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08/01/06 00:00 - Geral

Entrevista da semana: Se CPIs n�o conclu�rem nada, Lula ser� imbat�vel, diz analista

Marcelo de Souza
Um ano politicamente dif�cil, que ter� como �divisor de �guas� para a defini��o dos rumos eleitorais partid�rios - e a �sorte� de Lula nas urnas - aquilo que for conclu�do pelas Comiss�es Parlamentares de Inqu�rito (CPIs) em andamento no Congresso Nacional, como as do Mensal�o e dos Correios. � o que pensa o professor e cientista pol�tico bauruense Maximiliano Martin Vicente, para quem o atual Presidente da Rep�blica ser� imbat�vel nas elei��es caso as CPIs terminem em �pizza� e n�o cheguem a resultados convincentes.

Ao analisar as perspectivas pol�ticas nacionais para 2006, Vicente entende que as elei��es devem realmente polarizar-se entre os tucanos e petistas e que n�o enxerga possibilidades, apesar de n�o descartar o surgimento de �azar�es�, do lan�amento de uma �terceira via� para fazer frente ao PSDB e PT. Tamb�m considera que o prefeito de S�o Paulo, Jos� Serra (PSDB), cometer� um �suic�dio� pol�tico caso aceite disputar a Presid�ncia da Rep�blica e que o governador de S�o Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), pode pagar o pre�o nas urnas de ter sua imagem vinculada ao Estado mais rico da Na��o.

O analista tra�a, ainda, um perfil do governo Lula, � enf�tico ao afirmar que o modelo neoliberal de gest�o est� pr�ximo do fim e defende como uma das sa�das para o Brasil um tema pol�mico: seguir o exemplo dos �hermanos� argentinos e decretar o �calote� de parte da d�vida externa. Al�m disso, o professor sustenta, diante do atual quadro pol�tico bauruense, n�o ver condi��es para o munic�pio eleger um representante � C�mara Federal. Leia a seguir os principais trechos da entrevista:


JC - Tendo em vista que 2006 ser� marcado pelas elei��es, o que podemos esperar politicamente para este ano?

Maximiliano
-Vai ser um ano muito complicado porque h� um processo ainda em andamento e que n�o chegou ao fim, que s�o as CPIs. Conforme as conclus�es das CPIs, o rumo do Pa�s tender� para um lado ou outro. Se ela chegar � conclus�o de que existiu o mensal�o e a coniv�ncia do Presidente da Rep�blica e do alto escal�o do PT, sem d�vida o PT chegar� muito enfraquecido ao per�odo eleitoral. Por outro lado, se as CPIs n�o conseguirem provar detalhadamente que havia coniv�ncia e esses grupos n�o participaram ativamente, a� o quadro � outro. Da�, talvez, o PT tenha mais chances de concorrer aos cargos. De qualquer forma, o que est� muito claro � que h� um acirramento de posi��es. De um lado est� o PSDB, que n�o abre m�o de seus princ�pios, e do outro o PT. S�o os dois partidos que hoje est�o em embate e que, teoricamente, s�o os mais fortes para 2006.


JC - A for�a do Lula em 2006 e sua eventual candidatura estariam, ent�o, intimamente ligadas aos resultados concretos das CPIs?

Maximiliano
- Sem d�vida. O que est� acontecendo com ele � um massacre na credibilidade. Tudo que ele fala a oposi��o bate em cima, algumas coisas com raz�o e outras sem. Por exemplo, a quest�o do caixa dois. Desafio que algu�m prove que algum partido est� isento dessa pr�tica. Nesse sentido, ningu�m tem moral para falar disso, bem como de corrup��o. O governo Fernando Henrique vendeu as estatais a pre�o de banana e comprou sua reelei��o. Em fun��o disso, todo mundo est�, de alguma forma, no mesmo barco.

