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21/01/09 02:00 - Opini�o

A tecnologia e a pol�tica �Big Brother�

Para muitas pessoas, o termo �Big Brother� se limita a um programa de televis�o que atinge altos �ndices de audi�ncia explorando aquilo que h� de pior no ser humano, como o ego�smo, a falsidade e a cren�a no paradigma onde �os fins justificam os meios�. Por�m, esta id�ia � muito mais ampla e envolve aspectos pol�ticos e tecnol�gicos muito interessantes. Na verdade, o �Big Brother�, ou grande irm�o, � um personagem do livro de fic��o chamado �1984�, do escritor brit�nico George Orwell, publicado em 1949, e que representa a personifica��o de um Estado ditatorial que tenta fiscalizar todas as a��es de seus cidad�os, utilizando inclusive sistemas de c�meras de monitoramento nas resid�ncias. A partir da�, surgiu na Holanda, em 1999, a id�ia do programa de televis�o.

Hoje, a tecnologia das c�meras � uma realidade corriqueira. Por�m, por incr�vel que pare�a, em 1960 o ditador cubano Fidel Castro conseguiu a fa�anha de instalar em seu pa�s um verdadeiro sistema big brother sem nenhuma tecnologia. Castro criou os chamados Comit�s de Defesa da Revolu��o (CDR), que eram instalados nas casas de cidad�os �volunt�rios� e que teriam a obriga��o de vigiar e denunciar os vizinhos suspeitos de cometerem a��es contra o governo. Isto n�o exigia nenhuma tecnologia, mas todos se sentiam vigiados. Atualmente, Cuba tem cerca de 11 milh�es de habitantes e mais de 130 mil CDRs, o que equivale a cerca de um CDR para cada 17 casas com cinco habitantes cada. Diante das cr�ticas, os defensores de Castro usam sempre o velho argumento de que, apesar da ditadura, o pa�s conseguiu um excelente desenvolvimento na educa��o e sa�de, como se os fins pudessem justificar os meios. � importante salientar que diversos pa�ses conseguiram a mesma fa�anha sem violarem da liberdade dos cidad�os. Na verdade, as ditaduras de extrema direita da Am�rica Latina tamb�m sempre tentaram monitorar as a��es das pessoas, por�m, Castro foi muito mais �h�bil� e ainda hoje chega ao extremo de manter 27 jornalistas presos pelo simples fato de tentarem trabalhar de forma independente, segundo o Alto Comissariado das Na��es Unidas para Refugiados.

A grande quest�o disto tudo � que a tecnologia para se implantar eficientes sistemas de monitoramento est� apenas come�ando. Hoje, al�m das c�meras, j� existem no mercado pequenos sensores com processadores internos que podem monitorar, processar e transmitir informa��es continuamente via r�dio. Estes sensores fazem parte de uma nova �rea da computa��o, chamada de �computa��o ub�qua�, e podem ser diretamente acoplados a pessoas, animais, autom�veis, casas, eletrodom�sticos etc., permitindo, em tese, o seu monitoramento ininterrupto e em qualquer lugar. A previs�o � de que em 2009 j� existam mais de 10 milh�es destes sensores instalados no mundo, principalmente em ind�strias. Portanto, a fic��o j� se tornou uma realidade que tende a influenciar o cotidiano das pessoas de forma muita mais intensa do que nas previs�es de Orwell.


O autor, Jo�o E. M. Perea Martins, � professor no Departamento de Computa��o da Unesp em Bauru, onde coordena o curso de Bacharelado em Sistemas de Informa��o. Tem doutorado pela Universidade de S�o Paulo e p�s-doutorado pela Universidade de Illinois nos Estados Unidos. Tamb�m foi professor visitante no Instituto Superior Polit�cnico (ISPJAE) em Havana, Cuba.




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