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01/02/09 02:00 - Pol�cia

Rotina da pol�cia tem fatos inusitados

Entre os casos estapaf�rdios, est�o pessoas que n�o sabem usar o celular ou que precisam de ajuda para lavar a latrina

Rodrigo Ferrari
Plant�o da Pol�cia Civil de Bauru, domingo � noite. Um cidad�o aparentando cerca de 35 anos se dirige ao balc�o e espera para ser atendido. V�rios policiais militares tamb�m aguardam para registrar ocorr�ncias com o delegado de plant�o. Chega, enfim, a vez de nosso personagem apresentar sua queixa.

�Pois n�o, o que o senhor deseja?�, diz o agente.

�Vim aqui prestar uma queixa... Meu cunhado mora em minha casa. Toda vez que minha mulher sai, ele vem �dar em cima� de mim�, explica o homem.

Os agentes e policiais se entreolham e fazem um r�pido ar de riso. Depois, explicam que n�o h� crime algum no comportamento do �galanteador� e que, caso estivesse de fato incomodado, o homem deveria mandar o cunhado arrumar um outro lugar para morar. Vendo que seu caso ficaria sem solu��o por parte das autoridades (e poderia ter?), o cidad�o deixa o Plant�o Policial pisando duro.

Pode at� parecer anedota, caros leitores, mas n�o �. Esse caso ocorreu algumas semanas atr�s e foi presenciado em detalhes por este rep�rter que vos escreve. Muita gente n�o faz id�ia, mas situa��es estapaf�rdias como a descrita acima s�o bastante comuns no dia-a-dia dos policiais civis e militares.

O Jornal da Cidade consultou profissionais que atuam no combate ao crime em Bauru e constatou que uma quantidade imensa de pessoas costuma �atazanar� as autoridades policiais por motivos irris�rios. H� casos absurdos, como o de uma idosa que telefonou para o servi�o de emerg�ncia da Pol�cia Militar (PM) - o �190� - porque n�o era capaz de limpar o vaso sanit�rio da casa onde mora, ou de gente que liga para o referido n�mero a fim de obter orienta��es a respeito de como usar o telefone celular.

�As pessoas precisam se conscientizar de que a fun��o da pol�cia � combater o crime. O servi�o de urg�ncia e emerg�ncia s� deve ser usado quando realmente � necess�rio�, pondera o tenente Alessandro Rosseto da Silva, oficial de rela��es p�blicas do Comando de Policiamento do Interior 4 (CPI-4).

A maior ou menor incid�ncia de queixas estapaf�rdias est� diretamente relacionado � qualidade dos servi�os prestados pelas pol�cias civil e militar. Enquanto, por exemplo, est� sendo incomodado por algu�m que deseja saber como fazer para trocar a l�mpada da sala, um atendente do servi�o �190� deixa de dar aten��o a uma pessoa que realmente se encontra em apuros (sendo v�tima de um roubo, por exemplo). Enquanto se ocupa de uma den�ncia fajuta, um agente da Pol�cia Civil deixa de investigar um assunto s�rio.

�Muitas vezes, ouvimos pessoas se queixando de que a pol�cia � lenta. O que essas pessoas n�o sabem � que nosso trabalho costuma ser prejudicado por den�ncias que n�o t�m proced�ncia alguma. De minha parte, garanto que estamos com boa vontade, mas precisamos que a popula��o coopere conosco para que as coisas possam fluir bem�, diz o delegado Dinair Jos� da Silva, titular da Delegacia de Defesa da Mulher (DDM).

Para tentar desafogar o �190� - e manter o foco do servi�o no atendimento �s chamadas de urg�ncia e emerg�ncia -, o Comando de Policiamento Militar do Interior 4 (CPI-4) pretende incentivar a popula��o a recorrer �s Bases Comunit�rias de Seguran�a nos casos de menor gravidade - como alguns que ser�o citados nas hist�rias a seguir.

Os telefones das bases comunit�rias de seguran�a da PM se encontram no quadro ao lado.

A reportagem selecionou algumas hist�rias inusitadas que tumultuaram a rotina das pol�cias civil e militar de Bauru, nos �ltimos tempos. Divirta-se com os relatos.


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Trancada com os mortos

Na semana que passou, uma bauruense resolveu visitar alguns entes queridos em um cemit�rio da cidade. Era fim de tarde e talvez a mulher estivesse concentrada demais em suas preces ao al�m para perceber que j� era quase hora da necr�pole fechar.

