Bauru e grande região - Sexta-feira, 04 de outubro de 2024
máx. 31° / min. 12°
01/10/06 00:00 - Regional

Carro de som comunica mortes em Botucatu

Servi�o criado na d�cada de 50 foi passado de pai para filho; moradores abrem as janelas para receber os comunicados f�nebres

Rita de C�ssia Corn�lio
Botucatu � �A empresa funer�ria .... comunica nota de falecimento. Faleceu hoje, aos ... anos de idade....� Com essa mensagem e a Ave-maria de Gounod de fundo, o publicit�rio Wenceslau Pinto Filho percorre as ruas de Botucatu (a 100 quil�metros de Bauru). O trabalho, que j� � uma tradi��o na cidade, come�ou na d�cada de 50 com o pai de �Lau�, como ele � conhecido.

Na �poca, o Fordinho 36, verde e preto, percorria a cidade toda fazendo propagandas comerciais intercaladas com as notas de falecimento. Atualmente, o ve�culo continua verde, mas � da Fiat, modelo 147. O dono, bem humorado, insiste em dizer que o Fiat 147 � o mais apropriado para rodar consumindo pouco combust�vel e numa velocidade m�dia de 8 quil�metros por hora.

Os an�ncios comerciais j� n�o fazem parte das mensagens e Lau j� n�o percorre a cidade toda, s� alguns locais determinados pelo cliente, mas o objetivo do servi�o continua o mesmo: anunciar os mortos para a popula��o.

Quando o carro de som aparece, a popula��o j� sabe que algum botucatuense morreu e espera para ouvir o nome do morto, o local do vel�rio e a hora do enterro. Em alguns bairros, os moradores abrem as janelas e portas para ouvir melhor. �O som tem alcance de v�rios quil�metros. Ele n�o pode ser muito alto para n�o irritar o ouvido e nem muito baixo que n�o d� para entender. Trabalho com uma m�dia de 55 decib�is, por que respeito as escolas, hospitais, F�rum e delegacias�, esclarece Lau.

Sobre o carro, o publicit�rio diz que prefere o 147 porque ele � pequeno e favorece as passagens. �Quando estou no centro comercial da cidade, na rua Armando de Barros, posso dar passagem para outro ve�culo, caso contr�rio atrapalho o fluxo de ve�culos�, explica o publicit�rio.

Ele lembra que algumas fam�lias dispensam o trabalho dele, porque n�o querem que a morte do parente seja anunciada pelas ruas. �S�o raros os casos, mas acontece�. Mas, em geral, o trabalho do carro de som � pago pelas tr�s funer�rias da cidade.

Mortes infantis

Nos 32 anos de profiss�o, Lau calcula que j� comunicou a morte de mais de 20 mil pessoas. �S�o aproximadamente 60 mortos/m�s�. Mesmo com toda a experi�ncia, ele comenta que ainda se emociona com determinados casos.

�A morte violenta de crian�as e adolescentes me emociona, me embarga a voz na hora de gravar. Me conformo quando eles morrem porque est�o doentes, mas quando s�o mortos no tr�nsito ou s�o v�timas da viol�ncia urbana n�o d� para encarar�, afirma.

O trabalho do publicit�rio tamb�m tem seus �espinhos�. �Houve uma �poca em que morreram tr�s amigos meus, seguidamente, no prazo de 30 dias. Fiz os an�ncios, mas sofri. Logo depois, veio a depress�o. Eles tinham a minha idade e a gente jogava bola juntos. Foi uma coincid�ncia eles morrerem num prazo curto. Aquilo me abalou muito�, relata.

Para se livrar dos espinhos da profiss�o, Lau aposta no esporte e no lazer familiar. �Eu jogo bola e dou muita risada com os meus amigos. Me dedico aos meus familiares porque a morte n�o avisa quando vai chegar�, diz.


____________________


Emo��o

Botucatu - Dentre as cerca de 20 mil mortes anunciadas em Botucatu pelo publicit�rio Wenceslau Pinto Filho, o Lau, as mais dif�ceis foram as de seus parentes. �Eu anunciei a morte do meu irm�o, do meu sobrinho, do meu pai e de minha m�e. Foram as mais complicadas porque eu estava sentindo essas perdas�, relata.

Quando comunicava a morte do pai, Lau �trombou� com um amigo que, mesmo antes de ouvir o an�ncio, brincou. �Esse meu colega tem uma moto e quando passa por mim sempre diz: faturou mais um? Naquele dia, ele disse isso antes de ouvir quem era o morto. Quando ouviu e percebeu o erro, voltou e pediu desculpas. Somos amigos at� hoje�, conta Lau.




publicidade
As Mais Compartilhadas no Face
(SF) © Copyright 2024 Jornal da Cidade - Todos os direitos reservados - Atendimento (14) 3104-3104 - Bauru/SP