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18/04/09 03:00 - Geral

F�s de carros antigos ensinam adolescentes a �pilotar� pr�pria vida

Luciana La Fortezza
Apaixonados por carros antigos sabem bem quanto trabalho exige restaurar um modelo com mais de 30 anos de fabrica��o. Entre pesquisa e recupera��o de pe�as, tem quem leve uma d�cada para deix�-lo com todos os detalhes da �poca. Esfor�o e perseveran�a tamb�m s�o quesitos necess�rios para garantir a adolescentes da periferia uma oportunidade de trabalho e cidadania. Ent�o, por que n�o oferecer a esses jovens a possibilidade de trilhar um caminho menos �spero ao debru�arem-se sobre latarias antigas que chegam a valer milh�es?

A quest�o n�o s� foi idealizada pela advogada Kathye Karg, como foi viabilizada por ela. Coordenadora da Comiss�o de Responsabilidade Social do Terceiro Setor da Subse��o Bauru da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), ela procurou parceiros como o Clube de Carros Antigos do Centro Oeste Paulista e o Servi�o Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) para implementar o programa. Atualmente, 19 adolescentes, inclusive meninas, fazem aulas de funilaria e pintura no Senai com vistas � restaura��o de carros antigos, um novo fil�o de mercado.

Na segunda-feira, o grupo viajar� para �guas de Lind�ia, onde � realizado h� 13 anos o Encontro Paulista de Autos Antigos, considerado um dos maiores eventos do ramo na Am�rica Latina. �S�o dois lados muito importantes. Primeiro encantar os jovens. Depois, conscientizar os colecionadores, que n�o est�o fazendo mais caridade e filantropia. Isso � responsabilidade social. O evento � glamouroso, de uma classe social bastante alta, que pode participar fazendo a profissionaliza��o de jovens�, afirma a advogada.

De acordo com ela, o ramo conta com poucos profissionais especializados. Concorda Alexandre Capelli, diretor do Senai em Bauru. Coincidentemente, ele tamb�m � colecionador de carros antigos. �� muito dif�cil encontrar bons restauradores. N�o � um trabalho que voc� encontra em cada esquina, por�m, h� demanda�, diz. Os melhores profissionais do segmento devem marcar presen�a no encontro em �guas de Lind�ia e servir�o de exemplo aos novos disc�pulos de Bauru.

Quando chegarem l� ter�o a oportunidade de conhecer modelos com o dobro da idade deles. Ainda v�o aproveitar a chance de conhecer a hist�ria de carros cobi�ados por colecionadores. �O antigomobilismo j� existe no Brasil h� algum tempo, mas nos �ltimos anos cresceu muito. Falta m�o-de-obra especializada para cuidar desses carros. Reforma e restaura��o s�o coisas diferentes. Na restaura��o, a pessoa faz o carro ressurgir com as mesmas caracter�sticas da �poca�, explica C�sar Cozza, vice-presidente do Clube dos Carros Antigos.

Ele, por exemplo, restaura um Gordini 65 h� dois anos. A paix�o por carros, especialmente os com boas hist�rias, e a preocupa��o social garantiram apoio ao projeto de resgate de jovens carentes em Bauru.

Entre os apoiadores est�o a Associa��o Comercial e Industrial de Bauru (Acib), a Gr�fica Coelho, a Disbauto, a Brambilla, a �ptica Cidade e o Jornal da Cidade, por exemplo. Por acreditarem na id�ia, o grupo de adolescentes viajar� com dinheiro para fazer as refei��es. Tamb�m participar� de uma festa vip, onde poucos t�m acesso, mesmo entre colecionadores.


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Com curso, primos voltam � escola

Os primos Ivan Francisco Banhos Pereira de Souza, 16 anos, e Michel Douglas Pereira, 17 anos, t�m muito mais coisas em comum al�m da fam�lia. Ambos fazem juntos o curso de funilaria e pintura para restaura��o de carros antigos no Senai e n�o descartam a possibilidade de um dia trabalharem em sociedade. Para n�o perder a oportunidade profissional, voltaram aos bancos escolares, h� tempos abandonados.

N�o estudam na mesma classe, mas a conviv�ncia deles j� est� mais do que testada. A fam�lia dos dois vive junta no mesmo endere�o, num im�vel que acolhe 11 pessoas no Pousada da Esperan�a. Foi l� que souberam da oportunidade. �Por mim, todos os meus irm�os tamb�m fariam o curso�, comentou Ivan, que recentemente come�ou a trabalhar com pintura de carros.

