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11/06/06 00:00 - Geral

Entrevista da semana: De Tobias a Tuba, uma saga radiof�nica

Pioneiro da radiofonia em Bauru, Tobias Ferreira entrevistou JK e passou verve de comunicador para o filho Tuba

Erika Pelegrino
Numa kombi, munido de um r�dio amador, Tobias Ferreira partiu para Bras�lia para transmitir para Bauru a inaugura��o da nova capital do Brasil. Essa uma aventura e tanto � uma entre as v�rias hist�rias vividas por essa legend�ria figura do r�dio bauruense e relembradas por seu filho Tobias Ferreira Gomes Filho, o Tuba, em entrevista ao Jornal da Cidade.

A pr�pria hist�ria de Tuba tamb�m � marcada pelos 29 anos de atua��o em r�dios AM e FM, nas quais idealizou programas de grande sucesso, como o �Ca�a � Raposa�, o �Super Pla�, a �Hora Maldita do Rock�. Por�m, quem poderia imaginar que por tr�s da hist�ria de sucesso no r�dio se escondia um outro sonho: trabalhar em televis�o.

Sonho este que Tuba est� realizando nos �ltimos tr�s anos como o programa �Nota Dez�, na TV Record. O programa j� esteve em 16 cidades destacando cultura, lazer, turismo, arte. Sempre muito din�mico, Tuba tamb�m esteve � frente de outros projetos, como a ag�ncia de modelos Nota Dez e casas noturnas. Conhe�a um pouco mais do comunicador na entrevista a seguir.


Jornal da Cidade - A fam�lia dos Tobias Ferreira sempre foi ligada ao r�dio. Como foi o in�cio da carreira de seu pai, Tobias Ferreira?

Tobias Ferreira Filho (Tuba)
- Meu pai, Tobias Ferreira, come�ou fazendo r�dio, em Bebedouro, porque ele tocava bandolim. Ele tinha um trio com os dois irm�os dele, �Os Meninos de Ouro�, que tocavam na r�dio Bebedouro. Um dia um locutor faltou e o dono da r�dio pediu para dar a hora certa, ele tinha uma voz muito boa. Foi o �start�, come�ou a hist�ria dele no r�dio. Ele era praticamente crian�a ainda, n�o lembro exatamente a idade dele, mas acho que menos de 18 anos, e continuava tocando bandolim, mas tamb�m era locutor da r�dio. Ele cresceu rapidamente, tinha mesmo tino para o r�dio, passou a dirigir a emissora. Depois come�ou a montar emissoras: ia para uma cidade estruturar a emissora, ia para outra e assim ele montou dezenas de emissoras de r�dio na regi�o.


JC � Em Bauru?

Tuba
- Aqui em Bauru ele montou a r�dio Auri Verde, que depois veio a ser propriet�rio, mas entre isso ele montou emissoras em Olavo Bilac, Ara�atuba, Guararapes.


JC � Como seu pai foi para a Bauru R�dio Clube?

Tuba
� Ele dirigia a R�dio Terra Branca e tinha sido convidado para ir para a r�dio Am�rica, que era uma esp�cie de TV Globo, era �a r�dio do r�dio�, o Brasil todo ouvia. A Bauru R�dio Clube passava por uma grande crise e o dono dela, o Jo�o Simonetti, uma figura muito importante do r�dio em Bauru, convidou meu pai para levantar a emissora. Meu pai aceitou. Ficou, dirigiu-a e fez algumas coisas hist�ricas nela.


JC � Conte algumas delas.

Tuba
- Em 1961 n�o existia FM, nem est�reo. Audio Fidelity foi que lan�ou os primeiros discos estereof�nicos no Brasil. Meu pai tinha um toca-discos est�reo, l�gico que na r�dio n�o dava para ouvir m�sica estereof�nica, mas a Bauru R�dio Clube tinha o transmissor de ondas m�dias, ondas curtas e onda tropical (que hoje quase n�o existe mais). Ele pegou o toca-discos dele, tirou o sinal de um lado da c�psula e mandou para o transmissor de ondas m�dias, o outro ele mandou para o transmissor de ondas tropicais; e em 1961 ele lan�ou um programa que se chamava show estereof�nico. Ele colocou o Brasil - n�o sei se foi o segundo ou terceiro pa�s do mundo na era da m�sica estereof�nica no r�dio.

Na �poca, a Audio Fidelity veio a Bauru, falaram �olha tem um picareta no Interior dizendo que est� tocando m�sica estereof�nica e ele fala que s�o os discos de voc�s�. A �udio Fidelity mandou dois representantes aqui para desmascar�-lo. Meu pai colocou as duas pessoas na sala dele, foi para o est�dio e fez o programa. Ele usava dois microfones, canal direito e canal esquerdo e no final as pessoas acabaram dando um documento a ele dizendo que realmente ele estava fazendo estereofonia.