Agora, o discurso pol�tico do Lula foi muito forte porque aparecia como algo esperan�oso � popula��o. N�o s� pela quest�o do partido, que aparecia inc�lume a essas quest�es de corrup��o, como tamb�m em um contexto de uma economia j� planejada, algumas coisas definidas, o que ele se prop�s a fazer. Na verdade, n�o fez nada. Mas h� dois cen�rios poss�veis. Se Lula sair imune e ficar impune das CPIs, dar� a volta por cima e a� ser� um candidato imbat�vel. Agora, com todo esse desgaste fica muito dif�cil para ele recuperar-se e ser candidato. Se a CPI n�o chegar a uma conclus�o evidente, e h� possibilidade que isso ocorra, o que a oposi��o ir� falar? A�, com certeza, ele seria imbat�vel nas urnas porque entraria com o discurso da pol�tica social exibindo os n�meros de seu governo relativos � estabilidade econ�mica, como a infla��o mais baixa desde 1994, gera��o de empregos e outras muni��es para gastar � vontade. Mas creio que esse cen�rio � bastante improv�vel e, no andar da carruagem das CPIs, ele ainda ter� de dar muitas explica��es.


JC - Pode-se deduzir a partir disso que o senhor n�o acredita que as CPIs terminar�o em pizza?

Maximiliano
- Creio que n�o em fun��o de ser um ano totalmente at�pico e dos interesses pesados envolvidos. Al�m disso, se elas n�o chegarem a conclus�es convincentes, a desmoraliza��o ser� algo irrepar�vel. Nesse quadro, continuo dizendo que Lula � um candidato muito forte. Tanto que ele n�o anunciou sua candidatura at� agora porque est� esperando os resultados das comiss�es, o que nos faz deduzir que ele n�o � t�o inocente assim como diz que �. Ele est� sabendo de muita coisa. De qualquer forma, em virtude desses acontecimentos, a popula��o n�o pode deixar de votar nem muito menos de envolver-se em pol�tica. � justamente o contr�rio, pois est� na hora de preocupar-se cada vez mais para sermos menos iludidos. Isso � cidadania e temos de aprender aos poucos. Sem essa participa��o continuaremos nas m�os de bandidos.


JC - A tend�ncia � haver polariza��o entre PT e PSDB nas elei��es?

Maximiliano
- Sim, pois s�o os dois com maior capacidade para formar alian�as. Hoje, as alian�as mais fortes seriam com o PSDB, pois o PT n�o conseguiu um conglomerado de grupos de esquerda. E mesmo os partidos de esquerda que eventualmente poderiam apoi�-los s�o muito fracos. E a� tem uma s�rie de partidos que est�o flutuando, notadamente o PMDB, que conforme os desfechos das CPIs tender� para um lado ou outro. Al�m disso, tradicionalmente o PSDB tem mais facilidade para compor com o PFL, que � um partido forte e facilmente capta outros. A� sobra o PDT, que seria uma alternativa a esses dois partidos mas que n�o tem como bancar um quadro e estrutura para uma candidatura. Se esse quadro apontar para uma situa��o ruim para o PT em rela��o �s CPIs, creio que a disputa ser� muito dif�cil e acirrada, com margens m�nimas e diferente do que apontam as pesquisas hoje.


JC - Ent�o o senhor n�o acredita que o prefeito de S�o Paulo, tucano Jos� Serra, possa manter-se � frente de Lula at� as elei��es? Se a elei��o fosse hoje ele o venceria...

Maximiliano
- Hoje, provavelmente. Mas, atualmente, o PSDB tem dois candidatos � Presid�ncia da Rep�blica, que s�o o Serra e o governador Geraldo Alckmin. N�o sei se o Alckmin abriria m�o de sua candidatura e apoiaria Serra integralmente ou faria uma composi��o com ele. At� porque o Serra, quando assumiu o comando da Prefeitura paulistana, foi muito infeliz ao prometer que cumpriria seu mandato at� o fim. Isso, praticamente, foi o enterro pol�tico dele.


JC - Assim, na hip�tese do Serra disputar realmente a Presid�ncia da Rep�blica, ele estaria cometendo um suic�dio pol�tico?