�Antes achava que seria servente de pedreiro, como meu padrasto. Nunca imaginei mexer com carros�, admite. Aprovou a experi�ncia e est� ansioso com a viagem. Quer conhecer carros que ainda n�o teve a oportunidade de ver. Numa realidade mais pr�xima, o pai de Michel j� avisou que, quando o filho terminar o curso, ficar� com a incumb�ncia de recuperar o Monza da fam�lia. �Vou continuar trabalhando na �rea. J� fiz duas entrevistas e aguardo a resposta de uma�, comenta.

� Menina

Por ser do sexo feminino, Andressa Forato Gallego � minoria na turma aberta por conta do projeto. Aproveitou a oportunidade porque j� fazia curso de mec�nica automobil�stica no Senai. �Minhas amigas estranham um pouco. A fam�lia n�o. Meu pai gosta muito de carro. A gente conversa sobre isso, mas as opini�es s�o as mesmas. O que ele n�o sabe e n�o pode passar para mim, se eu sei, passo para ele�, comenta.

Aos 15 anos, a pesquisa sobre a tonalidade das tintas aplicadas nos ve�culos � o que mais a agrada. J� Lu�s Eduardo Guerrero de Freitas gosta de qualquer coisa relacionada a autom�veis desde muito novo. At� hoje coleciona carros de brinquedo. Espera um dia contar com v�rios dos �grand�es�. Formado em mec�nica pelo Senai aos 16 anos, novidades sobre carros sempre est� em pauta na sua roda de amizades. �Pretendo continuar na �rea. � o que eu realmente gosto de fazer�, conclui.


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Of�cio d� dinheiro e reconhecimento

Quando um colecionador manda restaurar um carro n�o tem pressa, nem dificuldade com custos, avalia Alexandre Capelli, diretor do Senai em Bauru. �D� para ganhar dinheiro com isso. Tem muita empresa que vive disso em S�o Paulo. Aqui em Bauru somos n�s que corremos atr�s. � mais hobby. Tem gente que leva dez, 20 anos para fazer uma restaura��o�, acrescenta C�sar Cozza, vice-presidente do Clube dos Carros Antigos do Centro Oeste Paulista.

Se tudo correr como prev� um projeto em estudo, o clube doar� um kit em ferramentas avaliado em R$ 1 mil para cada aluno formado pelo curso de funilaria e pintura do Senai. Com elas, os jovens j� poder�o iniciar o trabalho, mesmo que seja na garagem de casa, informa Ubirajara Amaral Negr�o, coordenador do Senai e tamb�m apaixonado por carros antigos. De acordo com ele, a id�ia � sensibilizar empres�rios da cidade para obter o volume necess�rio de kits.

Por meio do projeto, os jovens participantes tamb�m freq�entam aulas de cidadania que, inclusive, ajudam a elevar auto-estima dos estudantes. Muitos deles j� participaram de uma feira na cidade, que acolheu uma exposi��o de carros antigos. Como volunt�rios, cuidaram dos ve�culos e aprenderam um pouco da hist�ria deles e de seus colecionadores, normalmente contadas durante a visita��o p�blica.

Disseminar a id�ia

A parceria entre a OAB, o Senai e o Clube de Carros Antigos do Centro Oeste Paulista deve servir como exemplo para outros munic�pios que contem com as mesmas institui��es. Essa � a expectativa da advogada Kathye Karg. �N�s precisamos resolver a quest�o da inseguran�a no Pa�s. O caminho � a educa��o. Comecei a pensar sobre isso e vi um gancho bem legal. Se tem aptid�o, talento para transformar um carro, que novamente agrega valor e vale milh�es, essa atividade � muito parecida com pegar uma crian�a na periferia e trabalhar com ela para resgatar valores. Os dois trabalhos exigem muito de n�s�, diz.

Kathye Karg tamb�m tem paix�o por carros, sendo os antigos parte de sua hist�ria de inf�ncia. Menos rom�ntica com as quest�es pr�ticas, ela sabe que, para garantir futuro mais digno aos jovens pobres de Bauru, � preciso perseveran�a. �Tem que mostrar para eles o quanto � importante. N�o v�o ficar numa oficina s� se quiserem. Podem enxergar mais longe, embora seja algo muito longe da vida deles, tanto pela idade quanto pela classe social. O exerc�cio efetivo da cidadania requer perseverar. Seus filhos n�o v�o toda vez que voc� manda�, exemplifica.

Para ela, mais importante do que precisar, � querer. Atento a isso, o Senai est� disposto a investir em outros projetos de natureza semelhante. Segundo Alexandre Capelli, a fun��o do Senai n�o se limita ao emprego. Tamb�m visa capacitar os jovens a obter renda. �O aluno pode abrir uma oficina dele, por exemplo. A gente fala que a pessoa tem que ter conhecimento, habilidade e atitude. Se gosta daquilo que faz, j� � 90% do caminho andado para ser um profissional de sucesso. Carro n�o � exce��o�, ressalta o diretor.




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