JC � E como foi a transmiss�o da inaugura��o de Bras�lia para Bauru?

Tuba
- Esta � outra coisa que ele fez de forma pioneira. Ele transmitiu a inaugura��o de Bras�lia para Bauru, numa �poca em que n�o existia nem Embratel, atrav�s do r�dio amador. Ele foi com alguns amigos de Kombi para Bras�lia. Foram muitos dias de viagem. Chegou l�, n�o tinham onde ficar, foram se aventurando. L�, havia ainda a dificuldade de falar com Bauru porque n�o tinha Embratel; ent�o, eles ligaram o r�dio amador e come�aram a chamar Bauru. Meu pai passou a noite tentando falar com Bauru e n�o conseguia porque a pessoa que instalou a antena fez uma gambiarra, virou a antena do lado errado. Quando amanheceu o dia, ele j� estava cansado, n�o ag�entava mais, foi quando olhou para cima e viu que a antena estava do lado errado.
Depois disso, conseguiu o contato com Bauru. Como j� era o dia da inaugura��o, ele n�o teve tempo de preparar nada, ent�o come�ou a transmitir ao vivo. Ele falou o dia inteiro, sem retorno de Bauru. No final do dia, quando as comemora��es pararam, ele come�ou a sintonizar a r�dio para ver se descobria se tinha chegado alguma coisa. Da� ele ouviu um locutor da emissora da R�dio Bauru conversando com outro e perguntando o que tinha achado da transmiss�o de Tobias Ferreira da inaugura��o de Bras�lia. Da� ele foi tomar uma garrafa de pinga e dormir.


JC � Seu pai tinha uma veia jornal�stica latente. Ele era conhecido como o profissional que buscava as not�cias e enfrentava dificuldades at� consegui-las.

Tuba
- Ele era conhecido aqui em Bauru como rep�rter da cidade. Naquela �poca, a guerra da informa��o era muito grande. Um rep�rter queria furar o outro, o grande lance era ser o primeiro a dar a not�cia. Meu pai sempre furava todos. Uma vez, dois rep�rteres daqui - n�o vou falar o nome porque sen�o fica chato - fizeram uma combina��o: iria chegar uma autoridade no aeroporto de Bauru (n�o me lembro o nome) e um deles iria distrair o Tobias enquanto o outro pegava a entrevista em primeira m�o.

Meu pai percebeu que estava em desvantagem e no hangar viu o cara que tinha a escadinha que � colocada no avi�o. N�o sei como ele sempre conseguia isso, mas ele falou com o cara e foi escondido na escadinha e pegou a entrevista com a autoridade ainda na porta do avi�o.


JC � E como foi o seu ingresso no r�dio?

Tuba
- Nasci no meio radial�stico e meu pai for�ava a barra para que eu fosse para o r�dio. Eu dizia que n�o, que ia ser m�dico, vou ser isso, vou ser aquilo. Ele foi esperto. Num Natal, ele me deu um gravador minicassete, foi logo que lan�aram. Eu queria gravar m�sicas para ouvir e ia na r�dio do meu pai e pedia para o pessoal gravar para mim. Eles me ensinaram e eu mesmo gravava, da� n�o parei mais.


JC � Mas o seu sonho n�o era r�dio, certo?

Tuba
- Meu sonho sempre foi televis�o. Trabalhei na r�dio o tempo todo sonhando com televis�o. Com 6 anos de idade eu estava na televis�o. Meu pai fazia sorteios do legion�rio Toddy, tinha um programa, que eu n�o me lembro qual, e num momento se fazia sorteio de cartas para ganhar uniforme do legion�rio Toddy e eu estava l� de modelo. Na verdade, eu fiz r�dio para aprender a fazer televis�o.


JC � Como foi sua trajet�ria no r�dio?

Tuba
- Comecei com 14 anos na parte de grava��o, produ��es comerciais, fui sonoplasta e montei, junto com meu pai, a FM 94, em 1978. Fui diretor da emissora por dez anos. Primeiro cuidei da programa��o, montava a programa��o da r�dio, dirigindo a parte art�stica da r�dio. S� em 1980 me tornei locutor, comecei a fazer alguns programas que tiveram muita repercuss�o, como o �Super Pla�, �Ca�a � Raposa�, que revolucionou a programa��o...


JC � Como era o �Ca�a � Raposa�?

