Bauru e grande região - Sexta-feira, 04 de outubro de 2024
máx. 31° / min. 12°
13/09/09 03:00 - Cultura

Sobre mundos: �Marcas de um Passado�

Padre Beto/Especial para o JC
Michael foge, com seu irm�o mais novo, para uma pequena cidade rural onde tenta recome�ar longe do seu passado que ainda o assombra. Enquanto esconde seu irm�o em um hotel barato, o jovem trabalha em uma loja de conveni�ncia, onde tudo parece seguir na mais perfeita ordem. Dessa mistura de passado e presente vem � tona um final arrebatador e surpreendente, onde nada � o que parece ser. Tim McCann prova com o filme �Marcas de um Passado� que o presente pode estar repleto do ausente.

Com o imperativo �O que vos digo, digo a todos: vigiai!� (Marcos 13, 33-37), Jesus termina mais um discurso. Mas o que significa concretamente �vigiar�? Sartre em seu livro �O Ser e o Nada� nos oferece um exemplo simples que pode nos levar a uma compreens�o profunda do pedido feito pelo Cristo. Eu marco um encontro em um bar com um amigo chamado Pedro. Chego ao local com quinze minutos de atraso e sei que Pedro � pontual em seus compromissos. Imediatamente sobrev�o o local com meus olhos. Neste movimento do olhar, tudo no bar se torna um �pano de fundo� e Pedro � a presen�a, o foco de minha aten��o.

Apesar de n�o encontrar o amigo, todo o resto n�o possui significado e muito menos apreende minha aten��o. Em outras palavras, neste momento, tudo, objetos e pessoas (conhecidas ou n�o), s�o �nadificadas� pela minha mente. Tudo se torna um nada, enquanto que o �nico ser � Pedro. Vamos supor que chego � conclus�o que Pedro n�o se encontra mais no local, eu tomo lugar em uma mesa e na sua espera come�o a prestar aten��o livremente em tudo que est� ao meu redor. A partir deste momento, as coisas e pessoas que eram nadificadas, do nada se transformam para mim em determinados objetos e pessoas com caracter�sticas como beleza, fei�ra, simpatia, estranheza, etc.

Com este exemplo, Sartre nos alerta que tudo depende da dire��o de minha aten��o, ou seja, de minha consci�ncia. O grande problema para o ser humano � que ele j� nasce e � educado a ser e a viver �em situa��o�, a estar mergulhado em uma atmosfera social e cultural que direciona sua aten��o para determinado foco. Isso faz com que ele n�o tenha a liberdade de ver e experimentar as situa��es com uma aten��o vigilante, mas uma aten��o condicionada. Coisas simples do cotidiano como o despertador para o trabalho ou estudo, cartazes, comerciais de televis�o, formul�rios de impostos, conven��es sociais, preceitos religiosos, etc., condicionam nossa aten��o de tal forma que desaprendemos a ser atentos e estamos condicionados a fazer as coisas e julgar as situa��es automaticamente.

Vivemos em um mundo imediato que cria e recria em n�s uma consci�ncia irrefletida e irreflexiva. Nosso ser est� imediatamente �em situa��o�. Desta forma, n�o fazemos um ju�zo pr�prio das situa��es e agimos conforme for�as externas desejam que venhamos a agir. O despertador me alivia de uma decis�o �tica: ficar na cama ou ir ao trabalho. A moda me alivia de uma verdadeira escolha sobre o que vestir. Conven��es sociais e preceitos religiosos me retiram a responsabilidade de escolher meu estilo de vida. A economia de mercado me condiciona a viver segundo o capital e a consumir muitas vezes o que n�o preciso.

O �vigiai!� de Jesus � uma atitude de ir �al�m do mundo�, do mundo escolhido para n�s, mas que n�o foi escolhido por n�s. Vigiar significa descondicionar nossa aten��o e come�ar a ter uma aten��o vigilante como se estiv�ssemos observando as coisas pela primeira vez. Este exerc�cio nos faz trazer do �mundo do nada� aspectos da vida que podem ser importantes para todos n�s. Existem aspectos de nossa vida que foram nadificados e que precisam ser descobertos pela nossa aten��o.

Este � o exerc�cio do �vigiar�. Nossa miss�o � desenvolver um olhar cr�tico sobre a realidade para que possamos realmente viver, caso contr�rio estaremos sendo e vivendo n�o como realmente gostar�amos e estaremos tamb�m desperdi�ando a oportunidade de eternizar nossa vida dando um sentido a nossa passagem por esta exist�ncia. � preciso sim procurar o �amigo Pedro�, mas � necess�rio tamb�m olharmos ao redor e perceber o que se tornou um �nada�.




publicidade
As Mais Compartilhadas no Face
(SF) © Copyright 2024 Jornal da Cidade - Todos os direitos reservados - Atendimento (14) 3104-3104 - Bauru/SP