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04/06/06 00:00 - Ag�ncias - Brasil

Banco de c�rebros

Universidade de S�o Paulo mant�m maior cole��o cerebral do mundo, com 1.800 exemplares

Cla�dia Collucci/Folhapress
Quem passa em frente � sala de n�mero 1.351 da Faculdade de Medicina da Universidade de S�o Paulo (USP) na Capital nem imagina que est� diante do maior banco cerebral do mundo. Ali, 1.800 c�rebros de pessoas acima de 50 anos, sadias e doentes, ajudam os cientistas a entender o processo de envelhecimento e as doen�as neurodegenerativas que s�o associadas ao �rg�o.

Bancos estrangeiros mais velhos re�nem cole��es menores. O da Holanda levou 20 anos para juntar 1.000 c�rebros. O de Harvard (EUA), com 28 anos, possui cerca de 1.200 c�rebros. J� o banco brasileiro teve in�cio h� dois anos, ganhou �rea pr�pria duas semanas atr�s e n�o p�ra de crescer. Recebe 100 c�rebros a cada dois meses - m�dia que alguns bancos estrangeiros obt�m por ano.

A generosa oferta � motivada pela coopera��o das fam�lias brasileiras em doar os c�rebros dos seus mortos e pela alta taxa de aut�psias realizadas em S�o Paulo, o equivalente a 45% das mortes. Em outros pa�ses, o �ndice n�o ultrapassa 10%. O Servi�o de Verifica��o de �bitos (SVO) faz 14 mil aut�psias anuais - 60% delas em pessoas acima de 50 anos de idade.

O estudo de c�rebros permite que os pesquisadores rastreiem as altera��es cerebrais provocadas por doen�as e, futuramente, vai possibilitar diagn�sticos mais precoces e tratamentos mais eficazes. Segundo a patologista Lea Grinberg, coordenadora do Projeto de Envelhecimento Cerebral - ao qual o banco est� ligado -, a idade avan�ada traz modifica��es estruturais no c�rebro n�o necessariamente acompanhadas de sintomas. �� dif�cil saber quais as altera��es decorrentes do pr�prio processo de envelhecimento natural e quais s�o as motivadas por doen�as e, portanto, pass�veis de tratamento.��

Grinberg explica que para descobrir o que ocorre no c�rebro doente, quais prote�nas est�o se acumulando e quais fun��es s�o perdidas em diferentes n�veis � preciso compar�-lo com o c�rebro de indiv�duos sadios, que t�m a mesma idade e as mesmas caracter�sticas sociais, �tnicas e profissionais.

Segundo o geriatra do Hospital das Cl�nicas Jos� Marcelo Farfel, um dos coordenadores do banco, 30% dos c�rebros doados, de pessoas sem sintomas de perda de mem�ria, j� tinham algum comprometimento. Estima-se que o in�cio das doen�as de Alzheimer e de Parkinson aconte�a 15 anos antes de os primeiros sinais cl�nicos se manifestarem.

Farfel conta que pa�ses que estudam dem�ncias colecionam c�rebros mais velhos e doentes. �S�o �rg�os de pacientes que, na hora da morte, j� apresentavam a doen�a em est�gio avan�ado, tornando a freq��ncia de casos de controle insuficiente para compara��o.��

No projeto brasileiro, Farfel diz que j� foram observados casos curiosos. Pessoas que apresentavam ind�cios de doen�a de Alzheimer, segundo relatos dos familiares, mas em cujos c�rebros n�o foram encontradas altera��es que justificassem a suspeita.

Outras vezes ocorre o contr�rio: s�o encontradas no c�rebro altera��es aparentemente comprometedoras, mas o respons�vel pelo paciente n�o relata comportamento que sugerisse aquela doen�a.

O banco brasileiro s� aceita c�rebros de pessoas que morreram de formas naturais. Ainda assim, h� exce��es. Mortes por acidente vascular encef�lico de origem isqu�mica ou hemorr�gica, traumatismo craniano, meningite e tumores cerebrais tamb�m s�o exclu�das por comprometer a qualidade dos tecidos cerebrais.

Outro fator de exclus�o � se o morto que n�o tiver um familiar ou um cuidador respons�vel para fornecer informa��es necess�rias relacionadas � sua hist�ria de vida.


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Projeto

O Projeto de Envelhecimento Cerebral da Universidade de S�o Paulo (USP) foi criado em 2004 para estudar as doen�as de Alzheimer e de Parkinson e a depress�o nos idosos, al�m do envelhecimento normal. Sinais de dem�ncia s�o raros em indiv�duos abaixo de 50 anos, mas, acima dos 80 anos, a taxa chega a 25% da popula��o.

�Entender esse processo e ser capaz de diferenciar o envelhecimento normal do patol�gico (senilidade) � o primeiro passo para garantir sa�de aos idosos��, afirma a coordenadora do projeto, Lea Grinberg.

O projeto re�ne professores, m�dicos, alunos e profissionais de sa�de da Faculdade e do Hospital das Cl�nicas e de outras universidades p�blicas do Pa�s. Ao todo, 150 pessoas est�o envolvidas no programa. O laborat�rio tem 15 parceiros, entre eles universidades de Alemanha, Holanda e EUA, o Hospital do C�ncer de S�o Paulo e o hospital Albert Einstein.

No entanto, at� agora n�o conseguiu patroc�nio das ag�ncias brasileiras de fomento a pesquisas. Sobrevive gra�as a recursos vindos do departamento de patologia da USP e das parcerias. Em troca, faz pesquisas de interesse dos parceiros.

O custo mensal do banco de c�rebros � de R$ 10 mil - os pesquisadores n�o ganham pelo trabalho. O banco de Amsterd�, por exemplo, que coleta 80 c�rebros por ano, tem or�amento mensal de 40 mil.

Nos �ltimos dois anos, os pesquisadores j� apresentaram pelo menos 12 estudos em congressos nacionais e internacionais - 30 est�o em andamento. Um deles, que avaliou 161 c�rebros de pessoas com fun��es cerebrais normais, mostrou que as mulheres tiveram maior perda de massa cerebral no in�cio da fase idosa. Entre os homens, isso ocorreu no final. N�o houve diferen�as funcionais entre os dois.


Folhapress




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