Maximiliano
- Sim. � s� pensar para quem ele teria de dar satisfa��es nesse caso. Somente para o maior col�gio eleitoral e a maior cidade do Pa�s. O caminho natural para ele seria acabar o mandato frente � prefeitura e depois concorrer para outro cargo, descartando a Presid�ncia. Por outro lado, o Alckmin � muito novo e seu grande problema � que ele representa S�o Paulo e isso, fora do Estado, � muito complicado, ao passo que Serra tem mais tr�nsito e � mais conhecido no Pa�s, o que o deixaria com mais chances. Tamb�m n�o sei se o Alckmin teria a disposi��o de bandear seus votos para o lado do Serra, porque a� ele ficar� em um per�odo muito complicado. Ele poder� sair para deputado federal, um cargo inexpressivo, ou senador, onde ter� de concorrer com candidatos muito fortes. Assim, Alckmin ficaria em uma situa��o pol�tica muito inc�moda.


JC - O senhor n�o vislumbra o surgimento de nenhuma terceira via pol�tica para fazer frente �s eventuais candidaturas � presid�ncia do PT e PSDB?

Maximiliano
- (Rindo) � uma pergunta que n�o gostaria de responder, mas creio que existem chances disso ocorrer. Se o PSDB racha entre o Serra e o Alckmin, que � algo que pode acontecer, e se o PT continuar enfraquecido, o caminho estar� aberto para os azar�es.


JC - Na pol�tica local, o senhor acha que Bauru corre o risco de n�o eleger outra vez nenhum representante para deputado federal e de haver pulveriza��o dos votos entre v�rios candidatos?

Maximiliano
- Corremos sim, a menos que haja um candidato muito forte. Creio que para a Assembl�ia estadual possamos conseguir at� dois, mas federal, no quadro pol�tico atual da cidade, n�o vejo chances nem com os votos da regi�o, que � disputada por outros concorrentes. N�o vejo alternativa.


JC - O senhor consideraria populista o governo do PT nos �ltimos tr�s anos? Ou ele se tornar� populista durante esse ano, pois j� anunciou que liberar� milh�es de reais para gastar em �reas estrat�gicas, como as estradas?

Maximiliano
- At� agora n�o foi populista, pois o que marca o populismo s�o concess�es significativas � popula��o. Se voc� pegar a hist�ria do populismo no Pa�s, com Get�lio Vargas, Juscelino Kubitschek e J�nio Quadros, eles sempre tiveram o car�ter de realizar obras sociais, coisas que o Lula n�o fez. Nesses tr�s anos, o governo foi extremamente conservador em termos de pol�tica econ�mica, mais at� que o de Fernando Henrique Cardoso. Mas h� dados interessantes em rela��o � pol�tica social que ele vem desenvolvendo e � a� que ele apela para o debate pol�tico mostrando n�meros em que ele ganha de qualquer um. Ele criou mais empregos que os dois mandatos do governo Fernando Henrique Cardoso e est� conseguindo uma pol�tica social de distribui��o de renda como nunca foi feita no Pa�s. S� que a quest�o pol�tica atrapalha. Por isso, do meu ponto de vista, as obras que ele pretende realizar esse ano ser�o totalmente desplanejadas. Portanto, ser� dinheiro jogado fora, como a inten��o de tapar os buracos das estradas. � preciso sim ter uma pol�tica de infra-estrutura com investimentos constantes.


JC - Falamos h� pouco em uma terceira via pol�tica. H� chances do Brasil adotar uma terceira via econ�mica que n�o privilegiasse exacerbadamente nem princ�pios neoliberais nem socialistas, corrente comentada por diversos analistas pol�ticos? H� essa terceira via em andamento em n�vel mundial?

Maximiliano
- Infelizmente, vejo que n�o. Basta ver quando o Brasil se inseriu no processo neoliberal. Foi na �poca do Collor. Ele ditou os rumos neoliberais para o Pa�s e o que fazem os governos Fernando Henrique, Itamar Franco e Lula � continuar e aprofundar esse modelo, que � mundial e vem com um discurso muito forte no sentido de se intitular um pensamento �nico, algo que � muito perigoso. N�o � que seja uma realidade �nica, mas apenas � a que est� predominando. E quais seriam as alternativas a ela? Hugo Ch�vez na Venezuela? Evo Moralez na Bol�via, que � uma inc�gnita? Cuba? China? N�o sei. O que est� muito claro � que esse modelo atual est� gerando grandes descontentamentos e caminhando para um fim muito pr�ximo. Acredito nisso porque nunca houve tantas desigualdades como as geradas por esse modelo atual.

