Ary Fontoura no ataque

S�o 73 anos de idade, 56 anos como ator e mais de 40 na TV. Tal experi�ncia d� cr�dito e estofo a Ary Fontoura para escolher muito bem seus projetos e imprimir, em produ��es pr�prias, humor e cr�tica � realidade brasileira que conhece t�o bem. Defensor ferrenho das com�dias, ele traz a Bauru o espet�culo �Marido de Mulher Feia Tem Raiva de Feriado�, no qual atua, dirige, escreve, cuida da trilha e da cenografia.

Em entrevista ao JC Cultura, Fontoura destaca que a pe�a apresenta um lado tragic�mico da vida, em um g�nero no qual ele diz �funcionar� muito melhor do que em qualquer outro. �� o que ando perseguindo, s�o mais de 12 anos fazendo somente com�dias, dos personagens mais variados�, diz.

Ele define �Marido� como um exerc�cio � provavelmente, mais uma batalha. �Sou respons�vel pela dire��o, cenografia, trilha, assinei o trabalho com meus pontos de vista - tudo em cima dessa responsabilidade. O resultado vem sendo excelente, me sinto gratificado. Completamos 250 apresenta��es em Bauru, em mais de 9 meses�, afirma. Como diretor, Fontoura se diz r�gido. �Costumo levar o espet�culo completo ent�o mantenho uma rigidez absoluta. Quero que tudo seja como na estr�ia�, completa.

No texto, que ele assina com Paulo Afonso de Lima, o ator e diretor defende um retrato do Brasil com esperan�a de um Pa�s melhor. �O espectador � convidado a rir de suas pr�prias trag�dias e raciocinar sobre a pol�tica brasileira. � uma tentativa de recuperar o romantismo, j� que todos os personagens s�o perdedores e querem levar vantagem, mas t�m sua li��o�, afirma.

Mesmo evitando incutir discuss�o pol�tica na com�dia e deixar o espet�culo �pesado�, Fontoura frisa que seu personagem principal, um bicheiro que vive de falcatruas, encaixa-se perfeitamente no atual governo. �Isso tudo � colocado de maneira muito engra�ada, pois a com�dia � a trag�dia dos outros, mas rimos de n�s mesmos�.

Com voz firme e conhecida de tantos pap�is, ele prossegue com as cr�ticas: �At� agora, n�o achei um presidente bom, nenhum foi satisfat�rio. Essa situa��o toda que vemos, de corrup��o, n�o � de agora, somente veio � tona. N�o defendo esse governo porque sou contra um governo que busca voto na pol�tica da fome. Est� muito dif�cil escolher algu�m bom, vai ter que ser dos piores o melhor�, ataca.

Op��es

Integrante do elenco de 43 novelas e um sem-n�mero de seriados, especiais e humor�sticos, Ary Fontoura enxerga a TV como parceira, que leva o p�blico que j� conhece seu rosto e seus tipos ao teatro para reencontr�-lo. No entanto, h� cr�ticas para o ve�culo. �Na TV voc� nunca tem projetos, eles � que t�m projetos para voc�. Mas esse ano estou de folga, me convidaram para algumas coisas e n�o aceitei�, diz.

Seus �ltimos trabalhos na Rede Globo foram a novela �Chocolate com Pimenta� e o infantil �S�tio do Pica-Pau Amarelo�. Do segundo, ele conta que pediu para sair. �Quando me convidaram, a finalidade era excelente, era criar uma plat�ia. Mas a atra��o foi se deteriorando em fun��o da emissora n�o dar o respaldo suficiente. O �S�tio� acabou virando um adendo (do programa) da Xuxa. Pedimos � dire��o que nos colocasse � tarde, por volta de 17h, a audi�ncia cresceria, mas nunca conseguimos. Pedi para sair�, revela.

J� no teatro, Fontoura diz n�o ter preconceito para qualquer tipo de personagem. �Na TV, tem certas coisas que a gente n�o sabe fazer, certos trabalhos que n�o se encaixam, como um chap�u numa cabe�a. J� no teatro, nunca tive preconceitos, me profissionalizei porque queria viver dessa profiss�o. A partir do momento em que comecei a produzir, me libertei um pouco para escolher o que queria fazer e fazer com prazer�, aponta.

Por outro lado, a produ��o teatral traz responsabilidades e preocupa��es ao ator e diretor. �A produ��o no Brasil � dific�lima, o teatro nunca foi a primeira meta do governo � na verdade, nenhum dos setores culturais. � o caso da pol�tica do (ministro da Cultura) Gilberto Gil, que � negativa sob todos os princ�pios: para quem faz, produz, de quem est� envolvido�, elenca.

E cercado por tanta corrup��o, esc�ndalos pol�ticos para difamar um ou outro e falta de op��o de candidatos que representem com dignidade os brasileiros, � poss�vel escrever com�dia sobre falcatruas e n�o se sentir triste? �Se me sinto como um cidad�o triste... �, mas quem n�o se sente? Quem se aliena n�o � um bom cidad�o, n�o tem amor a seu pa�s. Felizmente, o povo parece querer prestar mais aten��o ao que vem acontecendo. Fa�o com�dia para rir, com o objetivo de fazer as pessoas esquecerem agruras. Na vida, tudo tem um lado tr�gico e outro engra�ado�, responde.


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Uma pe�a dentro da outra

Em um sub�rbio do Rio de Janeiro, o bicheiro Maced�o (Ary Fontoura) quer enganar sua amante, Paragua�u (Luciana Coutinho, de �Zorra Total�), ao montar para ela um espet�culo fadado ao fracasso. A mo�a tem o sonho de alcan�ar o estrelato e o malandro quer mesmo � mant�-la longe dos holofotes.

Em �Marido de Mulher Feia Tem Raiva de Feriado�, Fontoura encaixa �uma pe�a dentro da outra�, como ele mesmo explica. �O nome mesmo da pe�a pouco traduz o que � a hist�ria, que � uma tragicom�dia onde as pessoas riem de seus pr�prios problemas�, comenta. Al�m do casal, integram a loucura o advogado e capacho de Maced�o, Vieira (Eduardo Rieche), um diretor de teatro mal sucedido, Beto (Joseph Meyer) e a autora teatral decadente Emengarda (Am�lia Bittencourt).

Para �realizar o sonho� de Paragua�u e acabar de vez com qualquer chance da mo�a de alcan�ar fama como artista, Maced�o contrata uma p�ssima autora teatral e um diretor ruim para montar uma pe�a hom�nima a um grande sucesso.

De acordo com o material de divulga��o, a montagem � inspirada na hist�ria da rainha espanhola Carlota Joaquina e na sua rela��o, um tanto conflituosa, com seu marido, dom Jo�o VI. O rei, cansado das trai��es da esposa, baixa um decreto no qual pro�be feriados, da� o t�tulo da pe�a. A com�dia tem dire��o, cen�rios e trilha de Ary Fontoura, figurinos de Daisy Vit�ria, ilumina��o de Berilo Nosella e pesquisa de Joseph Meyer.


� Servi�o

Com�dia �Marido de Mulher Feia Tem Raiva de Feriado�, hoje �s 21h e amanh� �s 20h no Teatro Municipal Celina Lourdes Alves Neves (avenida Na��es Unidas, 8-9). Recomenda��o: maiores de 12 anos. Ingressos a R$ 40,00 e R$ 20,00 (meia-entrada para estudantes, maiores de 60 anos e professores da rede p�blica). Mais informa��es: (14) 3018-5091 e 3235-1072.