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09/04/06 00:00 - Ser

Salvando todas as vidas

Policial do Corpo de Bombeiros e estudante de veterin�ria, Gabriel dedica parte de seu tempo livre conscientizando crian�as a proteger os animais e a natureza

Cristiane Goto
Para adquirir um animal, a pessoa deve ter certeza de que realmente t�-lo e possuir condi��es para cri�-lo de forma adequada. Al�m disso, � necess�rio conhecer algumas t�cnicas b�sicas para se defender no caso de acidentes envolvendo os bichos de estima��o.

A posse respons�vel e a preserva��o de animais � alvo de um projeto volunt�rio realizado por Gabriel Alves Lima, 27 anos, estudante de medicina veterin�ria e policial militar do Corpo de Bombeiros de Bauru. Desde os 15 anos, ele dedica parte de seu tempo ministrando aulas e palestras educativas sobre o tema para crian�as em Escolas Municipais de Educa��o Infantil (Emeis). O objetivo � formar �novas mentes�, afirma ele, em entrevista concedida ao Jornal da Cidade.

�Tudo come�a na inf�ncia. � mais f�cil mudar uma crian�a do que um adulto�, diz ele. Essa �teoria� � comprovada pela pr�pria vida de Gabriel. Ele sempre gostou de animais e da natureza. Aos 12 anos, entrou em um clube que desenvolve atividades ligadas � conserva��o ambiental e ecologia.

H� tempos, ele tem o h�bito de adotar c�es e gatos abandonados. Cuida, deixa-os bonitos e procura donos para os bichos. �Estava com nove cachorros, agora s� tenho tr�s�, diz. Os cuidados adequados com animais e o trabalho educativo desenvolvido por Gabriel � um dos principais enfoques da entrevista. Confira os melhores trechos.

Jornal da Cidade � Como teve in�cio seu trabalho de conscientiza��o sobre cuidados com animais?

Gabriel Alves Lima
� Come�ei a participar, aos 12 anos de um clube denominado Aventureiros, ligado � Igreja Adventista. O grupo desenvolve atividades que v�o desde primeiros-socorros at� aulas sobre natureza e conserva��o ambiental, oferecendo diversos cursos e especializa��es, como arte de acampar, cria��o de cabras e ovelhas, avicultura, arte de contar hist�rias, culin�ria, nutri��o b�sica, adestramento de c�es. Cada idade tem uma cor de uniforme diferente. Aos 15 anos, quando me formei l�der do clube, passei a dar aulas e instru��es sobre como lidar com animais para as crian�as.

JC � Atualmente, de que forma s�o realizadas essas aulas?

Gabriel
� Come�ei a fazer um trabalho junto com a Uni�o Internacional de Prote��o dos Animais (Uipa) em parceria com a Secretaria Municipal do Meio Ambiente nas Escolas Municipais de Educa��o Infantil (Emeis). Ministro aulas b�sicas para as crian�as menores de 5 anos sobre como evitar acidentes com animais pe�onhentos e que aparecem mais em nosso dia-a-dia, entre eles, cobras, aranhas, sapos e c�es agressivos. Utilizo um v�deo elaborado pelo Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) de S�o Paulo, mostrando como evitar grandes acidentes no caso de ataque de cachorros.

JC � Cite algumas dessas t�cnicas.

Gabriel
� Uma delas � ficar im�vel. Com linguagem destinada �s crian�as, o v�deo ensina posi��es de como se proteger. Fiz parte da equipe que socorreu o tenente atacado pelos pit bulls (fato ocorrido no in�cio do m�s passado, em uma ch�cara localizada �s margens da rodovia Bauru-Iacanga, quando dois c�es escaparam de uma propriedade vizinha e provocaram ferimentos de natureza grav�ssima na v�tima). Quando chegamos no local, os pr�prios familiares haviam socorrido o tenente, mas ele poderia ter evitado esse acidente se tivesse ficado quieto.

JC � Como assim?

Gabriel
� O tenente teve uma luta muito grande com os cachorros - a qual come�ou do lado de fora da casa, com os animais grudados nele - e foi se arrastando para dentro da resid�ncia. Se ap�s a primeira mordida, a v�tima ficar im�vel e n�o esbo�ar nenhuma rea��o, o cachorro solta e n�o ataca mais. Quanto mais ela se movimentar, mais o animal vai atacar. Se correr � pior porque a� a pessoa se torna uma presa.

