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05/06/09 03:00 - Opini�o

Lula 3.0 flex

Lu�s Victorelli
Em 1989, o candidato Lula poderia ser comparado a um parrudo motor a diesel. Original de f�brica, ia bem nas esburacadas estradas de terra, certas vielas acad�micas e esquecidas ladeiras perif�ricas pelas quais trafegava a esquerda brasileira. O problema foi que, embora forte e r�stico, ou at� mesmo por isso, n�o rodava bem nos asfaltos pavimentados durante s�culos pela direita. Rangia nas arrancadas, esfuma�ava nas aceleradas e fazia as elites se borrarem de medo nas ultrapassagens. Sem conseguir empolgar a classe m�dia, n�o emplacou. O povo optou por outro modelo, digamos mais moderno e estiloso, embora com motoriza��o duvidosa. N�o deu outra, fundiu.

Veio ent�o um sofisticado modelo FHC. Mesmo longe de ser uma Ferrari, soube colocar o Pa�s em velocidade cruzeiro, ou melhor, Real. Em meio a privatiza��es pol�micas e prot�tipos de mensaleiros que ajudaram a lhe render uma reelei��o, deixou como maior legado a estabilidade econ�mica que, justi�a seja feita, nasceu no mandato estepe de Itamar. Chegou 2002 e com ele surgia tamb�m um novo Lula, bem diferente da vers�o 89. Algumas mudan�as na carenagem aqui, uma suspens�o male�vel acol� e um bom trato no visual: o vermelho b�sico dava lugar a novas matizes crom�ticas com diversidade ideol�gica, e mais ecl�ticas sob nuances fisiol�gicas. Enfim, passamos o recibo. E assim, tamb�m, foi passada a t�o disputada faixa presidencial.

A maneira atabalhoada que o intelectual requintado e o oper�rio retirante protagonizaram este ato acabou por simbolizar um marco hist�rico para o Brasil. A vis�vel como��o misturada a um �ntimo sentimento de orgulho, paradoxalmente expressado por ambos, revelavam uma ess�ncia que s� a democracia conseguiria proporcionar, e apenas ela capaz de explicar. Fizemos, ent�o, um test-drive na primeira vers�o Lula. Entre trai��es, mensal�es e um competente bolsa-fam�lia, mesmo com alguma inspira��o em bons programas do governo anterior, Lula preparava sua vers�o 2006.

Com generoso espa�o interno, opcionais tentadores e oportunistas itens de s�rie, perde a originalidade, mas ganha a elei��o. Alguns bons resultados nas pol�ticas de inclus�o, a quase marolinha que se transformou a crise internacional e um bagageiro capaz de levar a classe D aos shoppings resulta em altos �ndices de satisfa��o do cliente. Mas n�o sai barato. O apetite de alguns aliados deixa as pe�as mais caras, as revis�es mais salgadas e os cavalos a mais no motor consumem muito combust�vel, bem acima do que governo estaria disposto a bancar. Ali�s, se bobear, encher o tanque dessa turma poder� lhe custar uma Petrobras inteira.

Mas, apesar tudo, negar que Lula � um l�der, pela sua trajet�ria de vida, nato, � pura cegueira. Preservar a seguran�a dos mais ricos, sem tirar a esperan�a dos mais pobres, ou vice-versa, faz dele, seja aqui ou aos olhos do mundo, de fato �o cara�. E isso n�o � pouco. Planejar sua vers�o 3.0 � o m�nimo que poderia se esperar das pranchetas pol�ticas. Resta saber se vale a pena. Para Lula, como cidad�o, penso que n�o. Sua biografia n�o mereceria pagar os poss�veis custos dessa op��o. Como homem p�blico, talvez possa sucumbir � tenta��o de, na falta de op��o, continuar levando os brasileiros no �rumo certo�.

Agora, como uma pe�a que � no emaranhado tabuleiro do xadrez pol�tico nacional, e porque n�o mundial, a opini�o pessoal de Lula ter� import�ncia reduzida num derradeiro jogo de interesses, assim como o seu real poder numa hipot�tica vers�o 2010. Que, caso vingue, ser� mais flex do que nunca.


O autor, Lu�s Victorelli, � jornalista - e-mail: [email protected]




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