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15/01/06 00:00 - Geral

Filho � alento para portadoras de HIV

Estudo da Unicamp revela que as mulheres soropositivas investem mais na sua pr�pria sa�de depois que se tornam m�es

Roberta Mathias
Embora cause uma s�rie de preocupa��es, a maternidade tamb�m � um grande alento para as mulheres portadoras do v�rus da aids, HIV. A constata��o � da psic�loga Eliana Maria Hebling, 51 anos, que defendeu, no final de outubro, tese de doutorado sobre o assunto na Faculdade de Ci�ncias M�dicas (FCM) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). A pesquisadora detectou em seus estudos que ao mesmo tempo em que as m�es sofrem por associarem a gravidez com a orfandade dos filhos, as soropositivas tamb�m encontram na oportunidade de ser m�e um est�mulo para cuidar ainda mais da pr�pria sa�de.

Com o t�tulo �Mulheres e aids: sentimentos associados � maternidade e � orfandade�, Eliana entrevistou 12 mulheres portadoras do HIV com idades entre 20 e 39 anos e diferentes n�veis de escolaridade. �A diferen�a de se fazer uma pesquisa qualitativa � a possibilidade de realizar entrevistas com profundidade, que v�o al�m do sim e n�o. Elas contam casos, falam de sentimentos, cren�as, valores. Foi poss�vel aprofundar o tema�, recorda a pesquisadora.

A pesquisadora foi buscar, dentro do universo escolhido, o que as mulheres pensam dessa dualidade, o desejo de ser m�e e a id�ia, mesmo que hoje mais distante, da poss�vel orfandade. �Se elas planejaram quem cuidaria dos filhos�, exemplifica.

Eliana entrevistou 12 soropositivas, das quais quatro estavam gr�vidas quando receberam o diagn�stico e quatro decidiram ter filhos ap�s tomarem conhecimento da contamina��o. As outras quatro optaram por n�o engravidar, porque temiam transmitir o v�rus para os beb�s. Por�m, elas j� tinham pelo menos um filho. Conforme a pesquisadora, a maioria era casada ou vivia uma uni�o est�vel durante o estudo.

De acordo com a pesquisadora, em todos os casos, a maternidade era a raz�o de vida e por isso, importante tamb�m a ades�o ao tratamento. �Ser m�e � uma coisa que toda mulher deseja, ent�o, elas se preocupavam em tomar os rem�dios para n�o transmitir para o filho�, diz Eliana. Aquelas que j� tinham filhos, optaram por n�o engravidar, mas as novas m�es tiveram dificuldades na hora da amamenta��o.

�Para quem foi m�e, deixar de amamentar � muito forte. Uma delas esqueceu que n�o iria amamentar, comprou cadeira, suti�s apropriados, porque tinha esquecido. Ela sabia de sua condi��o, mesmo assim, instintivamente agiu como se pudesse, mas n�o amamentou�, comenta a psic�loga.

Mas o fato de n�o amamentar, explica Eliana, exp�e a m�e soropositiva, que sofre cobran�as da sociedade porque n�o amamenta seu filho. �Ao serem questionadas por desconhecidos do motivo de n�o amamentarem seus filhos, essas mulheres se viam num beco sem sa�da: ou passavam por relapsas ou expunham a sua condi��o de soropositivas�, esclarece a autora da tese.

Elas se sentiram estimuladas a cuidar melhor da sa�de, como forma de prolongar a vida e acompanhar o crescimento dos filhos. �A maioria procurava n�o pensar na morte, pois isso, segundo elas, seria uma forma de apressar o pr�prio fim.�, afirma. Todas as crian�as nasceram soronegativas.

Eliana Hebling conta que a despeito de procurarem n�o pensar na morte, essas mulheres evidentemente consideravam a possibilidade de os filhos ficarem �rf�os. Diante disso, elas estabeleceram estrat�gias que visavam a proteger as crian�as. Uma delas foi a aproxima��o dos familiares. �Elas passaram a estabelecer acordos com irm�os, pais e padrinhos para que estes viessem a cuidar do filho caso elas morressem. Esse dado mostra o quanto � importante que os servi�os de sa�de que atendem essas mulheres tamb�m trabalhem na orienta��o dos seus familiares�, diz.

Um outro ponto detectado pela autora da tese foi o fato da maioria das mulheres n�o receber apoio do parceiro, que n�o conseguiu lidar com a situa��o de soropositividade da companheira. Assim, muitas acabaram se separando, mas depois encontraram algu�m que as aceitasse e incentivasse. Em poucos casos houve estreitamento no relacionamento original.

Um exemplo que ajuda a explicar a import�ncia da maternidade para essas mulheres vem de outra personagem entrevistada por Eliana Hebling. Essa mulher, conforme a psic�loga, ficou sabendo que era portadora de HIV ao abrir imediatamente o resultado do exame que fora buscar no posto de sa�de. Entretanto, quando foi pegar o exame para saber se o filho era ou n�o soropositivo, ela n�o teve coragem de l�-lo antes de estar na presen�a do m�dico. �A preocupa��o com o bem-estar da crian�a, para essas mulheres, come�a antes da gravidez, passa pelo parto e segue pelo resto da vida�.

Justamente para evitar todas essas dores, d�vidas e preocupa��es � que algumas das mulheres ouvidas pela autora da tese escolheram n�o engravidar. Entretanto, todas elas j� tinham pelo menos um filho quando receberam o diagn�stico de que eram portadoras de HIV. �Para estas, o desejo da maternidade j� havia sido preenchido. Mas fiquei com a n�tida impress�o de que se elas j� n�o fossem m�es, possivelmente teriam optado pela gravidez, mesmo sabendo que eram soropositivas�, arrisca. A orientadora de Eliana Hebling foi a professora Ellen Elizabeth Hardy, professora do Departamento de Tocoginecologia da FCM.




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