JC � E ficar im�vel impede o risco de acidentes graves?

Gabriel
� Diminui muito. Se a pessoa estiver desmaiada, por exemplo, o cachorro p�ra de atacar. Vou o caso de uma crian�a que pulou em um terreno para pegar uma bola e o cachorro veio ao seu encontro. A� ela fingiu que estava desmaiado e at� nem respirou muito. A crian�a ficou horas naquela posi��o at� o dono do animal chegou. Foi o que salvou sua vida.

JC � O caso envolvendo o tenente atacado pelos pit bulls reacendeu a pol�mica conviv�ncia entre pedestres e animais. Embora a lei municipal 4.430, de 1999, exija a utiliza��o de focinheiras para c�es ferozes, muitos deles passeiam sem nenhuma prote��o pelas ruas e avenidas de Bauru. Como voc� analisa esse cen�rio?

Gabriel
� Na verdade, em algumas situa��es o dono pode ser mais agressivo do que o animal. Tudo depende da maneira como ele cria esse animal. Se o cachorro viver trancado, por exemplo, pode ser tornar um monstro, um le�o numa jaula. Mas se a pessoa andar com esse c�o no meio de crian�as e outras pessoas, ele vai se adaptando e com certeza, se tornar� d�cil e n�o atacar� ningu�m. Quando o c�o � criado em um local fechado e nunca sai para passear, qualquer �escapadinha� que ele der, pode ver uma pessoa diferente e atac�-la. Devido aos in�meros acidentes, houve a necessidade de criar uma lei. Agora � uma necessidade, mas acredito que a nova gera��o ter� mentes novas e mais conscientes.

JC � Esse � o principal objetivo do seu projeto sobre posse respons�vel de animais?

Gabriel
� Sim. � o enfoque desse programa, denominado �Educar � o Caminho�. Nos cursos e palestras, sempre procuro levar uma novidade para as crian�as. Come�o mostrando, por exemplo, um sapo de pel�cia, mas tamb�m fa�o a mesma demonstra��o com um sapo de verdade. Ensino como deve tirar o sapo de casa, caso necess�rio. Al�m disso, falo sobre alguns �mitos�: muitas pessoas falam que o sapo pode fazer xixi nos olhos de algu�m. Na verdade � uma gl�ndula que existe na regi�o das costas do sapo e ele se infla para intimidar as pessoas. Quando outro animal o �abocanha�, por exemplo, ele espreme essa gl�ndula que libera o veneno do sapo, o qual n�o � letal para o ser humano, mas pode causar irrita��o e choque anafil�tico em pessoas al�rgicas ou que t�m muito sensibilidade. Orientamos que se uma pessoa precisar pegar um sapo, deve peg�-lo por tr�s com uma m�o e com a outra, segur�-lo pela frente. �s vezes levo aranha de pl�stico e ensino como capturar sem machuc�-la. N�o � necess�rio pegar a aranha com a m�o, basta utilizar um pote para prend�-la e uma folha de papel ou cartolina. Em seguida, devemos soltar todos esses animais. Nunca devemos mat�-los.

JC � Por qu�?

Gabriel
� Se destruirmos um deles, estaremos prejudicando toda a cadeia alimentar. Se matarmos um rato, por exemplo, vamos prejudicar uma coruja ou outro bicho que se alimenta dele. Se matarmos muitas cobras podemos ajudar a aumentar o n�mero de ratos, etc.

JC � E em rela��o aos gatos, � verdade que eles se apegam mais � casa do que ao dono? Como cuidar deles corretamente?

Gabriel
� Na verdade, os gatos s�o mais apegados a n�s do que o cachorro. Eles t�m uma afetividade maior. Depois que come�ei a estudar um pouco sobre os felinos, descobri que eles s�o t�o apegados ao dono, a ponto de o considerarem como �posse�. Quando um gato se �esfrega� em uma pessoa, ele n�o quer fazer carinho; no p�lo de um gato existem gl�ndulas que permitem deixar seu cheiro por onde passam. � uma forma de dizer aos outros felinos: �esse dono � meu ou essa casa � minha�. Eles fazem seu ambiente e ficam no local.