De repente, ela olhou para o lado e n�o viu mais ningu�m, apenas l�pides e mais l�pides. Estava trancada no cemit�rio e corria o risco de permanecer naquela situa��o at� o amanhecer. E se, durante a madrugada, alguma alma penada viesse atorment�-la?

Ela preferiu n�o dar sopa para o azar e telefonou rapidamente para o �190� da Pol�cia Militar (PM). Pouco tempo depois, avisados pela pol�cia, funcion�rios da prefeitura foram ao local e abriram os port�es para que ela sa�sse.

Essa n�o foi a primeira vez que a PM de Bauru se viu obrigada a socorrer algu�m que se encontrava preso na �companhia dos mortos�. No ano passado, outra mulher tamb�m perdeu a no��o do tempo e acabou ficando sem ter como sair do Cemit�rio S�o Benedito, na Vila Independ�ncia.

Naquela ocasi�o, uma viatura se dirigiu ao local para averiguar o caso. Como o muro que cerca a necr�pole � relativamente baixo, os policiais tiveram apenas o trabalho de ajud�-la a pular para o lado de fora.


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O mist�rio do PIN

H� alguns meses, o servi�o de emerg�ncia da PM - o �190�, encarado por muitos bauruenses como uma esp�cie de or�culo divino - recebeu a liga��o da propriet�ria de um telefone celular. Estaria ela querendo dar queixa de que sua linha estava clonada ou de que seu aparelho havia sido roubado? Nada disso. No caso dela, o motivo da chamada era bem mais fr�volo.

�Estou precisando de uma ajuda...�

�Que tipo de ajuda, senhora?�

�Sem querer, apertei uma tecla em meu celular e agora ele est� bloqueado. Por acaso voc� sabe como posso fazer para descobrir o �PIN� do meu aparelho?�

�Isto � um servi�o de urg�ncia e emerg�ncia, senhora. Tente entrar em contato com sua operadora de telefonia celular. L�, algu�m saber� como resolver seu problema.�

Em tempo, para que ainda n�o sabia: PIN � a sigla de Personal Identification Number, termo em ingl�s que designa o c�digo criado pelas companhias telef�nicas para impedir um aparelho celular de ser usado por outros que n�o seu leg�timo propriet�rio.


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Em quem voc� vota?

No ano passado, em Len��is Paulista, mais um cidad�o apelou ao or�culo da PM para se informar sobre o mundo - pelo menos � assim que muita gente costuma (erroneamente) encarar o servi�o de urg�ncia e emerg�ncia �190�. Por ser �poca de elei��o, um homem que estava h� algum tempo longe da cidade resolveu se inteirar sobre a realidade pol�tica local.

�Pol�cia Militar. Emerg�ncia. Bom dia, em que posso ser �til?�

�Ent�o, � que viajei e n�o estou muito por dentro da pol�tica daqui, por isso queria saber: quem voc�s est�o apoiando na disputa para prefeito?�, perguntou.

A atendente explicou ao homem que a corpora��o militar � apartid�ria, raz�o pela qual n�o podia apoiar candidato A ou B. As elei��es para prefeito em Len��is Paulista (43 quil�metros de Bauru) acabaram vencidas pela tucana Izabel Cristina Campanari Lorenzetti, que obteve 20.443 votos, contra 13.052 do segundo colocado, Ailton Aparecido Laurindo (PV).


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Lei �s avessas

Outro caso que chegou ��s m�os� do delegado Dinair Jos� da Silva foi o de uma estranha briga entre marido e mulher (nas quais apenas a pol�cia tem a permiss�o de meter a colher).

Durante uma discuss�o ocorrida em Bauru, h� cerca de um ano, a esposa teria come�ado a agredir o companheiro. �Como o esposo protestasse, a mulher respondeu: �Eu bato e voc� apanha quieto, pois a Lei �Maria da Penha� me defende!�, conta o titular da Delegacia de Defesa da Mulher.

Em vigor desde setembro de 2006, a lei n�mero 11.340 prev� penas mais r�gidas para homens que cometerem viol�ncia f�sica contra a mulher no ambiente dom�stico, com o agressor podendo ser condenado a at� tr�s anos de pris�o, dependendo da gravidade do caso. Embora seja considerada pelas lideran�as feministas uma conquista no que se refere aos direitos da mulher, a Lei �Maria da Penha� n�o d� carta branca �s esposas para que possam sair espancando impunemente seus parceiros.


