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02/08/09 03:00 - Cultura

Sobre mundos: Pintar ou fazer amor

Padre Beto/Especial para o JC
William e Madeleine levam uma vida tranq�ila, mas agora est�o sozinhos, j� que a filha se mudou para a It�lia. A vida dos dois se transforma quando decidem comprar uma nova casa e arrumam um novo casal de amigos: Adam, um homem refinado e cego, e sua companheira, Eva. Entre os quatro surge uma cumplicidade que se abre para uma nova forma de relacionamento. William e Madeleine se confrontam com uma nova possibilidade de experimentar a vida. Como � de se esperar, diante da nova possibilidade, o medo aparece com seus fantasmas e este faz com que os dois tenham que tomar a decis�o de viver como sempre ou transformar suas vidas em um relacionamento aberto que exige uma confian�a maior do que aquela que possuem. O sereno filme �Pintar ou Fazer Amor� de Arnaud Larrieu e Jean-Marie Larrieu nos tr�s um roteiro carregado de tens�o sobre a escolha e a constru��o da dignidade.

A par�bola dos talentos contada por Jesus (Mt 25, 14-30) deve ser compreendida com muito mais profundidade do que o simples aproveitamento dos talentos e das potencialidades individuais que possu�mos. Ela nos leva a questionar sobre algo inerente ao ser humano, ou seja, a sua dignidade como pessoa. Mas, afinal, o que significa dignidade? A dignidade � algo pr�prio do Homo Sapiens. Ela possui seu in�cio com a consci�ncia de si mesmo, um talento essencial do ser humano. A partir do momento que tomo consci�ncia de que sou, inicia-se a constru��o de minha dignidade. Por�m, para compreender bem isso, temos que lembrar o esclarecimento de Husserl: a consci�ncia � sempre consci�ncia de alguma coisa. Isso quer dizer que a consci�ncia n�o possui um conte�do pr�prio. Ela sempre � um posicionamento diante de algo. Este posicionamento completa nossa dignidade, ou seja, nos mostra se somos pessoas verdadeiramente dignas. Ter consci�ncia e ter posicionamento s�o �lados da mesma moeda�. Para que isso esteja claro � importante descobrir que o saber mais importante � o saber que se sabe. Em outras palavras, para um ser humano � fundamental saber que se pode possuir um conhecimento das coisas, saber que somos capazes de ter uma consci�ncia diante de qualquer coisa ou situa��o e, por conseq��ncia, um posicionamento pr�prio. O conhecimento de que somos capazes de saber, o conhecimento de nosso talento maior que � a consci�ncia de algo, nos leva n�o somente � consci�ncia pr�pria de uma situa��o, mas principalmente a um posicionamento l�cido diante desta situa��o. A partir daqui, podemos voltar � par�bola. O servo mau e pregui�oso � aquele que sabe que possui o talento essencial da consci�ncia diante do seu universo, mas possui medo diante do posicionamento. A conseq��ncia � desastrosa para ele e a pr�pria vida: ele esconde de si mesmo sua consci�ncia e deixa com que o tempo passe e as situa��es se resolvam atrav�s do posicionamento e a��o de outras pessoas. Ele deixa de ser sujeito de sua hist�ria e para n�o se culpar � incapaz de enfrentar sua pr�pria consci�ncia. Este tipo de pessoa � algu�m que, por exemplo, v� um amigo em uma situa��o ruim e depois de passada a �tempestade� chega para o amigo se desculpando dizendo que se preocupou e at� tinha vontade de ajudar, mas n�o sabia se o amigo gostaria de sua ajuda. Ora, se quero ajudar, n�o preciso perguntar se o outro precisa de ajuda, eu simplesmente ajudo. Fa�o isso porque minha consci�ncia diante desta situa��o me leva a um posicionamento. O empregado bom e fiel da par�bola n�o � aquele que toma o posicionamento mais correto, mas aquele que se posiciona, pois mant�m totalmente sua dignidade. N�s podemos at� errar em nossos posicionamentos e revisar depois nossa consci�ncia diante da situa��o. Mas, dignidade humana � a capacidade de usar da consci�ncia e se posicionar diante das situa��es. Assim estou sendo verdadeiramente humano, filho da luz como afirma Paulo (1 Tessalonicenses 5, 1-6) ou como a mulher forte que pode n�o ser bela fisicamente, mas atrav�s de seu ser no mundo realiza, constr�i, abre suas m�os e se posiciona (Prov�rbios 31, 10-13.19-20.30-31).

Chegando � ess�ncia da par�bola, podemos entender a dial�tica aparentemente paradoxal da frase: �a todo aquele que tem ser� dado mais, e ter� em abund�ncia, mas, daquele que n�o tem, at� o que tem lhe ser� tirado�. Aquele que afirma sua dignidade aprende cada vez mais, pois pensa sobre todas as situa��es � sua frente e depois arrisca, inova, transforma atrav�s de sua a��o. Mas, aquele que n�o exerce seu talento essencial de ser pensante, perde at� mesmo o que j� possui, ou seja, a dignidade, pois pensa com o pensar dos outros, se posiciona para agradar os outros e mergulha sua vida no mesmismo e na mediocridade.




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