O Brasil sem a Amaz�nia

Nosso planeta n�o � est�vel, embora pare�a. Est� constantemente alterando-se e suas partes vitais est�o nos p�los e nos tr�picos. As florestas tropicais s�o um dos mais ricos e antigos reinos da Terra. Elas crescem num cintur�o verde ao longo do equador. As maiores florestas sobreviventes est�o em tr�s continentes e, em apenas, tr�s pa�ses. O registro f�ssil mostra que elas t�m milh�es de anos e, ainda, se parecem muito com o que eram quando os dinossauros perambulavam por aqui.

A terra sob as florestas � freq�entemente est�ril. O solo � velho; as chuvas arrastaram seus nutrientes. As �rvores obt�m a maior parte de suas necessidades do c�u. Suas folhas e cascas s�o finas; suas ra�zes, pouco profundas. Um sistema adaptado a absorver os nutrientes da �gua da chuva � medida que ela cai. Da grande Bacia Amaz�nica, metade pertence ao Brasil. Muitas vezes j� se disse que a posse desse imenso territ�rio pelo Brasil, Venezuela, Col�mbia, Peru e Equador � meramente circunstancial. Com vinte e tr�s mil quil�metros de rios naveg�veis, a maior bacia hidrogr�fica do mundo, possui um quinto de toda a �gua doce dispon�vel no planeta. Brevemente, o controle desta �gua ser� objeto de disputa.

Um exame superficial do mapa demogr�fico mundial revela as regi�es despovoadas. Entre elas: o Saara, a Ant�rtida, as vastid�es geladas da Sib�ria, o norte do Canad�, o Alasca, as alturas nevadas do Tibet e a Amaz�nia. Todas estas regi�es s�o, praticamente, inabit�veis, exceto a Amaz�nia. Levando-se em conta a explos�o demogr�fica mundial, haver� demanda por novos espa�os vitais e a terra desabitada, mas habit�vel, da Amaz�nia ser� fonte de cobi�a. A terra, a �gua, o petr�leo, as incr�veis jazidas minerais e a maior biodiversidade do planeta poder�o alterar, radicalmente, a ordem econ�mica mundial fazendo a balan�a pender a favor do Brasil. Muitos usar�o de todos os meios para impedir que tais circunst�ncias favor�veis promovam a ascens�o do nosso Pa�s.

Por conta de seu desenvolvimento, na��es causaram danos ao meio-ambiente. Tardiamente, tiveram consci�ncia disto e elegeram a Amaz�nia como �ltima reserva natural cont�nua do planeta. A manuten��o da soberania da Amaz�nia vincula-se ao combate ao narcotr�fico, � guerrilha, ao contrabando de riquezas naturais de toda ordem: a biopirataria, a explora��o desordenada e as queimadas. Isto n�o � f�cil porque a Amaz�nia, al�m de enorme, � um mosaico. Cont�m florestas e parques nacionais, reservas ecol�gicas, biol�gicas, terras devolutas p�blicas, milh�es de hectares de pasto e planta��es de soja que alimentam gado e galinha na China. Na Amaz�nia os assentamentos s�o necess�rios, por isto estradas ter�o que ser abertas. � preciso, em conjunto, investir em assist�ncia t�cnica e treinamento, criar projetos de desenvolvimento sustent�vel e, com a silvicultura, recuperar �reas j� degradadas pelos pr�prios assentados. A substitui��o de �rvores nativas por outras como a castanheira, a seringueira e o dend�, � uma alternativa. Tecnologias novas, avan�adas, que n�o deixam tra�os sobre a terra, requerem conhecimentos sofisticados. Por isto outra a��o seria direcionar, para programas de p�s-gradua��o, recursos dos �rg�os de fomento � pesquisa para estudos sobre a Amaz�nia, visando: a caracteriza��o da paisagem; o funcionamento dos ecossistemas; a din�mica econ�mica e social; tecnologias para o uso sustent�vel da floresta e a recupera��o de �reas degradadas. � preciso formar mestres e doutores l�, para que possam desenvolver projetos de interesse local.

A Amaz�nia � um banco gen�tico a ser explorado, uma farm�cia a c�u aberto com rem�dios a serem descobertos. Muitos vinculam esta explora��o ao mortic�nio de �ndios. Na verdade, a popula��o ind�gena aumentou em rela��o aos tr�s milh�es encontrados por Cabral. Hoje mais de trinta milh�es de brasileiros s�o seus descendentes. Os Ianom�mis t�m uma �rea riqu�ssima em min�rios, do tamanho de Santa Catarina, com uma popula��o entre tr�s e dez mil indiv�duos que j� pleitearam, junto � ONU, a cria��o de uma na��o independente, orientados por algumas ONGs estrangeiras, constitu�das por �mission�rios� engenheiros, bi�logos e ge�logos.

Se tudo considerado importante para a humanidade fosse pass�vel de internacionaliza��o, o mesmo deveria ser feito com as reservas de petr�leo do mundo inteiro e com o capital financeiro dos pa�ses ricos. Queimar a Amaz�nia � t�o grave quanto o desemprego provocado pelas decis�es arbitr�rias dos especuladores globais. As crian�as pobres do mundo, tamb�m, deveriam ser consideradas patrim�nio da humanidade para que tenham uma chance de viver. Lutar pela Amaz�nia � dever de todos n�s.


O autor, Paulo Cezar Razuk, � professor titular do Depto. de Engenharia Mec�nica da Unesp-Bauru