Muito al�m da Sele��o

Houve tempos em que uma Copa do Mundo parava literalmente o Brasil; n�o que hoje seja t�o diferente, mas j� foi pior. A Copa, mais que uma saud�vel alegria coletiva, era, muitas vezes, usada como anest�sico para aplacar nossas derrotas em tantos outros gramados. O ufanismo entoava com hinos de �Pra frente, Brasil�, �90 milh�es em a��o�, �Com brasileiro n�o h� quem possa...�. Enquanto ganh�vamos a ta�a, perd�amos muito de um pa�s.

Felizmente muita coisa mudou. Ainda precisamos de her�is e quase todos tiram uma casquinha no sonho do hexa, mas avan�amos. Os jogadores faturam alto, o mercado aquece, os pol�ticos adoram e n�s comemoramos. Por�m, sabemos que um pa�s vai muito al�m de uma competi��o esportiva. � bom ganhar da Cro�cia, Austr�lia, Jap�o; melhor ainda da Argentina, da Alemanha, da It�lia e, se os vencermos, ficaremos contentes. Assim, motivados, partir�amos para outras vit�rias: na educa��o, na sa�de, na consolida��o das nossas institui��es democr�ticas.

E se perdermos? Ficaremos tristes? Claro! Vamos, ent�o, encontrar algumas compensa��es. Quer tal buscarmos outras conquistas: um pais justo, digno, desenvolvido economicamente e socialmente. Talvez possamos aprender com os nossos anfitri�es que vit�rias e derrotas fazem parte de um plano de crescimento e supera��o. A Alemanha que hoje nos hospeda com seus est�dios modernos, tecnologia avan�ada e estatus de Primeiro Mundo foi a mesma que viveu o pesadelo do nazismo e o sonho do comunismo.

O campo de Auschwitz n�o era para jogar bola nem o muro de Berlim protegia um est�dio de futebol; foram feridas de um hist�ria cujas cicatrizes nos lembram o quanto podemos errar. O Brasil ainda tem seus muros para serem derrubados e um �holocausto� que fingimos n�o ver. Somos os primeiros do mundo no Ranking da FIFA e os alem�es, bem atr�s da gente, em 16� lugar. Em compensa��o, no ranking da ONU, no �ndice de Desenvolvimento Humano (IDH), eles est�o em 20� e n�s apenas em 65�. Vamos virar esse jogo! E se formos campe�es do mundo, melhor ainda.


O autor, Lu�s Victorelli, � jornalista, coordenador do Projeto ScienceNet de Ci�ncia e Cidadania - e-mail: [email protected]