E, dentro das pr�prias institui��es que o sustentam, como o Banco Mundial e Fundo Monet�rio Internacional (FMI), j� se come�a a falar que � preciso combater a pobreza. E s� se faz isso distribuindo renda, o que � imposs�vel no neoliberalismo sem que se desenvolva uma pol�tica de taxa��o grande sobre as propriedades e os capitais, seja nacional, internacional ou especulativo, e repasse � popula��o mais carente. Ocorre que esse modelo n�o prev� essa alternativa, mas por outro lado, v�-se descontentamentos cada vez maiores. Ou d�-se uma resposta a eles ou caminha-se para o fracasso. A� surge outra oportunidade que seria voltar a atacar pontos como a cidadania, �tica e responsabilidade, temas que come�am a reaparecer e serem resgatados mesmo dentro das pr�prias institui��es que bancam o modelo atual.


JC - Ent�o o senhor sugere que valeria a pena fazer como a Argentina, que declarou morat�ria � d�vida externa e no ano passado registrou um crescimento econ�mico muito maior que o Brasil?

Maximiliano
- A Argentina cresceu, mas � preciso tomar cuidado nessa an�lise. Ela cresceu acompanhada de uma taxa de infla��o de 12%, o que � perigoso. O combate � infla��o foi o mesmo discurso do Collor, Fernando Henrique e Lula. Tem de se combater a infla��o sim, mas isso n�o significa tirar dinheiro de circula��o, porque nesse Pa�s se paga impostos demais. � preciso pegar os impostos e torn�-los produtivos, que � o que a Argentina n�o est� conseguindo fazer. O crescimento argentino vem de onde? De poupan�a interna, de investimentos do Estado, porque n�o pagou a d�vida, mas com aumento da infla��o, que � o perigo que vejo para 2006. Nesse quadro, vejo que � muito interessante que se realizasse, como a �ltima grande medida do Lula, um planejamento de investimentos. Apesar de n�o ter moral para isso, ele teria de chamar a sociedade civil, os empres�rios, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e os setores produtivos e decidir o que seria melhor fazer nesse Pa�s com o dinheiro para investir. Seria aquilo que o PT sempre fez, o tal de Or�amento Participativo. Mas isso ficou atropelado pelo processo, pois Lula deslumbrou-se pelo que podia fazer e cumpriu os compromissos internacionais, de forma exemplar e como nenhum outro pa�s o fez, em troca de ficarmos literalmente a ver navios.


JC - Mas ent�o o Brasil deveria dar um �calote� na d�vida externa?

Maximiliano
- Acho que a morat�ria deveria ser declarada para uma parte dela. Para outra n�o, pois � muito dif�cil e at� a Argentina est� pagando um pouco. O que deveria ter sido feito � o investimento no setor produtivo e na educa��o. N�o tem outra sa�da. � preciso investir na produ��o de soja, tecnologia, petr�leo e em �reas estrat�gicas junto com um projeto educacional. Fazer isso � dar um salto de qualidade, mas a m�dio e longo prazos, o que nenhum governante gosta de fazer, pois os frutos s�o outros que colhem. Mas governar � planejar. � poss�vel declarar o calote e ainda investir, pois � muito dinheiro que est� sobrando hoje para o pagamento da d�vida. E esses recursos podem gerar mais dinheiro, desde que se produza mais, aumentando as exporta��es e criando um campo para controlar as importa��es. Ou seja, � voc� assumir uma posi��o estrat�gica no Pa�s e mostrar que quem manda no Brasil somos n�s, e n�o o FMI e mais ningu�m. Dever�amos fazer como a Argentina, que falou que podia pagar uma quantia m�xima ou nada. Foi uma quest�o de escolha pol�tica.




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