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11/05/09 03:00 - Opini�o

Nunca se negou a pensar

Iolanda Toshie Ide
No domingo retrasado, 3 de maio, Milton Santos, refer�ncia mundial em estudos geogr�ficos, completaria 83 anos. Autor de 40 magistrais livros, empreendeu exaustivos estudos geomorfol�gicos e de Geografia Humana da bacia do Rio Paragua�u, com o objetivo de melhorar a vida da popula��o local.

Te�rico mundialmente reconhecido, prop�s, ao ent�o presidente J�nio Quadros, puni��es por il�citos cometidos por banqueiros e exportadores, assim como imposto sobre as grandes fortunas, no que foi acatado. Professor Em�rito da USP, em 1994 recebeu o Pr�mio Internacional Vautrin Lud, considerado o Nobel de Geografia.

Desde crian�a foi um disciplinado estudioso. Iniciou seus estudos com seus pais, professores prim�rios. De sua m�e aprendeu o franc�s aos 10 anos de idade. Desde a juventude dedicou-se � milit�ncia, tendo fundado o Partido Estudantil Popular e a ABES (Associa��o Brasileira de Estudantes Secundaristas), angariado fundos para a constru��o do mausol�u de Castro Alves e fundado v�rios jornais. Professor desde muito jovem, foi tamb�m correspondente do jornal A Tarde.

A perman�ncia em Ilh�us leva-o a aconselhar as autoridades e propriet�rios de terra a deixar a monocultura. Fundador do Laborat�rio de Geomorfologia e Geografia Humana, foi respons�vel pela forma��o de um seleto grupo de pesquisadoras e pesquisadores, muitos dos quais com doutorado na Universidade de Estrasburgo. O golpe militar se abateu sobre ele tendo sido preso e depois exilado na Fran�a, deixando um filho no Brasil. Desenvolveu importantes estudos e exerceu a doc�ncia em Toulouse, Paris e muitas importantes universidades dos cinco continentes. Foi chamado a contribuir em muitos pa�ses da Am�rica, da Europa, da �sia e da �frica. Foi amigo do presidente da Tanz�nia Julius Nyerere.

O ge�grafo Milton Santos falou aos participantes que se propunham a levar a frente a Semana Social Brasileira (SSB). Alertou para os interesses do sistema que primeiro cria a necessidade, em seguida torna-a atraente pela propaganda, enquanto a ind�stria trata de produzir o que apregoou como necessidade. Bombardeada pela propaganda ininterrupta, a popula��o apropria-se, como sua, essa falsa necessidade, levando-a ao consumismo. Assim, as pessoas s�o reduzidas a meras consumidoras, cerceadas no objetivo de serem cidad�s.

Durante um almo�o, falou de sua m�e: �ela era linda!�, de como aprendeu dela o franc�s e ...insistiu num ensinamento que nunca me esqueci: Quem vai construir o Novo Brasil justo? Os ricos, est�o cheios de privil�gios e querem outros mais; os da chamada classe m�dia, temem se comprometer e buscam alcan�ar os privil�gios dos de cima; restam os pobres que s�o criativos para sobreviver. Com eles nascer� o Novo Brasil. Motivos sobraram para ser homenageado com seu nome em uma pra�a defronte da Secretaria Geral da Unicamp onde h� um baob�, �rvore-s�mbolo da resist�ncia do povo negro.

Mais do que a justa homenagem na Unicamp, Milton Santos deixou a n�s, lutadoras e lutadores do povo, um legado de coer�ncia e compromisso: a participa��o no Mutir�o por um Novo Brasil. Ouvimos dele uma s�ria advert�ncia � comunidade acad�mica, �aos que se negaram a pensar num momento de hegemonia neoliberal�. N�s que tivemos o privil�gio de receber seus ensinamentos, que fomos exortados/as a continuar lutando por um mundo menos desigual, carregamos a grave responsabilidade de continuar sua luta nesse momento de crise pelo qual passamos gra�as tamb�m aos que �se negaram a pensar�.

A autora, Iolanda Toshie Ide, � colaboradora de Opini�o




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