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21/11/09 03:00 - Opini�o

Sem ci�ncia e sem capricho

Iolanda Toshie Ide
Cansado dos n�meros, o engenheiro comprou uma ch�cara no nordeste para onde se mudou. Julgando simples, enveredou-se a cultivar frutas, entre as quais maracuj�. Reprovava a falta de ordem e capricho do vizinho. Contratou um carpinteiro para fazer um amplo suporte para um futuro caramanch�o. Tanto adubou as mudas que algumas feneceram. As que vingaram cresceram vigorosamente. N�o demorou para formar um verdejante caramanch�o onde apontaram os bot�es prometendo as famosas flores do maracuj� cantados por poetas - �n�o te enojem teus ouvidos de tantas rimas em �a�, mas ouve meus juramentos, meus cantos ouve, sinh�; te pe�o pelos mist�rios da flor do maracuj�.

Nada mais apropriada que uma rede debaixo do caramanch�o. Instalou os ganchos que no nordeste se chama armadores. Dependurou sua rede de longas varandas de croch�. Deitou-se refestelando-se com o �xito de sua empreitada de lavrador. Logo um zumbido atrapalhou seu esp�rito citadino. Mamangaba, bicho feio cuja picada parece matar qualquer vivente. Armou-se de inseticidas e aplicou-lhes generosas lufadas sobre elas. Matou-as todas. Que al�vio. Voltou todas as tardes (e manh�s tamb�m) a se refestelar na rede de belas varandas crochetadas por h�beis m�os femininas. Como de costume, o vizinho apareceu para ofertar frutos da terra por ele amainada: mandioca, ab�boras e maracuj�s. Como assim, maracuj�s? Estranhou que em seu caramanch�o caprichado n�o havia nenhuma fruta. No do vizinho - sem ci�ncia e sem capricho - abundavam lindas frutas.

N�o se disp�s a perguntar ao vizinho analfabeto. P�s-se a indagar a seus cient�ficos bot�es sobre as causas pr�ximas e remotas. N�o encontrando explica��o, perdeu o sono, mas n�o se rendeu � consulta ao vizinho sem ci�ncia e sem capricho. Esgotado pela ins�nia, resolveu comentar com o vizinho: - Meu p� de maracuj� n�o deu nenhuma fruta! - Pensei que o doutor s� gostava da sombra e das flores. - Mas eu esterquei e reguei bastante! - Matou todas as mamangabas! - N�o gosto do zumbido desses bichos feios. - Pois � a mamangaba que faz a flor virar maracuj�. - Como assim?

- Ela beija uma flor, depois beija outra. A� nasce a fruta piquinininha. Vai crescendo, crescendo at� amarelar e virar essa gostosura. - Ah �? - O doutor conhece a joaninha? Ela tamb�m tem muita serventia pra lavoura. As abelhas, as minhocas, os passarinhos, todas as criaturas de Deus (afirmou erguendo o chap�u). - � isso a tal da biodiversidade? - Sei nada n�o dessa ci�ncia das alturas, mas o que Deus fez alguma serventia havera de ter. N�o quero ensinar ao doutor - Deus me livre dessa pretens�o - mas o p� de ab�bora n�o carece de jirau.



A autora, Iolanda Toshie Ide, � presidente do Conselho Municipal dos Direitos das Mulheres de Lins, professora aposentada da Unesp e colaboradora de Opini�o




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