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10/01/06 00:00 - Opini�o

Real voca��o do ensino superior

Dados divulgados recentemente pelo IBGE apontam um crescimento significativo de ingressos no ensino superior no Brasil, acentuado com a abertura de novas faculdades e universidades privadas em todo territ�rio nacional. Por�m, tais dados nos impulsionam a perguntar: que tipo de forma��o est� sendo oferecida nestas institui��es? O que e para quem se produz realmente dentro delas? A voca��o primordial do ensino superior � a forma��o integral do ser humano, partindo da abordagem b�sica � l�ngua portuguesa, literatura, filosofia, arte, antropologia, ci�ncias da religi�o � at� a abordagem espec�fica de cada curso. Independente de qual seja a especialidade, o ensino superior tem que necessariamente priorizar estes elementos. Lembrando sempre que o acad�mico hoje formando amanh� estar� lidando com pessoas, seja direta ou indiretamente, o que requer agudo conhecimento, por parte deste profissional, das infinitas possibilidades que circundam o ser humano e a dinamicidade da sociedade.

A autoridade que um profissional tem em rela��o �s pessoas ou situa��es que est�o sobre sua responsabilidade � algo significativo, que se n�o bem administrada pode causar s�rios riscos aos indiv�duos. Pois, uma palavra mal colocada ou um gesto mal feito por parte de um p�ssimo profissional, pode destruir a vida e as esperan�as de uma pessoa para sempre. Isto por si s� � motivo suficiente para n�o oferecermos um ensino mediano e insuficiente em nossas institui��es de ensino superior. Com preocupa��o, notamos hoje que o imperativo determinante da forma��o acad�mica no Brasil � a produ��o de profissionais especializados para o mercado de trabalho, quando deveria ser prioritariamente a forma��o de pesquisadores. A grande diferen�a entre um e outro � que enquanto o profissional especializado reproduz conhecimento adquirido em sala de aula, o pesquisador produz conhecimento atrav�s da pesquisa, o que particularmente para a na��o e a ci�ncia � mais interessante, pois gera desenvolvimento ao pa�s. No Brasil ainda � muito dif�cil a algu�m que almeja ser pesquisador encontrar incentivos acad�micos e financeiros suficientes para emprenhar estudos s�rios. Sempre esbarra em tr�mites burocr�ticos e poucos incentivos financeiros, o que obriga a muitos a produzir ci�ncia fora do pa�s. Em todo territ�rio nacional os grandes centros de pesquisa est�o restritos �s poucas universidades, quase sempre p�blicas ou comunit�rias. N�o criticamos aqui de forma alguma a necessidade de se ter profissionais atuando no mercado, sabemos o quanto � necess�rio para a economia e a sociedade a m�o de obra especializada para uma melhor qualidade de vida de todos n�s. E como � importante para cada pessoa ter uma boa profiss�o que lhe d� �xito e prosperidade. No entanto, o mercado n�o deve ser um fim em si mesmo na forma��o acad�mica, pois al�m da riqueza econ�mica temos que produzir riqueza intelectual, cient�fica, art�stica e cultural para encontrarmos caminhos aos in�meros problemas de desigualdade em nosso pa�s, e isto s� � poss�vel pela pesquisa.

O que assistimos, na educa��o superior, � um cen�rio em que a necessidade de mercado orienta e determina o que a grade curricular deve ensinar ao indiv�duo, ocasionando uma invas�o na autonomia acad�mica e o empobrecimento da forma��o dada ao discente. A educa��o est� a servi�o do mercado quando, na verdade, deveria estar a servi�o do conhecimento. Devemos repensar os conceitos determinantes do ensino superior no Brasil, estarmos atentos ao que realmente formamos na universidade e a servi�o de quem estamos formando ou produzindo dentro dela. Se por um lado � importante termos pessoal bem formado para executar fun��es determinadas, por outro, precisamos de autonomia para formar sujeitos que possam recriar novas formas de pensar a realidade. Somente uma forma��o hol�stica que priorize a pesquisa e a extens�o poder� dar respostas �s infinitas indaga��es do homem e do mundo contempor�neo, e o lugar pr�prio por voca��o a tudo isto � a educa��o superior aut�noma.


O autor, Fausi dos Santos, � fil�sofo e professor de Teoria do Conhecimento da Universidade do Sagrado Cora��o. [email protected]




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