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01/10/06 00:00 - Pol�tica

�Continuidade ser� marca da elei��o�

Cientistas pol�ticos convidados pelo JC analisam a elei��o de hoje e suas conseq��ncias para os pr�ximos quatro anos

Marcelo de Souza
No dia da elei��o, o Jornal da Cidade traz an�lises feitas pelos professores e cientistas pol�ticos Maximiliano Martin Vicente, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), e Sebasti�o Clementino da Silva, o Macal�, da Universidade Sagrado Cora��o (USC), sobre o pleito. Ambos n�o acreditam em votos de protesto por parte dos eleitores, pelo contr�rio, avaliam que haver� continuidade de poder no governo federal, mas essa continuidade est� amea�ada pela falta de apoio de deputados e senadores, j� que os partidos aliados ao atual governo devem sofrer baixas significativas nas urnas.

Em quase uma hora de conversa com a reportagem, Max e Macal� debateram o momento atual, seus reflexos na hora do voto, os motivos pelos quais o presidente Luiz In�cio Lula da Silva (PT), candidato � reelei��o n�o foi atingido pelos esc�ndalos que derrubaram seus principais aliados e porque, at� o momento, o candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, n�o convenceu as massas. Reproduzimos abaixo os pontos principais dessa conversa entre os professores.


� Continuidade

Macal�
- Acredito que esta ser� uma elei��o de continuidade de mandato presidencial e de alguns governadores. Acredito tamb�m que � uma elei��o de afirma��o da classe menos favorecida, que agora est� votando de acordo com sua consci�ncia, n�o est�o mais fazendo o jogo da classe dominante porque tiveram uma ascens�o social nos �ltimos tr�s anos e meio. Ent�o, � uma elei��o de separar o joio do trigo, da classe dominante contra o dominado.

Max - Est� perfeito, mas acho que t�m muitos pontos pouco claros nesta elei��o. A princ�pio eu diria que � uma continuidade das anteriores, nem mais nem menos. Eu concordo com o Macal� que houve polariza��o de for�as, mas eu vejo uma polariza��o pela elite. O sistema banc�rio fechou com o Lula e o setor produtivo fechou com o Alckmin. Ent�o � uma disputa de elites, para manter o sistema que est� a�. Nunca os bancos lucraram tanto e sobrou para o pobre as migalhas, que s�o essas bolsas, que para eles � fundamental.


� Pesquisas

Max
- As pesquisas n�o mostram a realidade, porque n�o levam em conta a densidade populacional. O Lula vai muito bem no Nordeste, mas na hora de somar os votos, ele pode ter uma surpresa. Creio que ele vai manter um resultado razo�vel, do eleitor fiel, mas creio que o segundo turno est� bem pr�ximo de acontecer.

Macal� - Essa quest�o da densidade demogr�fica � importante, porque nos grandes col�gios eleitorais � que est�o os indecisos. Temos que levar isso em considera��o. Pode haver segundo turno, mas na minha vis�o a probabilidade � m�nima, j� que o caso do dossi� n�o promoveu grandes mudan�as nos n�meros.


� Segundo turno

Macal� - Lula ter� mais dificuldades se ocorrer o segundo turno. Foi um ano e meio falando de esc�ndalos, quais seriam os fatos novos que poderiam ocorrer? Teria que ser algo bem significativo, porque o segundo turno � outra elei��o. Mas n�o podemos descartar os avan�os na economia, a redu��o de miser�veis no Pa�s, o agricultor passou a ter maior aproveitamento familiar. O Lula tem muito mais cartas na m�o para jogar em um eventual segundo turno do que o Alckmin. Eu acredito que em uma nova elei��o, eles ter�o que mostrar projetos, e n�o mais as den�ncias.

Max - Qualquer que seja o resultado eu digo que hoje o Lula tem muita chance de n�o tomar posse, porque foi a primeira vez que o Lula foi atingido, j� que se trata de dinheiro de campanha. E dinheiro de campanha, ou voc� prova origem, ou voc� � impugnado. Se o Lula vencer, ter� que encarar outro problema: a governabilidade. Porque o PT n�o far� maioria, ent�o ter� que compor com o Serra e o A�cio, que n�o v�o querer um Pa�s quebrado, j� que s�o candidatos em 2010. E o dossi� � a arma que o Lula pode ter para negociar com o PSDB.


� O papel da imprensa

Max
- A imprensa foi totalmente cooptada pela classe pol�tica, sem ela saber. Achou que estava denunciando e estava a servi�o da pol�tica e esqueceu do fundamental: ver o que o povo pensa. A televis�o fez um jogo amb�guo, porque estava em jogo a concess�o da televis�o digital, na qual o Lula, de uma forma desonesta, incompetente, incapaz, mercadol�gica, atendeu os interesses da Rede Globo com a concess�o. A imprensa tem que tomar cuidado, porque ela foi isca, achando que estava denunciando enquanto era manipulada, tanto � que muitas CPIs funcionaram por causa de documentos que a imprensa forneceu e n�o pelo que os deputados investigaram, e a� no final: pizza!

Macal� - Houve muito denuncismo por parte da m�dia, sem verificar os fatos. Muitas das den�ncias apareceram atrav�s de atos isolados, pr�-julgando a pessoa. Isso foi colocado no congresso latino de jornalistas, onde foi falado que a imprensa brasileira est� fazendo o papel de juiz da situa��o, sendo que ela teria de levantar os fatos e esperar acontecer. Se fosse pela imprensa o Lula j� estaria condenado. Acho que tem que olhar com mais carinho a imparcialidade e a imprensa n�o � mais a grande formadora de opini�o para as classes menos favorecidas, ent�o ela deve rever a postura de denuncismo e mostrar os fatos.


� A forma��o da C�mara

Macal�
- H� grande possibilidade de renova��o do Congresso, acredito que vamos ter at� 62% de renova��o. Tem uma mancha perturbando tanto senadores quanto deputados, porque essa enxurrada de den�ncias fez com que n�s tiv�ssemos menos credibilidade nos pol�ticos, porque muitos deles est�o preocupados em tornar privado o que � p�blico. Acho que os eleitores est�o se organizando para fiscalizar melhor o Congresso, porque at� ent�o n�s d�vamos um cheque em branco para os deputados. Dos 513 deputados, existem 100 que trabalham de verdade e 413 que a gente nem sabe o nome. E o baixo clero � import�ncia, porque ele n�o aparece nas grandes discuss�es, mas tem poder de influ�ncia.

Max - No governo Lula n�s tivemos a publica��o de Medidas Provis�rias, uma atr�s da outra, o Congresso simplesmente parou. O problema s�o as reformas estruturais, que por uma postura extremamente complicada dos deputados voc� n�o consegue mexer, e eles usam isso como poder de barganha. A maioria dos deputados vai l� com o intuito de pensar na regi�o dele, mas o deputado federal n�o � um vereador federal, ele est� l� para discutir os problemas do Pa�s. Quanto � renova��o, n�o importa, pode haver, mas se n�o mudar a estrutura de funcionamento, n�o vai adiantar. Quando a gente fala em reforma pol�tica, o que se pensa � em tornar o Congresso operativo. Eles s�o eleitos para mexer com as estruturas do Pa�s, n�o para conseguir verba para o hospital de Bauru. Ele tem que tratar da sa�de, n�o do hospital, tem que cuidar da educa��o, n�o da escola, tem que tratar da viol�ncia, n�o da pris�o. Esta � a fun��o do deputado federal.




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