Tuba
- A gente escondia a unidade m�vel da r�dio num local para os ouvintes encontrarem. Quem encontrava, ganhava pr�mios: caixa de cerveja, capacetes, luvas. Virou uma febre. O programa era �s 18h do s�bado. Logo tive que mudar, dificultar, porque as pessoas encontravam muito r�pido. Ent�o, passei a dar pistas que levavam a outro local onde receberiam outra pista, assim por diante, at� a pista final que levaria � raposa. Foi tomando uma dimens�o tal que troquei a unidade m�vel por cinco raposas de pel�cia.

Era tanta gente participando que mudei o programa para domingo � tarde, porque tinha menos movimento nas ruas. At� que tive que acabar com o programa porque saiu do controle de tanta gente, motos, carros, correndo para encontrar a raposa. Por sorte nunca ningu�m se machucou.


JC - E o �Super Pla�?

Tuba
- Este era um programa de correio elegante. Tamb�m com muita audi�ncia, muita gente participava.


JC - Isto na FM?

Tuba
- � eu fui meio na contram�o do formato inicial da FM, que era mais enxuto. Eu pegava o microfone e falava e deu certo, tanto que hoje todos fazem assim. Tive tamb�m o programa �Hora Maldita do Rock�, que ia ao ar de madrugada.


JC � Como voc� analisa o destino do r�dio atual?

Tuba
- Eu acho que o r�dio est� passando por uma fase cada vez mais complicada, principalmente o AM, que � o mais gostoso de fazer. � louv�vel o r�dio estar vivo at� hoje, principalmente o AM, mas eu acho que o r�dio n�o acaba t�o f�cil. Penso que vai acontecer um afunilamento e l� na frente ele vai se encontrar com a Internet, que � o que vai acontecer com a televis�o tamb�m.


JC � Por que o AM � mais gostoso de fazer, na sua opini�o?

Tuba
- Para quem faz r�dio, o AM � mais gostoso porque a comunica��o � interativa com o ouvinte, � uma coisa comunit�ria. O FM � muito interessante, mas � um pouco igual.


JC � Al�m da experi�ncia no r�dio, voc� foi propriet�rio de casas noturnas.

Tuba
- Em 1980 eu fazia muitas promo��es em boates. A primeira que tive foi o Clube da Seresta, onde aos finais de semana meu pai dava uma canjinha com o bandolim. Depois tive as domingueiras, que hoje seriam os bailes funks; tive o Forr� do Walter Neto, que era um radialista que morreu no ano passado, muito conhecido no meio sertanejo; tamb�m fui propriet�rio da primeira pista de patina��o de Bauru, al�m de um restaurante com m�sica ao vivo de domingo a domingo, isto em 1982, quando isto n�o existia - tinha um p�blico muito bom recebia at� 400 pessoas.


JC � E como voc� partiu para a atividade de ag�ncia de modelos?

Tuba
- A ag�ncia de modelos foi por causa dessa coisa de festas, da�, em 1987, o pessoal de Agudos me convidou para realizar um concurso de beleza, que eles queriam promover o clube. Depois desse foram mais 220, em 40 cidades, 6 mil modelos desfilaram. J� no final da ag�ncia t�nhamos tamb�m beb�s e terceira idade. No �ltimo desfile que eu agenciei coloquei 60 pessoas em comerciais de televis�o. Quando eu entrei para a televis�o e comecei a fazer o programa �Nota Dez�, na Record, h� tr�s anos, n�o deu para continuar com a ag�ncia.


JC � Finalmente voc� est� fazendo televis�o. Como � o seu programa?

Tuba
- O programa � focado em arte, cultura, lazer e turismo, as coisas boas da cidade. Toda vez que acontece uma coisa ruim na cidade trombam microfones, m�quinas fotogr�ficas e v�deos para mostr�-las. Pensei ent�o que, quem sabe, se a gente pegar a contram�o, se pode obter sucesso. E funciona mesmo. Estou h� tr�s anos com o programa �Nota Dez�. Neste per�odo passei por 16 cidades. Vamos ficar em Bauru at� o final do ano. O programa � itinerante. Ele fica um tempo em cada cidade mostrando as coisas boas. O programa faz anivers�rio no dia 2 de agosto. N�s estamos preparando uma festa para o dia 30. Vamos trazer artistas de toda as cidades por onde passamos. Ser� um dia inteiro de eventos, gratuitos.


JC � E quais s�o os projetos para o futuro?

Tuba
- Quanto ao programa, a meta � chegar a ser nacional. Mas tenho tamb�m outros projetos para os quais preciso de patroc�nio, um deles � a cria��o da R�dio BRU FM na Internet, na qual pretendo disponibilizar todo acervo que tenho desde a �poca do meu pai, com entrevistas. � uma forma de resgate da hist�ria da cidade. Para isto precisamos de patroc�nio.




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