Bauru e grande região - Sexta-feira, 04 de outubro de 2024
máx. 31° / min. 12°
19/04/09 03:00 - Opini�o

Um tiro no escuro

Zarcillo Barbosa
As trag�dias se repetem sem nenhuma originalidade. N�o nos causam mais estranhamento as not�cias do sujeito que pega uma arma de grosso calibre e resolve viver seu dia de m�rbido estrelismo, o �ltimo de sua vida. Sai por a� dando tiros ao acaso, mata tantos quantos estejam na mira de suas armas, at� o esgotamento do seu arsenal. No m�s passado, um jovem alem�o de 17 anos assassinou 15 pessoas, nove delas alunos do col�gio onde estudava e tr�s professores. Saiu � rua e matou outros passantes que tiveram o azar de estar no momento errado, no lugar errado. Acabou suicidando-se. No Alabama, EUA, um desempregado matou a m�e e quatro dos seus cachorros, amontoou os corpos na via p�blica e ateou fogo. Ainda insatisfeito com o quadro macabro saiu pelas ruas fazendo disparos e contabilizou mais nove v�timas, at� o suic�dio.

Esta sinfonia de horrores n�o pode ser explicada somente como casos aleat�rios de loucura. Cientistas sociais que t�m discutido o problema mais descrevem do que explicam. As autoridades n�o t�m respostas para perguntas essenciais: como aconteceu, por que aconteceu? Os soci�logos Ronald e Stephen Holmes escreveram um livro sobre �Assassinatos em massa� e relacionaram alguns dos perfis poss�veis desse tipo de criminosos: matadores das pr�prias fam�lias, eternos descontentes, empregados com �dio dos patr�es, assassinos de colegas de escolas, terroristas ideol�gicos como os das Torres G�meas. � apenas uma enumera��o: nada esclarece. O fen�meno estava restrito aos Estados Unidos. A praga se disseminou pelos pa�ses mais civilizados da Europa, como a Alemanha e a Finl�ndia, depois que fizeram um filme sobre a trag�dia da Columbine High Schooll, em 1999. Naquela ocasi�o narrada no cinema foram dois, os assassinos. O filme sugere que eles eram discriminados, embora por culpa dos pr�prios erros.

Foi o que bastou para certos malucos europeus desenvolverem suas patologias. Sentem-se � margem apesar de usufru�rem dos melhores padr�es de vida do mundo. O �dio pelo sistema � alimentado pelas fantasias paramilitares, pelos jogos eletr�nicos e o di�logo entre membros da mesma tribo de rejeitados, via Internet. Na Virginia, um estudante sul-coreano matou 32 pessoas, em abril de 2007. Deixou para o mundo uma mensagem no seu blog, assinada a sangue: �Voc�s fingiram n�o me ver. Mas estou aqui! Esse � meu espet�culo e meu elenco: seus filhos, pais e amigos... Meras v�timas coadjuvantes da minha hist�ria que come�a e termina hoje�. Palavras dignas de um conto de Edgard Allan Poe moderno. Certamente a Psicologia cumprir� seu of�cio de sondar e diagnosticar que enfermidade da psique acomete esses jovens. Numa fra��o de segundos eles v�o do completo anonimato (ou esquecimento) ao total antisucesso popular, cujo �ndice � mensurado pela cobertura da m�dia.

Est� na hora dos sistemas educativos se dedicarem a prevenir esse tipo de comportamento assassino. No Brasil, as v�timas s�o professores agredidos em salas de aula nas escolas p�blicas. � uma trag�dia que tende a piorar. N�o se respeita mais ningu�m. Ainda bem que as nossas leis pro�bem o porte de armas e at� mesmo sua reten��o no recinto dom�stico. Nos Estados Unidos e na Europa as armas s�o comercializadas sem muitas restri��es. Um rev�lver, uma pistola, um fuzil, s�o dem�nios a atentar a predisposi��o daqueles que n�o t�m a cabe�a no lugar. Fosse mais f�cil o acesso a armas no Brasil, mais vi�vel a hip�tese de algu�m imitar exemplos americanos e europeus para p�r fora suas frustra��es. Esse tipo de trag�dia � praticamente anunciada. Os jovens d�o sinais, por a��o ou omiss�o, do que pretendem encenar. Mas, estamos t�o preocupados com o frenesi dos tempos que nem nos preocupamos em saber o que faz o filho trancado no quarto. Horas e horas de olho na tela do computador. Quando saem ou chegam em casa, sequer cumprimentam os pais. N�o se trata de culp�-los. Mas de um alerta.

Na hist�ria contempor�nea os assassinatos em s�rie come�am em Londres, com Jack, o Estripador. Suas v�timas eram prostitutas e os crimes eram contidos no anonimato. Tanto � que at� hoje se discute a identidade do matador, que nunca foi preso. Os serial killers norte-americanos, como o �estrangulador de Boston�, que matou 13 mulheres; Ted Bunty, que matou 30, e outros mais, tinham sede de sangue, traumas de inf�ncia, problemas sexuais mas, procuravam preservar a pr�pria vida e a liberdade. Todos foram presos e sentenciados � morte. Os novos astros patol�gicos agora querem � publicidade. Virar roteiro de filme de Hollywood tendo, como grand finale uma bala nos pr�prios miolos.

Ouvi de um educador entrevistado pela tev� americana que proibir o com�rcio de armas tamb�m n�o basta. Hoje temos armas de ataque e destrui��o virtuais nos jogos eletr�nicos, aonde os inimigos, nas telas, s�o eliminados de forma indolor. Essa virtualidade seria uma maneira de canalizar para a desgra�a as frustra��es dos jovens marginalizados na escola e no seu entorno. O entrevistado aconselhava ao sistema educacional intensificar as pautas de socializa��o e de respeito democr�tico durante o per�odo cr�tico da educa��o dos jovens, que vai dos seis at� aos 26 anos. � mais um tiro no escuro. Em todo caso, d� para pensar.

O autor, Zarcillo Barbosa, � jornalista e colaborador do JC




publicidade
As Mais Compartilhadas no Face
(SF) © Copyright 2024 Jornal da Cidade - Todos os direitos reservados - Atendimento (14) 3104-3104 - Bauru/SP