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17/02/09 02:00 - Tribuna do Leitor

Charles Darwin e o ensino

A hip�tese de uma origem comum e a teoria da transforma��o das esp�cies � anterior a Charles Darwin. Seu av�, Erasmo Darwin, o poeta e cientista Goethe e Geoffroy Saint-Hilaire, de maneira independente uns dos outros, j� a haviam colocado entre os anos de 1794 e 1795. Em 1801, Lamarck d� uma primeira explica��o da varia��o das esp�cies segundo o conceito de adapta��o ao meio, isto �, meio s�culo antes de Darwin apresentar sua hip�tese de origem das esp�cies por sele��o natural.

N�o �, portanto, a introdu��o dos conceitos de origem comum e evolu��o das esp�cies o que caracteriza a genialidade de Darwin. Sua contribui��o essencial foi a de introduzir um m�todo de pensamento e observa��o para as ci�ncias naturais que consistiu em considerar um sistema de conceitos como organizador para as rela��es a serem observadas e explicadas. Ao contr�rio do pensamento metaf�sico que busca o que seria a �ess�ncia� pr�pria a cada esp�cie, separando brutalmente cada uma delas como se fossem �entidades� isoladas, no m�todo de Darwin as esp�cies s� t�m sentido conceitual atrav�s dos m�tuos relacionamentos de uma �s outras. Al�m disso, n�o � s� o conceito de esp�cie que � assim sistematizado, mas todos os conceitos s�o considerados com sentido apenas nos seus m�tuos relacionamentos num dado sistema conceitual. Foi com esse m�todo que Darwin conseguiu rela��es entre conceitos biol�gicos, geogr�ficos, geol�gicos e referentes ao clima para produzir um conhecimento que se adequasse ao que lhe foi poss�vel observar, de forma ordenada e disciplinada, do relacionamento dos fatos da natureza.

A clareza com a qual exp�s seu m�todo para as ci�ncias naturais, conjugada ao que foi realizado na f�sica, quanto ao m�todo, por Galileu e Newton, abriu o caminho para que o ensino e a aprendizagem do m�todo cient�fico pudessem ser percorridos por milhares de indiv�duos no s�culo XX, constituindo em seus c�rebros o pensamento relacional em estado de prontid�o e uso na produ��o de conhecimento. Isso permitiu que o avan�o do conhecimento cient�fico hoje em dia n�o dependa mais do aparecimento, de s�culo em s�culo, de uma ou outra figura genial, mas possa ser desenvolvido cotidianamente por mir�ades de an�nimos cientistas em seus laborat�rios ou gabinetes de pesquisa.

Por�m, dada a forma predominante da educa��o escolar, que no ensino b�sico pressup�e que o pensamento � uma �entidade� que por matura��o biol�gica vai mudando de �ess�ncia� em est�gios imut�veis e pr�-definidos que seriam da �ess�ncia� da �entidade� esp�cie humana, p�em-se as crian�as a aprenderem um pensamento do concreto ao abstrato, do particular ao geral, em atividades iniciais de observa��o de �ess�ncias� pr�prias que teria cada fei��o da natureza, as quais seriam �abstra�das� por esse m�todo metaf�sico de pensamento.

Com isso, ao final do ensino m�dio, apenas uma minoria em torno de 10% dos alunos, que de alguma maneira concentraram-se mais no sistema de conceitos que tamb�m lhes � apresentado na escola, acaba obtendo um conhecimento te�rico. Os demais, e principalmente aqueles que se dedicaram sem pestanejar em realizar as atividades e estudos escolares da forma que lhes foi proposta, saem da escola com um pensamento metaf�sico. Neste ano de comemora��es pelo bicenten�rio de seu nascimento, penso que o maior tributo a ser prestado a Charles Darwin � envidarmos esfor�os para ir mudando radicalmente conte�dos e m�todos de ensino, de forma que as crian�as, desde as primeiras s�ries, possam aprender o pensamento cient�fico relacional. A possibilidade de constituir uma vis�o cient�fica de mundo � um direito que deve estar ao alcance da grande massa.


Geraldo A. Bergamo, professor da Unesp




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