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19/06/06 00:00 - Geral

Em Bauru, 50 mulheres s�o agredidas por dia; puni��o esbarra na lei

Erika Pelegrino
A cada 15 segundos uma mulher � espancada no Brasil, de acordo com o Instituto Patr�cia Galv�o, de S�o Paulo. Dados da Organiza��o Mundial de Sa�de (OMS), de 2005, mostram que no Brasil 29% das mulheres j� foram violentadas f�sica ou sexualmente. Entre estas agress�es est�o desde ferimentos por armas, chutes, amea�as de morte, at� serem arrastadas pelo ch�o, levar socos, entre outras.

No Estado de S�o Paulo, mapa estat�stico preparado pela Comiss�o da Mulher Advogada da Ordem dos Advogados do Barsil (OAB) de S�o Paulo revela que foram registrados mais de 132 mil casos de viol�ncia contra a mulher, s� nos primeiros cinco meses de 2004. Em Bauru, uma m�dia de 50 mulheres procuram, diariamente, a Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) para denunciar algum tipo de viol�ncia.

Os n�meros n�o revelam, no entanto, a dimens�o real do problema, uma vez que s�o raros os casos de mulheres das classes m�dia e alta que denunciam a viol�ncia. No entanto, independentemente de viverem em condi��es de pobreza ou de situa��es financeiras mais favor�veis, as mulheres por detr�s dos n�meros vivem uma situa��o muito parecida. Um tapa, um belisc�o, um olho roxo, uma agress�o verbal. Promessas, declara��es de amor. Reconcilia��o. Interromper este ciclo depende de diversos fatores que passam por quest�es relacionadas � educa��o, condi��es socioecon�micas, legisla��o.

Clara (nome fict�cio), 44 anos, dois filhos, h� 25 anos vive na gangorra da agress�o e reconcilia��o. Pela primeira vez decidiu ir � Delegacia da Mulher de Bauru. Abordada pela reportagem do JC, s� concordou em dar entrevista se sua identidade n�o fosse revelada. �Ele (marido) me mata�. Com a garantia de que seu nome seria mantido em sigilo, ela come�a a contar sua hist�ria.

Em tom de desabafo, Clara n�o espera nem pelas perguntas e, numa torrente de palavras e emo��es, apresenta uma vida marcada por humilha��es. Sua fala � de medo e desesperan�a. �N�o ag�ento mais ser humilhada e espancada�, conta. �Nem dormir mais eu durmo direito. Tenho que guardar as facas de casa�.

Casamento com amor e respeito, Clara s� conheceu nos primeiros dois anos da uni�o. Depois passou a ser agredida fisicamente. �At� gr�vida eu apanhava�. A agress�o verbal tamb�m � constante e apesar de n�o deixar marcas no corpo, fere a alma de Clara. �Ele n�o me chama pelo nome, me chama de bruxa, de ���, eu n�o sou cavalo�.

Para onde ir?

Questionada sobre porque n�o se separou do marido, ela responde com outra pergunta: �Mas para onde eu ia?�. Os filhos pequenos, trabalhando como dom�stica, como se sustentaria? Junto aos problemas financeiros que viriam junto com a separa��o, tinha o medo: �Ele sempre disse que me mataria. At� hoje ele diz que se sofrer algum processo ele incendeia a casa comigo e os nossos filhos dentro�.

Sem ter para onde ir, com dois filhos pequenos, trabalhando como empregada dom�stica e convicta de que casamento � para o resto da vida, Clara �ag�entou� calada as agress�es do marido. Hoje com os filhos maiores, um j� adulto, e sem esperan�as de que o marido possa mudar, ela resolveu dar um basta. �Eu me separo, se ele n�o me matar antes�.

Maioria desiste

De acordo com dados da Organiza��o Mundial de Sa�de (OMS), 25% do total de 29% das mulheres agredidas no Brasil, em 2005, n�o contaram a ningu�m sobre a viol�ncia que sofreram; 60% nunca deixaram o lar, nem por uma noite, em fun��o das agress�es sofridas; menos de 10% procuraram servi�os especializados de sa�de ou seguran�a, e em m�dia, a mulher demora 10 anos para pedir ajuda pela primeira vez.

Clara levou mais de duas d�cadas at� ter coragem para procurar a Delegacia de Defesa da Mulher de Bauru. Ela � apenas uma das 50 mulheres que chegam todos os dias � delegacia. A maioria chega convicta de que n�o ir� mais suportar tanta agress�o e humilha��o, mas desiste no meio do caminho. A delegada da DDM, C�ssia Regina Cancian Machado, afirma que 60% faz o boletim de ocorr�ncia e n�o retorna.

Para que a den�ncia se transforme em um processo, a mulher precisa retornar � delegacia para que seja feito o termo circunstanciado, uma esp�cie de autoriza��o dela para que a investiga��o seja iniciada. Elas desistem, segundo a delegada, na maioria dos casos porque n�o t�m como se sustentar sozinhas. �Na maioria dos casos que chegam � delegacia, os maridos agressores s�o os provedores dos lares�, afirma.




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