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31/12/06 00:00 - Cultura

Sobre mundos: O rio e o deserto

Padre Beto/Especial para o JC
Segundo uma antiga lenda eg�pcia, o pequeno rio Nilo percorria uma linda regi�o com grandes �rvores, muitos p�ssaros e animais selvagens. O lugar era um para�so e tudo permanecia em sua ordem at� o dia em que o pequeno rio chegou ao fim desta regi�o e se deparou com o deserto. Ao ver a quantidade de areia e a intensidade dos raios do sol, o pequeno rio sentiu medo: �A areia vai acabar me secando, os fortes raios do sol ir�o me aniquilar, eu poderei at� me transformar em um p�ntano!�

Nilo j� estava se decidindo a ficar em seu pequeno para�so onde ele conhecia tudo e n�o havia mudan�as. Mas algo em suas �guas profundas lhe dizia: �Confie no deserto! Somente atrav�s dele voc� chegar� ao imenso oceano!� O pequeno rio, por�m, receava: �Ser� que continuarei a ser eu mesmo? Ser� que n�o vou perder minha identidade? A minha vida nunca vai ser a mesma...� De suas �guas profundas continuava a vir uma voz que afirmava: �De forma alguma, voc� pode continuar a ser o que �! A vida � mudan�a, quem vive se transforma!�

O pequeno rio resolveu, ent�o, confiar na voz que vinha das profundezas de seu leito e avan�ou pelo deserto. A vida do pequeno rio transformou-se radicalmente. Em pouco tempo, a paisagem do deserto tornou-se mais colorida com a presen�a das �guas do rio e este se enriqueceu com o ambiente que o cercava tornando-se o grande rio Nilo. Um dia, finalmente, as �guas do grande rio atingiram o oceano.

Para Max Scheler, os valores que orientam a nossa vida s�o encontrados em nossos sentimentos. Aquilo que sentimos expressa o que realmente valorizamos. Antes do pensar e do querer, o ser humano possui como ess�ncia positiva o sentimento de amor. O ser humano � antes de tudo um �ens amans�, um ser amante. Em outras palavras, valorizamos aquilo que amamos. Todo o conhecimento, toda a assimila��o de valores se fundamenta na capacidade de participar, de partilhar que, por sua vez, depende da potencialidade do amor.

A escala de valores e sua ordem se formam atrav�s da �ordo amoris� da pessoa humana. Como afirma o fil�sofo alem�o: �Conhecer a �ordo amoris� de uma pessoa, significa compreend�-la realmente. A forma do cristal � para o cristal como o sujeito moral � para o ser humano�. N�s expressamos atrav�s do nosso estilo de vida aquilo que verdadeiramente somos e amamos. Por�m, apesar das semelhan�as, os seres humanos n�o s�o iguais. A pessoa humana � uma soma de diferentes caracter�sticas heredit�rias, de culturas e relacionamentos e possui, durante o seu caminhar, diferentes a��es e rea��es (amar, pensar, querer...); por essa raz�o, cada pessoa � uma soma �nica que se modifica na sua forma e no seu ritmo. Assim, o que amamos e a maneira como expressamos este amor s�o aspectos particulares que diferem de ser humano para ser humano.

Nessa perspectiva, se torna um desafio para a vida em sociedade estabelecer regras que orientem a vida de todos os seres humanos. Sem d�vida alguma, podemos encontrar valores comuns que toda pessoa ama e preza, como a vida, o respeito m�tuo, o bem-estar geral. Mas al�m dos poucos valores universais, a vida, assim como os relacionamentos de cada ser humano, devem, na sua pr�pria din�mica, encontrar as regras que permitem o seu desenvolvimento. Se cada material humano � �nico, torna-se dif�cil estabelecer regras gerais.

Um determinado relacionamento amoroso n�o pode ser comparado com outros. Ao terminar um namoro, por exemplo, as pessoas poder�o ter aprendido com este relacionamento muito sobre o ser humano e isso contribuir� para suas futuras rela��es. Mas seria um erro tomar como crit�rio uma experi�ncia de namoro para orientar os pr�ximos. Cada relacionamento ter� sua din�mica e dever� encontrar suas pr�prias regras, pois ser�o vivenciados por pessoas diferentes. A vida possui um �nico absoluto: a mudan�a.

Nesta din�mica da vida, o ser humano precisa se acostumar com as transforma��es e aprender a viver com elas e atrav�s delas. Na verdade, um ser humano torna-se verdadeiramente pessoa e atinge realmente a maturidade quando n�o mais reproduz o que seus pais, professores, padres, pastores ensinaram, mas desenvolve seu ser e constr�i sua vida a partir de sua pr�pria consci�ncia, a partir de sua pr�pria vontade. Sem d�vida � fundamental aprender com as experi�ncias dos outros e este aprendizado deve nos ajudar na orienta��o de nossos pr�prios relacionamentos.

Por�m, a experi�ncia dos mais velhos deve nos ensinar, acima de tudo, a descobrir que cada ser humano deve fazer seu pr�prio caminho. Afinal, experi�ncias que foram negativas para gera��es passadas n�o necessariamente dever�o ser tamb�m negativas para as novas gera��es. N�o existe regra que determine como a vida deve ser. Por essa raz�o, comece o ano de 2007 livre de pr�-conceitos e (re)construa sua vida com autenticidade e coer�ncia. �N�o se pode planejar o futuro pelo passado� (Edmund Burke).




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