JC � Al�m das palestras, quais s�o seus pr�ximos projetos?

Gabriel
� Acabando meu curso, pretendo instalar um canil em Bauru, como existe em cidades como S�o Paulo e no Rio de Janeiro. A id�ia � que ele receba diversos animais, desde cavalos at� os cachorros. Os veterin�rios atender�o a pre�o de custo. O objetivo � conscientizar, principalmente as crian�as, formar novas mentes porque tudo come�a na inf�ncia. � mais f�cil mudar uma crian�a do que um adulto.

JC � E as crian�as podem ser multiplicadores na fam�lia e na sociedade.

Gabriel
� Sim. Esses dias uma professora de uma escola em que ministro as palestras educativas me ligou e disse que os alunos haviam capturado uma cobra cega do jeito o qual eu havia ensinado. E eles n�o mataram a cobra. Isso � importante porque sinaliza alguns frutos dessas palestras; � uma coisa que vai marc�-los para o resto da vida. As crian�as vem com a mentalidade de um mundo totalmente errado. Nossa cultura mata boi, porco e galinha. Ent�o matar passarinho ou gato pode ser coisa comum. O projeto �Educar � o Caminho� tem a fun��o de resgatar essa insensibilidade que nossa cultura acaba causando em nossa sociedade.

JC � Voc� costuma trazer animais abandonados para dentro da sua casa. Por que?

Gabriel
� Isso vem de fam�lia, minha m�e e meus irm�os sempre gostaram de animais e de tanto ver o sofrimento dos bichos abandonados, tentamos amenizar trazendo-os para casa. Cuidamos, eles v�o ficando bonitos e depois tentamos arrumar donos para eles. Eu estava com nove cachorros dentro de casa, agora tenho s� tr�s. Al�m disso, a utilidade e o conv�vio com os cachorros, desde que se saiba respeitar seus limites, s� traz benef�cios. Eles trabalham para sociedade. Um exemplo s�o os c�es adestrados do Batalh�o de Choque da Pol�cia Militar. Os Bombeiros tamb�m t�m cachorros treinados para salvamentos e h� c�es usados para guiar deficientes visuais.

JC � No seu dia-a-dia, quais s�o os benef�cios proporcionados pelo conv�vio com animais ?

Gabriel
� Meu trabalho no Corpo de Bombeiros � complicado. Em cinco anos de trabalho, j� perdi a conta de quantas ocorr�ncias atendi; atualmente s�o cerca de seis ou sete por dia. Muitas vezes n�o volto feliz para casa, me deparo com crian�as que morrem acidentes de tr�nsito ou v�timas presas nas ferragens. S�o cenas tristes e n�o volto muito bem para casa. Esse conv�vio com os animais � uma terapia para n�o ficar louco.

JC � Al�m do projeto volunt�rio para cuidar de animais, voc� � bombeiro e est� cursando medicina veterin�ria. Pode-se dizer que seu destino � proteger e salvar vidas?

Gabriel
� Acho que sim. Tenho a inten��o de divulgar um DVD para o p�blico adulto denominado �A Carne � Fraca�, que mostra o que o homem est� fazendo com a natureza. O homem est� acabando com a Amaz�nia e poluindo os rios devido � agropecu�ria. Ele desmata para fazer pasto e isso gera diversos problemas, como efeito estufa, descongelamento das geleiras, polui��o dos len��is fre�ticos � parece que n�o mas a �gua j� est� acabando � e tudo isso devido ao descontrole com a cria��o de animais. Se calcularmos a popula��o de bovinos do estado de Minas Gerais, ela j� ultrapassou a popula��o de humanos.

JC � E quando voc� pretende iniciar esse projeto?

Gabriel
� O p�blico adulto � mais dif�cil de reunir. J� estou passando para meus amigos e tamb�m formando pequenos grupos at� receber mais incentivos. A pr�xima etapa � come�ar a transmitir o DVD para turmas de fisioterapia, enfermagem, veterin�ria e outros cursos universit�rios.




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