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14/12/09 03:00 - Opini�o

A modernidade dos anos 60

Emerson Hortolan
Lendo a edi��o de s�bado do JC encontrei uma mat�ria surpreendente: querem que se obrigue o fechamento do com�rcio aos finais de semana. Voltei, por op��o, a Bauru h� 14 anos, depois de 18 distante daqui. Buscava qualidade de vida, buscava a tranq�ilidade da cidade m�dia paulista. Agora querem remeter-me ao bucolismo da minha inf�ncia, l� pela d�cada de 60. Fico me perguntando a quem uma lei � que, por Deus, n�o poder� vingar � que pro�be o trabalho do com�rcio aos finais de semana interessaria. � fam�lia comum da cidade? Certamente n�o, pois a cidade, nitidamente, tem uma car�ncia de lazer, que o com�rcio acaba, pelo menos parcialmente, compensando. � fam�lia da regi�o? Certamente n�o, pois v�rias cidades v�em em Bauru uma interessante op��o, para onde se dirigem aos finais de semana para compras em geral: de supermercado, de vestu�rio, de bens dur�veis. Ao empresariado do com�rcio? Evidente que n�o, afinal os finais de semana representam cerca de 40%, talvez 50% de seu faturamento. � municipalidade? Tamb�m n�o, afinal o aumento do com�rcio e do fluxo de pessoas na cidade traz, por conseq��ncia �bvia, eleva��o na arrecada��o de impostos. A outras administra��es municipais de cidades da regi�o? Penso que sim. Mar�lia, por exemplo, adoraria que nosso com�rcio permanecesse fechado aos finais de semana. Quem sabe n�o � um primeiro passo para fech�-lo para sempre? Ao trabalhador do com�rcio? Touch�!!! Ao trabalhador do com�rcio � que a lei, se aprovada (rezemos um Pai Nosso!), faria a maior diferen�a. Vamos fazer uma continha simples, de matem�tica �tico-tico�: se um trabalhador cumpre uma jornada de 44 horas semanais, durante cinco dias �teis, o com�rcio, aberto 8 horas e meia por dia, esgotaria a sua jornada. Se ao contr�rio do que deseja a lei � e, me ajudem, quem mais? � o com�rcio permanecer aberto 7 dias por semana, 10 horas por dia, num total de setenta horas por semana, precisar�amos da jornada de 1,59 comerci�rios. Ou seja, o projeto de lei pretende transformar cada 159 comerci�rios existentes atualmente em apenas 100. Claro que a conta n�o � t�o simples. Afinal, se o fim de semana representa 50% do faturamento do com�rcio, certamente a redu��o dos postos de trabalho ser� muito, muito mais radical. Tenho ainda outras d�vidas: ser� que, por exemplo, o Wal-Mart, os grandes magazines do Shopping e do Cal�ad�o (Riachuelo, Pernambucanas, Casas Bahia, M. Luiza, Americanas, Marisa, C&A, Renner) teriam se instalado em Bauru se a legisla��o j� existisse? Ser� que haveria o enorme investimento observado no Bauru Shopping nestes �ltimos anos se a lei j� existisse? Ser� que grandes administradores de shopping centers estariam avaliando a implanta��o de novos empreendimentos se a lei j� existisse? Ser� que esta discuss�o persistir� se a lei for aprovada? Ser� que grandes redes de alimenta��o teriam investido aqui com seus restaurantes se a lei j� existisse? Ser� que a grande rede supermercadista da cidade teria progredido tanto, inclusive fazendo marcas dom�sticas migrarem para outras cidades, ou marcas de outras cidades migrarem pr� c� se a lei j� existisse? Ser� que todos esses empreendimentos aqui permanecer�o aqui se a lei for aprovada? A hip�crita justificativa de que os trabalhadores nada ganham com isso, pois n�o recebem horas extras, ou ainda que o trabalho tem ceifado seu conv�vio familiar, � rid�cula.

Se n�o se paga horas extras tem-se um problema para nossos fiscais do trabalho e para nossos advogados trabalhistas (ah! estes dois quadros de profissionais tamb�m dever�o ser reduzidos, se aprovada a lei!) e n�o para legisladores getulistas. E, finalmente, se o trabalhador n�o tem emprego, provavelmente tamb�m n�o ter� fam�lia e, tamb�m, n�o precisar� dos finais de semana para com ela conviver. Quando at� o Lula, nosso mais ilustre �trabalhador�, come�a, mesmo timidamente, a discutir a reforma de nossa �moderna� legisla��o trabalhista que est� perto de completar um centen�rio, nossa pobre cidade come�a a discutir como torn�-la p�trea. A hipot�tica aprova��o de uma lei t�o absurda � um retrocesso que levar� nossa t�o sofrida cidade at� a d�cada de 60 ... do s�culo passado. Onde a op��o de compra era o Bar do �seu� Altino, ali na Afonso Penna, onde nem o superado pr�dio do F�rum ainda havia sido constru�do.

Sugiro aos vereadores de vanguarda que, como pr�ximo projeto de lei, possamos proibir em nossa cidade a circula��o de Toyotas, Mitsubshis, Hondas, Mercedes, BMW�s, Hiundays, permitindo a circula��o, exclusivamente, dos gloriosos Ladas russos. Sugiro aos nossos ilustres vereadores que, se aprovado o inteligente projeto de lei, possamos passar a discutir imediatamente a constru��o de um muro que contornasse toda a cidade. Poder�amos mudar, inclusive seu nome,para �Bauru Oriental�. Que tal? Afinal o muro foi, talvez, o maior s�mbolo da modernidade e toler�ncia do s�culo passado. Tudo compat�vel com a modernidade e o bucolismo dos anos sessenta.

O autor, Emerson Hortolan,� empres�rio em Bauru




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