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A tamancada fantasma

O delegado Dinair Jos� da Silva conta que, meses atr�s, atendeu ao caso de uma mulher que estava se relacionando com um cidad�o casado. �Certo dia�, conta o titular da Delegacia de Defesa da Mulher (DDM), �ela e o amante combinaram de sair. O homem a pegou de carro e os dois rumaram para o lugar onde ia ser o encontro.�

Assim que chegaram ao local dos �finalmentes�, viram um tamanco aparecer do nada e atingir em cheio a cabe�a da mulher. Seria, por acaso, um cal�ado fantasma? Que nada! O delegado Dinair explica: �Sem que o homem percebesse, a esposa se ocultou na parte traseira do carro. Dessa, forma, ela conseguiu flagrar a trai��o do marido e agredir a amante�.


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Mulheres apaixonadas

Um dia, um casal chegou ao 4.� Distrito Policial , no Jardim Cruzeiro do Sul, cuspindo fogo. �O marido dizia: �Doutor, tem uma mulher dando em cima da minha esposa! Quero registrar um boletim de ocorr�ncia contra ela, pois n�o admito que mexam com a minha fam�lia�, conta o delegado Dinair Jos� da Silva, que hoje � titular da Delegacia de Defesa da Mulher (DDM).

Na ocasi�o da queixa, Dinair recorda-se de que a esposa era enf�tica ao confirmar as �den�ncias� feita pelo marido. Passados alguns dias, o delegado convocou a suposta �sedutora de esposa alheia� para uma conversa de esclarecimento e acabou tendo uma surpresa.

�A mo�a me explicou que nunca havia dado em cima da esposa de ningu�m. Na verdade, ela � quem estava sendo assediada pela mulher do sujeito. Chegou a me mostrar, inclusive, algumas cartas de amor que havia recebido�, afirma Dinair.

Chamada para prestar explica��es a respeito das falsas acusa��es que havia feito, a �esposa apaixonada� admitiu que, de fato, se sentia atra�da pela mulher. �Ela me explicou, por�m, que havia contado a vers�o falsa ao marido para que ele n�o ficasse magoado�, concluiu o delegado.


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O estelionato amoroso

H� cerca de sete anos, quando ainda atuava no 4.� Distrito de Policial (4.� DP), no Jardim Cruzeiro do Sul, o delegado Dinair Jos� da Silva teve de atender a um cidad�o furioso. �Ele veio dizendo que havia sido v�tima de estelionato e queria registrar um boletim de ocorr�ncia (BO)�, conta Dinair.

O problema teria come�ado no dia em que o rapaz resolveu usar a rede mundial de computadores para �ca�ar� um relacionamento amoroso. �Certo dia, ele combinou de sair com uma mulher que havia conhecido numa sala de bate-papo. S� que, ao chegar ao local do encontro, descobriu que a garota era, na verdade, um garoto�, relata o delegado.

Dinair ainda perguntou ao rapaz por que ele fazia quest�o de registrar o BO. Recebeu a seguinte resposta: �Oras, doutor, imagine se o cara resolve sair enganando mais homens por a�? Temos de evitar que ele fa�a novas v�timas.�


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A latrina est� suja

Certo dia, uma atendente do servi�o de emerg�ncia da PM de Bauru - o �190� - recebeu um telefonema de uma idosa que clamava por ajuda urgente. �Em podemos ajud�-la, senhora?�, questionou a policial.

�Sabe o que acontece, minha filha? � que hoje, a mo�a que costuma cuidar de mim n�o veio trabalhar. Eu queria saber se voc�s n�o poderiam me dar uma m�ozinha...�, disse.

�E qual seria a ajuda, senhora?�

�Minha latrina est� suja e cheia d��gua. Ser� que voc�s n�o poderiam vir aqui esvazi�-la?�

Educadamente, a atendente respondeu: �A senhora n�o tem algum parente ou vizinho que possa ir at� a� fazer esse servi�o? Tente pedir ajuda a essas pessoas. Caso nenhuma delas aceite esvaziar a sua latrina, a senhora pode voltar a nos ligar, mais tarde.�

A atendente n�o sabe, at� hoje, se a velhinha conseguiu achar algu�m para limpar e esvaziar a latrina. �O fato � que ela nunca mais voltou a telefonar para c�, conta a policial.




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