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06/09/09 03:00 - Opini�o

Eu reclamo o direito de ser infeliz

Thiago Azevedo Guilherme
Dias atr�s, tive, pela primeira vez em minha vida, a sincera sensa��o de envelhecer e sentir medo do futuro que desponta diante de nossos olhos. Essa esp�cie de velhice antecipada se mostrou para mim fazendo-me sentir pavor do destino da pr�pria humanidade. A mat�ria de capa de uma revista de circula��o nacional gelou-me a espinha e o conte�do da reportagem me fez ter certeza de que, muitas vezes, a raz�o pode produzir monstros.

O texto previa um futuro em que a tecnologia estaria em todos os lugares de nossa vida, nas roupas, t�nis, nas embalagens dos produtos dentro da geladeira. Estaria em nossos �rg�os, em nosso f�gado bi�nico comprado a presta��es e capaz de n�o sintetizar determinada subst�ncias conforme orientado pelo m�dico; estaria em nosso olho scanner marca Carl Zeiss que, al�m de ver, tiraria fotos, filmaria e viria com Photoshop. Enfim, estaria em absolutamente tudo. Todos estes aparelhos seriam inteligentes e capazes de n�veis simples de comunica��o e racioc�nio.

Como as m�quinas teriam, al�m da intelig�ncia, capacidade de comunica��o numa rede de informa��es, todos os nossos dados, de press�o sangu�nea, batimentos card�acos e posicionamento em latitude/longitude no globo terrestre, tudo poderia ser monitorado por esta �matrix light�. Assim, reduzir�amos o acaso e o imponder�vel a n�veis nunca dantes imaginados e, portanto, n�o humanos (de acordo com minha id�ia de humanidade). Estar�amos controlados, selecionados e catalogados. O autor do artigo, por mais bizarro que isso possa parecer, aprovava e incentiva a nova tecnologia, talvez por desconhecer suas conseq��ncias.

Lembrei-me do pen�ltimo cap�tulo de �Admir�vel Mundo Novo�, de Aldous Huxley, em que h� o di�logo entre John, o selvagem, e o chefe, Mustaf� Mond. Nesta passagem, o selvagem, ap�s ouvir as in�meras qualidades e vantagens do mundo perfeito, criado para os homens, e ver como o controle descaracterizou a humanidade afirma: �Eu reclamo o direito de ser infeliz!!!�.Pergunto: Haveria ou persistiria a condi��o humana se fossemos desprovidos do sofrimento? Se estiv�ssemos totalmente protegidos, controlados e tutelados por uma superestrutura que nos impedisse de desobedecer e, conseq�entemente, de sofrer e de existir. Haveria o homem, o Don Quixote, o Hamlet ou o Santo Cristo de Renato Russo? Os grandes pensadores como Brecht, Becket, Tennessee Williams ou Freud? Se me � facultado dividir uma impress�o, � a de que duas coisas definem o humano: a dor e a incompletude. A dor � a conseq��ncia inevit�vel de nossa finitude, de nossa n�o-onisci�ncia e da rela��o do homem com o imponder�vel. Somos humanos porque n�o somos super-homens. A tentativa do controle n�o nos retira a ang�stia, apenas cria mais opress�o, pois os homens perder�o sua sensa��o de liberdade, nada mais.


O autor, Thiago Azevedo Guilherme, � advogado e mestrando em direito pela ITE-Bauru, escreve �s quartas feiras no blog www.setegrausdeseparacao.blogspot.com




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