Bauru e grande região - Sexta-feira, 04 de outubro de 2024
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29/09/06 00:00 - Tribuna do Leitor

Sou um homem assustado

Eu que nasci nesse campo seco do cerrad�o de Bauru, j� no segundo planalto paulista, longe das ondula��es geogr�ficas que nos separam do oceano.

Aqui o vento chega sem umidade e sem maresia, cabe �s l�grimas umidecer os meus olhos e ao amargor das minhas lembran�as corroer minha alma .

Ainda crian�a, tive a mamadeira ado�ada com a fuligem dos canaviais, meu principal brinquedo foi o fac�o afiado, que al�m da cana decepava tamb�m minha inf�ncia e feria de morte meu futuro.

Eu conhecia como ningu�m a fauna e a flora do cerrado.

Cresci � sombra dos ip�s ,dos angicos e das copa�bas, at� me sentir grande diante dos arbustos menores como as gabirobas, os cajus do campo e o marolo rasteiro,

Sabia o nome popular de cada �rvore, conhecia o sabor das folhas, sabia identificar os animais pelas pegadas que deixavam nas trilhas claras do are�o do cerrado, os piados das aves e seus bater asas me eram familiar.

Como se fosse um cortejo f�nebre, assisti resignado �s mudan�as de tudo que me rodeava.

Contei uma a uma cada �rvore que foi brutalmente empurrada para as caieiras, onde eram queimadas como corpos inocentes em cerim�nia de crema��o coletiva.

Como crian�a medrosa contei baixinho at� n�o saber mais, foram centenas de esp�cies de animais e aves, plantas que curavam e outras que davam frutos.

Sentindo-me impotente diante da insanidade �dos bem sucedidos�, virei as costas a tudo e busquei cuidar da minha sobreviv�ncia.

Hoje sou como ave que sobrevoa um descampado em busca de uma �rvore para pousar, sou um homem aprisionado na vastid�o da cidade grande, sou um animal assustado rodeado de canaviais.


L�zaro Carneiro - RG 32.322.710




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