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Muitas pessoas preferem o isolamento

A dificuldade para encontrar fam�lias vizinhas que se re�nem todas as noites ou mesmo aos finais de semana mostra o quanto cada vez mais as pessoas preferem o isolamento

Wagner Carvalho
No passado, um dos fatos que pesavam muito na hora de uma fam�lia escolher um novo lugar para morar era a quantidade de vizinhos. Quanto mais fam�lias habitassem o local, maior era a prefer�ncia. Ter vizinhos, naquela �poca, era um dos requisitos que mais se levava em conta.

Atualmente, o processo se inverteu e grande parte das pessoas que procuram um lugar para morar d� prefer�ncia para aqueles onde o n�mero de vizinhos � menor. Quem trabalha no mercado imobili�rio explica que sempre informa ao futuro inquilino de que tanto o vizinho de cima quanto o morador do lado quase n�o ser�o vistos por ele. �A gente sempre fala que, no m�ximo, ter� que cruzar com ele no elevador ou coisa assim�, conta um agente.

O mesmo acontece com quem prefere morar em resid�ncias onde o medo da viol�ncia faz com que muros altos sejam constru�dos e port�es eletr�nicos facilitem instalados. Dessa forma, o morador desce do ve�culo j� dentro de casa e perde a oportunidade de ter um contato maior com o morador do lado, que tamb�m adota as mesmas precau��es.

S�nia Maria Alves Paschoal, psic�loga, mestre em comunica��o e professora de sociologia e psicologia social da Universidade do Sagrado Cora��o (USC) explica que nem sempre essa � a op��o das pessoas, mas a sociedade segue valores padronizados. �Nem sempre o que nos oferecem seria a nossa escolha�, afirma.

A psic�loga acredita que a forma cada vez mais �fria� adotada pela sociedade esvazia cada vez mais os relacionamentos. A professora tamb�m acredita que a falta de tempo impede as pessoas de ter um relacionamento mais estreito com quem reside ao lado. �Muita gente se dedica quase integralmente �s atividades profissionais e, quando chega em casa, ainda tem outros compromissos. Por isso, n�o acham uma brecha para esse tipo de relacionamento�, explica.

Paschoal acredita que, de alguma forma, essa falta de di�logo entre as pessoas chega a afetar a sa�de mental das pessoas. �Todos sabemos que nos relacionamos melhor quando temos a oportunidade de discutir, seja o assunto que for, com outras pessoas�, completa.

C�lia Regina Fontes, professora, possui um apartamento em um pr�dio na Vila Coralina, conta que n�o tem encontrado tempo nem mesmo para cuidar de si pr�pria devido � sua jornada de trabalho. Ela conta que, al�m de lecionar em tr�s per�odos para adolescentes do ensino superior, que j� � um trabalho estressante, ao chegar em casa tarde da noite tem que manter a casa em ordem, e nos finais de semana procura se dedicar � fam�lia que n�o v� a semana toda. �Realmente a rotina di�ria faz com eu nem fa�a id�ia de quem seja o meu vizinho da esquerda, da direita, de cima ou mesmo baixo�, lamenta.

Ademir Neves tamb�m lamenta essa falta de tempo para se relacionar mais com as pessoas. De acordo com ele, a maior parte das vezes em que encontra os vizinhos sai apenas um �bom dia� ou �como vai�.

Neves, que relata que raramente para alguns minutos para conversar com um dos seus vizinhos. �Fico sabendo das novidades da minha rua ou do bairro pelo meu filho que, ao brincar com os colegas, traz as not�cias para mim�, lamenta.

Ele conta que quando jovem via, por muitas vezes, tanto seu pai quanto sua m�e passar horas e horas em conversas animadas com vizinhos e amigos que iam at� o port�o de sua casa. �Era uma outra �poca, naquele tempo havia espa�o no dia-a-dia das pessoas para isso�, recorda.


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Para fil�sofo, sociedade individualista destr�i muitos valores

O fil�sofo e professor de hist�ria da filosofia contempor�nea na Universidade Sagrado Cora��o (USC) Fausi dos Santos acredita que a falta de di�logo entre vizinhos tem feito com que alguns valores e tradi��es de bairros e at� de cidades - que antes eram passados de gera��o para gera��o - se percam.

De acordo com ele, as rela��es individuais mudaram tanto que as coisas passaram a se tornar cada vez mais impessoais. �As pessoas de um certo modo foram absorvidas pela grande massa de gente que vive nas cidades, houve uma subjetiva��o da id�ia de coletividade�, diz o professor.

Para ele, algumas pessoas que ainda mant�m a tradi��o do bate-papo na porta de casa trouxeram isso como heran�a de fam�lia. �No passado, �ramos praticamente uma sociedade rural e essa pr�tica era muito comum. A id�ia da partilha, da comunh�o de id�ias e a necessidade de alimentar a amizade entre as pessoas era forte naquela �poca�, explica.

De acordo com o professor, o trabalho no campo era feito de forma parecida com pequenos mutir�es, as moradias eram do tipo constru��es de col�nias, onde n�o havia muros para separar as casas e a religi�o na �poca predominante era o catolicismo, que tamb�m fazia o papel de aproximar as pessoas. �As festas p�blicas realizadas naquele tempo eram realmente organizada pela comunidade e n�o voltadas para ela. Esse tipo de trabalho aproxima os indiv�duos de si e dos problemas de cada um�, explica.

De acordo com Santos, o tradicional papo na porta de casa que ainda resiste em algumas situa��es e at� mesmo a reuni�o da fam�lia na sala para ouvir as hist�rias dos mais velhos foi substitu�da pela TV e pelo bate-papo eletr�nico pela Internet.

O professor diz que a sociologia e a antropologia explicam esse problema. Para ele, esse distanciamento cada vez maior dos indiv�duos � reflexo do �xodo rural e da perda de identidade das pessoas com o local em que vivem.

�Atrav�s da TV e do computador as pessoas sabem tudo de qualquer canto do mundo, mas perderam o encanto que existia para as coisas que acontecem logo ali, do lado de casa. Quando n�o se valoriza e n�o se conhece onde se vive, as pessoas deixam de se identificar e cuidar desse local abrindo s�rios precedentes para a marginalidade, por exemplo�, sentencia Santos.




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