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01/03/09 02:00 - Cultura

Sobre mundos: Um divino amor

Padre Beto/Especial para o JC
Duas pessoas procuram a qualquer custo arrumar um casamento para o t�mido professor Nello. Um deles � seu pai, um mulherengo conhecido em Roma que trabalha como alfaiate para o Papa e desespera-se com a personalidade do filho, pois quer um herdeiro para o of�cio de vestir Sua Santidade.

O outro � seu companheiro de quarto em Bolonha, o barbeiro Domenico. Este, um perfeito conquistador, n�o mede esfor�os para que o amigo encontre uma esposa. Nello a encontra, mas n�o em um lugar comum. Ele se apaixona por �ngela, uma das mais belas e liberadas mulheres de Bolonha, mas que havia sofrido um acidente que a deixou cega e � margem da sociedade.

Mesmo sabendo da desaprova��o de todos, Nello mergulha neste relacionamento descobrindo a ess�ncia do amor sem restri��es. �Um Cora��o Para Sonhar�, de Pupi Avati, al�m de uma perfeita produ��o cinematogr�fica � uma reflex�o sobre o sentimento de amor e as expectativas sociais existentes sobre ele.

Para Erich Fromm, existem dois tipos fundamentais de amor que devem estar presentes no desenvolvimento de todo o ser humano: o amor paterno e o amor materno. Quando Fromm se refere a estes dois tipos de amor n�o est� necessariamente falando do amor do pai e da m�e, mas sim de express�es de amor que as pessoas podem por qualquer pessoa humana. Em outras palavras, o homem pode demonstrar um amor materno e a mulher um amor paterno, apesar de o inverso ser o caminho mais comum.

O amor paterno � o amor condicional. Atrav�s dele � transmitida inconscientemente a id�ia de que somos amados porque cumprimos o nosso dever, porque somos como deseja a pessoa que nos ama. O amor paterno vem acompanhado de exig�ncias que fazem com que determinados crit�rios de comportamento sejam absorvidos.

Por sua vez, o amor materno � incondicional. O ser humano se sente amado simplesmente porque ele �. Esta experi�ncia de ser amado maternalmente � passiva. N�s n�o precisamos fazer nada para conquistar este amor. Tudo que temos de fazer � sermos aut�nticos. O amor materno � cego, pac�fico, n�o precisa ser adquirido, n�o necessita ser merecido. O filho pode ser um assassino, mas a m�e (ou o pai) continua maternalmente a am�-lo. Ao contr�rio do amor paterno, o amor materno n�o pode ser conquistado, nada podemos fazer para cri�-lo.

Para as crian�as, at� uma determinada idade, o problema � quase exclusivamente o de ser amado, amado pelo que se �. Depois desta fase ela come�a a dar amor, a ter gosto de criar e expressar amor. Portanto, o amor materno � fundamental nos primeiros anos de vida de um ser humano. Somente com o amor incondicional, o amor materno, o ser humano poder� mais tarde compreender o amor paterno e este pode ser por ele correspondido.

O amor materno tem a fun��o de fazer do ser humano algu�m seguro na vida. Ele � a base para uma constante auto-estima, a plataforma necess�ria para que possamos sempre nos sentir pessoas amadas.

Por ser incondicional, o amor materno � o incentivo para que o outro seja e se desenvolva da sua forma de se desenvolver. Em outras palavras, o verdadeiro amor materno � aquele que n�o impede o ser humano de crescer, n�o refor�a e muito menos premia o desamparo. O amor materno tem f� na vida, n�o ficando, portanto, excessivamente ansioso e, assim, n�o contagiando o amado com sua preocupa��o em rela��o ao futuro e ao mundo. A m�e que possui um verdadeiro amor materno tem o desejo de que o filho se torne independente e acabe por separar-se dela.

Atrav�s do amor materno, o amor incondicional, o ser humano chega amadurecido ao ponto em que se torna seu pr�prio pai e sua pr�pria m�e. Tem, por assim dizer, uma consci�ncia materna e paterna. A consci�ncia materna nos transmite a sensa��o de que n�o h� a��o ruim que nos possa privar de nosso amor-pr�prio, de nosso desejo de vida e de felicidade. A consci�ncia paterna, ao mesmo tempo, aperfei�oa o nosso senso cr�tico e n�o nos deixa aceitar nossas a��es ruins, nos impulsiona para a mudan�a de conduta que possibilita nos tornarmos e sentirmos melhores.

A pessoa amadurece no amor a partir do momento que possui as duas consci�ncias e � capaz de amar maternalmente e paternalmente, ou seja, ela pr�pria � a s�ntese dos dois amores. Enquanto o amor infantil possui como princ�pio �amo porque sou amado�, o amor amadurecido segue o princ�pio �sou amado porque amo�. O amor imaturo se exprime aos outros: �amo voc� porque necessito da sua presen�a�. J� o amor maduro deixa claro: �necessito da sua presen�a porque amo voc�. A pessoa amadurecida ama tanto com a consci�ncia materna quanto com a paterna, apesar do fato de as mesmas aparentemente se contradizerem.

Se quisesse reter apenas a consci�ncia paterna, o ser humano se tornaria �spero e pragm�tico. Se quisesse apenas reter a consci�ncia materna, o ser humano estaria em condi��es de perder a capacidade de julgar e de impedir o seu desenvolvimento e o dos outros. De qualquer forma, o in�cio de todo este aprendizado de vida e amadurecimento afetivo est� no amor materno. Este � a base que nos faz alimentar o que h� de mais divino em n�s: a capacidade de amar.




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