Final de tarde num dia de semana qualquer nos Altos da Cidade. Dentro de um carro, acomodado no colo do motorista, nosso amigo n�o tem a m�nima desconfian�a de que a janela entreaberta, permitindo a entrada da brisa refrescante, ser� a �porta� para dores e marcas a serem carregadas para o resto da vida. O autom�vel continua em movimento, at� que, pr�ximo ao Bosque da Comunidade, o golpe.
I�ado s�bita e violentamente para fora, ele apenas sente seu corpo pequeno e fr�gil girar em volta de si mesmo e, logo ao ganhar certa altura, violentamente � atra�do para o ch�o, por onde os pneus dos carros, com a mesma velocidade com que acabara de ser impiedosamente arremessado, por um triz n�o estra�alham seus ossos junto ao asfalto quente. A dor � insuport�vel, e n�o h� como pedir ajuda, tampouco �anotar a placa�.
Ferrugem tem dois anos. O p�lo sedoso e dourado que recobre o saud�vel e feliz gato n�o esconde as marcas que, se n�o est�o na mem�ria do nosso amigo chamado de irracional, est�o tatuadas na pata direita do bichinho que, em 2007, foi jogado de um carro em movimento e, por muito pouco, n�o acabou esmagado por ve�culos que vinham logo atr�s.
Com dois pinos de metal na perna, o simp�tico e amoroso Ferrugem tem a pata retorcida, quase que invertida totalmente, como seq�ela da agress�o dolosa que sofreu em frente a um antigo ponto de desova de animais, conforme definem entidades bauruenses que zelam pela sua prote��o. �Ele foi arremessado de um carro em movimento e teve a pata direita mutilada. �Chorava� de dor�, recorda Sandra Regina Daniel Ariede, que dirige a ONG SOS Gatinhos.
Uma transeunte resgatou o bichano, que foi entregue aos cuidados da entidade. Hoje, o felino, que teria tudo para ser arredio, tem nos pinos met�licos das pernas o tra�o �nico da crueldade a que foi submetido. �Ele nunca deu trabalho�, comenta a diretora da entidade, que, al�m de Ferrugem, tamb�m abriga outras v�timas de maus-tratos.
Atualmente abrigada, mas tamb�m � espera de um lar definitivo, a gatinha �Mimi� era razoavelmente feliz na condi��o de semi-errante (animal de rua, mas alimentado), gra�as a pessoas caridosas no Centro da cidade. At� que um dia a estupidez falou mais alto. Prenhe, a gata foi esmagada com uma solada nas costas, perdeu a ninhada e, por muito pouco, tamb�m n�o a vida.
Mas n�o s�o apenas os bichanos que sofrem nas m�os humanas, o melhor amigo do homem n�o escapa do a�oite. Mesmo quase que restrita a gatos, a entidade tamb�m abriga os c�es Nil e Leoni, que, se antes exibiam feridas purulentas, abertas e infeccionadas, sem sequer andar, hoje correm e saltam ao lado dos felinos. |