perfume, com pierr�s, colombinas e arlequins entoando marchinhas. Viram a impec�vel fantasia do Raduan no Bauru Ilustrado de s�bado passado? Algu�m hoje sabe o que � corso, pierr�, colombina? Algu�m se recorda de alguma marchinha? A desinforma��o � total e alienante! O passado que era bom morreu, acabou-se e ponto final. Morte � tristeza. - Melhor voc� tomar seu caf�. Ele entrou e momento depois saiu. Como sempre sem agradecer e sem despedir-se, silenciosamente com fei��o de tristeza incompat�vel com o carnaval e exigente, at�, de uma boa m�scara carnavalesca. A do Ministro Joaquim Barbosa tem feito muito sucesso.

O autor, Jos� Fernando da Silva Lopes, � advogado





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